Impactos da pandemia

Sete a cada dez famílias estão sem notícias dos parentes presos

Estudo da FGV revela que, com medidas de restrição contra o novo coronavírus, 69,6% dos familiares não têm informações dos detentos; condições de saúde e higiene são grandes preocupações

Por Queila Ariadne
Publicado em 18 de julho de 2020 | 19:16
 
 
 
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Sete a cada dez famílias dos presidiários estão sem nenhum contato ou infromação dos parentes presos, 79,5% perderam renda durante a pandemia e  um terço (34%) está com dificuldades financeiras para se alimentar. O levantamento foi feito pelo Núcleo de Estudos da Burocracia da Fundação Getulio Vargas (NEB-FGV), em parceria com a Associação de Familiares e Amigos de Presos e Presas (Amparar), com base em dados de São Paulo. Mas, segundo o especialista em assuntos carcerários, Fábio Piló, o estudo reflete a realidade de Minas Gerais, que tem hoje 220 casos confirmados nas 194 unidades prisionais do Estado.

O estudo indica que preocupação com a saúde dos presos é um dos maiores impactos para as famílias, agravado pela falta de informações e pela dificuldade em enviar kits de higiene, uma vez que as visitas estão restritas para conter a disseminação. Segundo os familiares ouvidos, 53,7% dos presos apresentam algum problema respiratório ou cardíaco, o que os coloca no grupo de risco para a Covid-19.

“Muitos deles possuem problemas respiratórios, que é uma realidade do sistema prisional, especialmente em razão do ambiente completamente degradado e inóspito. E as aflições referem-se à falta completa de informações, tendo em vista que a visitação online foi executada em pouquíssimas unidades e para pouquíssimas pessoas privadas de liberdade”, avalia Piló.

A higiene é outra preocupação recorrente, pois mais da metade (56%) não sabem responder se os detentos têm recebido máscaras e outros itens, tão importantes na prevenção da Covid-19. “Estou preocupada porque não sei notícias dele e não estou podendo ir visitar para saber como ele está e do que está precisando. Não sei se ele está bem de saúde ou não”, diz um dos depoimentos colhidos pela pesquisa, que entrevistou 1.283 famílias com parentes em 126 unidades prisionais diferentes, em São Paulo.

 Com as restrições das visitas, os familiares não estão conseguindo enviar os kits de higiene para dentro das prisões, nem saber se os detentos estão recebendo os materiais necessários. O estudo indica que  como máscaras e itens de higiene. “Eles têm dificuldade pelo valor da aquisição dos produtos, bem como o envio, que supera os R$ 30 via Sedex. Esse valor, para o familiar do preso, conforme o próprio estudo apontou para a precariedade financeira, representa muito, pode ser o almoço de uma semana, a alimentação do filho”, destaca Piló.

Segundo dados da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), por meio do Departamento Penitenciário de Minas Gerais (Depen MG), o índice de contaminação é inferior a 0,5%, com 220 casos num universo de 60 mil custodiados.

“As alas em que se encontram foram isoladas, desinfectadas e todos servidores e demais detentos do local usam máscaras de forma preventiva”, afirma a Sejusp, por meio de nota.

 

A Sejusp informa que, apesar da suspensão das visitas, os kits com itens de higiene e medicação estão sendo entregues pelas unidades. Entre as medidas de segurança adotadas, foi adotado um modelo de circulação restrita de detentos no período de pandemia, assim como um regime especial para novos presos.

“Todas as pessoas presas em Minas Gerais estão sendo encaminhadas para uma unidade específica em cada região e ficam, pelo menos, 15 dias, em quarentena e observação, evitando possível contágio caso fossem encaminhadas de imediato para outras unidades”, explica a Sejusp. A pasta informa que a limpeza e desinfecção dos ambientes foi reforçada e destaca que o sistema prisional tem produzido máscaras para uso próprio.

 

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