A palavra antipatia vem do grego “antipatheia” e designa um sentimento de aversão. Sob o ponto de vista da psicologia analítica de Carl Jung, “há, em todo ser humano, uma tendência a projetar material inconsciente, seja ele agradável ou não à consciência”, explica Adelaide Pimenta, psicóloga clínica e analista junguiana.

“Algo em mim de que não gosto, que não aprovo ou de forma oposta, valorizo, desejo, mas não tenho consciência, é mais bem-visto fora de mim do que pertencendo a mim mesmo. Um objeto (pessoa, animal ou coisa) pode servir de ‘portador’ dessa aversão ou atração”, diz.

Segundo ela, se a pessoa não tem consciência de suas características negativas, no caso de sentir uma antipatia “gratuita” por alguém, provavelmente vai “usar” essa pessoa como um “portador” de suas próprias características, não assumidas e integradas. E é claro que a pessoa em si, de forma objetiva, também possui características positivas que não foram identificadas por ela”.

Adelaide ressalta que, mesmo quando a pessoa em questão tem algo ou algum comportamento que seja visivelmente inadequado, ela se apresenta um sentimento de aversão exagerada, é um indicador de que nela também estão presentes, de modo inconsciente, aquelas características.

“É sempre muito mais fácil ver o defeito no outro e querer reformar ou reabilitar o outro. Da mesma forma, se sentimos uma afeição ‘gratuita’ por alguém, algo em nosso inconsciente entrou numa ressonância positiva com essa pessoa, muitas vezes de forma objetiva, lidando com o que ela mostra e, muitas vezes, de forma subjetiva, ou seja, a pessoa pode nem ser tudo aquilo que sentimos”, analisa.

A antipatia encontra explicação até mesmo na máxima grega do templo de Delfos: “Conhece-te a ti mesmo”, do filósofo Sócrates, e que continua atual e cada vez mais necessária nos dias atuais. (AED)