Faz um ano que dezenas de milhares de brasileiros foram às ruas de 12 capitais gritar contra o aumento do preço – e as péssimas condições – do transporte público, contra a corrupção, contra as mazelas da saúde e da educação e, principalmente, para tirar do peito uma revolta generalizada que nem mesmo os manifestantes conseguiam explicar bem.

Em 2013, os brasileiros mostraram uma capacidade de união impressionante – do tipo que não se via desde o movimento das Diretas Já, em 1984.

“Os protestos mostraram que as pessoas podem conseguir seus objetivos indo às ruas, sem depender dos gabinetes. Eles conseguiram acabar com um conformismo que existe há muito tempo no país, e levou ao empoderamento das pessoas”, avalia o jornalista Piero Locatelli, autor do livro “#VemPraRua”.

Foi pensando nesta sensação de poder que muita gente não hesitou em prever manifestações gigantescas e violentas durante a Copa do Mundo. O último mês, porém, apesar de ter começado com protestos expressivos, foi dominado por atos pequenos e cada vez menos frequentes.

Na análise de Locatelli, os protestos questionando a Copa minguaram por uma série de fatores. “Um deles é a falta de uma pauta concreta que unisse as pessoas. Outro fator é a campanha extrema de criminalização dos movimentos sociais. Os black blocs foram a muleta para que os jornais se voltassem contra as mobilizações, e a muleta para que as forças de diferentes governos desrespeitassem direitos de livre manifestação”, afirma.

Para o ativista Bruno Cava, autor de “A Multidão Foi ao Deserto: As Manifestações no Brasil em 2013”, o problema é outro. “É muito difícil organizar protestos durante uma Copa do Mundo, que dirá no país do futebol. O governo estava morrendo de medo deles e investiu pesado numa estrutura gigante de repressão política, monitoramento de ativistas e publicidade pró-Copa. Além disso, não houve qualquer unidade quanto à linha de ação, e muitos grupos preferiram não ir pra rua”.

Após criar uma obra cujo objetivo é passar as experiências de quem viveu aqueles momentos, ele explica que foi um erro achar que os movimentos de 2013 se repetiriam neste ano.

“Em momento algum as ruas se esvaziaram: é que as pessoas continuaram se organizando e fortalecendo as redes de outras maneiras, que elas avaliam mais produtivas e construtivas”, disse.

Só se repete em 2015. Para o professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Marcos Nobre, que escreveu o livro “Choque de democracia – Razões da revolta”, os movimentos só devem reaparecer em 2015. “Não foi por acaso que os protestos aconteceram em um ano sem eleições. Esse tipo de movimento não quer ser simplesmente eleitoral e partidário”, diz o professor.

Nobre foi um dos primeiros a lançar sua avaliação das manifestações. Ele estava com o livro pronto em apenas dez dias. “Isso só foi possível porque eu já estava desenvolvendo uma pesquisa sobre a redemocratização brasileira havia seis anos”, diz.

Em sua obra, Nobre compara as manifestações de 2013 com o impeachment de Fernando Collor, em 1992, e o movimento pelas Diretas Já, em 1984. “Nas duas situações, as pessoas deixaram as diferenças de lado em nome do objetivo comum. Em junho de 2013, o se que viu é que todo mundo foi para as ruas com todas as diferenças”, afirma.