A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) liberou o uso de garrafas PET para fabricação de novas embalagens de alimentos. A norma, publicada ontem, abre caminho para instalação de uma fábrica de embalagens, empreendimento estudado por mais de uma empresa no país, entre elas a Coca-Cola.

Segundo informações da própria Anvisa, cerca de 184 mil toneladas de garrafas PET deixaram de ser recicladas no país no ano passado. A autorização deve ampliar muito também o interesse de catadores de materiais recicláveis pelo produto. Segundo o administrador da Asmare, em Belo Horizonte, Osvaldo José de Paula Júnior, hoje menos de 30% do material que chega à associação é de PET.

"O número pode aumentar se tiver valorização do preço e se tiver compra garantida", acredita. Enquanto o quilo de latinha de alumínio na capital rende ao catador entre R$ 3 e R$ 3,50, o de PET não passa de R$ 0,45.

Regras

Segundo as novas normas, o plástico resultante da reciclagem deve ser registrado na Anvisa e o rótulo obrigatoriamente deve trazer o nome do produtor, número do lote e a expressão "PET-PCR" (pós consumo reciclado).

Em nenhuma hipótese a mesma garrafa pode ser reutilizada. Depois de limpa, ela deve ser reduzida a flocos para dar origem a outra embalagem - ainda que seja uma nova garrafa PET. A reivindicação para reciclar PETs não é nova, mas a Anvisa só a liberou agora, de um lado pressionada pelo acordo firmado pelos países do Mercosul, no final de 2007; e, por outro, pelo surgimento de tecnologias para descontaminar e limpar as garrafas.

O comunicado da Anvisa sobre o assunto informa que quatro empresas já apresentaram pedidos para utilizar as tecnologias: duas no Rio de Janeiro, uma em São Paulo e uma na Bahia. Os nomes das empresas não foram informados.

Muito tempo

As garrafas PET levam mais de 100 anos para se decompor, outra justificativa para os defensores da reciclagem. Hoje, o país reaproveita 51% das garrafas PET para usos, como fabricação de tecidos, tintas, tubos e resinas.

O maior percentual conhecido é registrado no Japão, onde 62% é reciclado. De um total de 175 entidades que reciclam PET, mapeadas pela Associação Brasileira da Indústria do PET (Abipet), 12 estão em Minas. O maior número está em São Paulo (63). Em Belo Horizonte, todas as garrafas PETs entregues ao caminhão de lixo vão para o aterro sanitário e têm o mesmo destino dos restos de comida e entulhos de construção.

Apenas as PETs recolhidas na coleta seletiva (só oito bairros da capital) são encaminhadas para associações de catadores.

Coca-cola

Procurados pela reportagem de O TEMPO ontem, os representantes da Coca-Cola no Brasil disseram que ainda não há confirmações sobre a fábrica. Uma das hipóteses é investir em unidade produtiva própria.

As outras admitidas pela Coca-Cola são a associação com outra empresa na produção, ou continuar comprando embalagens de terceiros. Em entrevista concedida a O TEMPO há duas semanas, o diretor de Meio Ambiente da empresa no Brasil, José Mauro de Moraes, disse que o país terá mais de uma fábrica de PEts recicladas.

Pesquisas feitas na Coca- Cola apontam para consumo de até 15 mil toneladas anuais para uma fábrica média. Cada uma custaria R$ 25 milhões. Há quatro meses, a Coca-Cola inaugurou sua primeira fábrica de produção de embalagens PET recicladas na Carolina do Sul, nos Estados Unidos.

Assim que a fábrica estiver funcionando, a Coca-Cola e outras empresas interessadas passarão a aderir ao sistema "garrafa por garrafa". Em vez de comprar plástico virgem, elas usarão o resíduo como matéria-prima para fabricar uma embalagem semelhante.