"Em Minas Gerais, diferente do que se vê em outros Estados, viaturas da polícia entram e saem dos morros sem nenhuma retaliação. E assim permanecerá". A declaração do Tenente-coronel e chefe de comunicação da Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG), Flávio Santiago, destaca o esforço da megaoperação das forças de segurança que terminou com 14 prisões de suspeitos de integrar o Terceiro Comando Puro (TCP) nesta quarta-feira (27 de novembro). A facção carioca que usa símbolos evangélicos passou a liderar o tráfico no aglomerado Cabana do Pai Tomás, na região Oeste de Belo Horizonte, há pelo menos quatro anos.
O TCP é uma das maiores organizações criminosas do país e tem integrantes espalhados por diversos Estados. Aliada do Primeiro Comando da Capital (PCC) e inimiga do Comando Vermelho (CV), a facção tende a reproduzir métodos cariocas, como a associação com símbolos cristãos, a ameaça aos moradores por assistencialismo (doações e oferta de serviços básicos, como internet e gás) e, até mesmo, aproximação com milícias. Essa ameaça provocou uma reação das forças de segurança mineiras em barrar o avanço do esquema de tráfico do Rio em Minas Gerais.
"Nós não permitiremos qualquer grande conexão de organizações criminosas que venham segmentar nossas comunidades, tentar implementar milícias ou qualquer outro tipo de situação. Temos reforçado as nossas divisas e a integração das forças de segurança. Essas grandes organizações, mesmo que tentem, não fazem o domínio em Minas", afirma o tenente-coronel Flávio Santiago.
De fato, em entrevista a O TEMPO em maio deste ano, a professora do programa de pós-graduação em sociologia da Universidade Federal Fluminense (UFF) Christina Vital da Cunha, que também é autora do livro “Oração de Traficante: Uma Etnografia”, pontuou que essa dinâmica criminal, com dominação territorial faccional por meio de símbolos, tem sido notada especialmente com a entrada do TCP em outros Estados do Nordeste e em BH. Entretanto, a especialista alertou sobre outra faceta da facção rival do CV que ameaça ser “importada” para Minas: a relação com milícias.
“Temos que lembrar que o Terceiro Comando Puro tem, em várias localidades, uma relação já documentada com integrantes de milícias cariocas. É importante entender essa dinâmica do crime e como ela vai somando forças em torno de um interesse comum, que é o ganho cada vez maior de territórios. Isso, porque a dominação territorial significa mais e mais dinheiro arrecadado, com as várias fontes que vêm dessas atividades criminais, que não são só a venda de droga”, destacou Christina à época.
Megaoperação
A megaoperação das forças de segurança de Minas Gerais contra o Terceiro Comando Puro (TCP) prendeu 14 integrantes da organização criminosa nesta quarta-feira (27 de novembro), sendo 10 deles líderes com vasta atuação no Estado mineiro.
O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) garante que a direção do TCP em Minas foi desmantelada, apesar de três investigados seguirem foragidos. Um deles é Rafael Carlos da Silva Ferreira, o Paraíba, conhecido por ser um dos traficantes “mais perigosos de Minas”, que estaria escondido em uma favela do Rio de Janeiro.
Ao todo, 188 tabletes de maconha foram apreendidos, além de um arsenal no território mineiro: um fuzil, 10 pistolas, dois revólveres e milhares de munições. Já os celulares dos presos vão auxiliar no avanço das investigações.
“A alta cúpula da organização criminosa instalada em Minas foi presa. A operação vai continuar na busca incessante pelos três foragidos”, garante Paula Ayres, promotora de Justiça do Gaeco.