O aumento de 270% nos casos de raptos de bebês e crianças de até 11 anos em Minas Gerais, nos últimos três anos, está relacionado a questões familiares. É o que afirma o tenente-coronel e chefe de comunicação da Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG), Flávio Santiago. O comandante garante que o histórico das ocorrências é, praticamente, formado por casos de disputa da guarda dos pequenos entre pais, avós e outros parentes. “São situações em que um familiar pega a criança e não devolve. Não tem a ver com aquele imaginário de rapto por desconhecidos em praças e shoppings. População pode ficar tranquila, não tem gravidade”, cravou. 

O sequestro de uma bebê recém-nascida em um hospital de Uberlândia, no Triângulo Mineiro, na última terça-feira (23 de julho), é, no entanto, um caso que foge do “padrão” desse tipo de crime. Santiago analisa que, essa situação, em específico, envolveu outras particularidades. “O caso da médica tem traços de questões de saúde mental e está ligado ao sistema de segurança do estabelecimento, mais do que de segurança pública”, pondera. A neurologista suspeita do rapto, Claudia Soares Alves, de 42 anos, está presa. A defesa alegou insanidade e disse que a mulher sonhava em ter uma menina

Mas ‘atos falhos’ também podem ocorrer, segundo o comandante 

Apesar da maioria dos registros de “subtração de incapaz” no Estado não envolver violência à criança e ser resolvida em um curto período de tempo, algumas ocorrências têm desfechos ruins. Uma delas, de grande repercussão em Minas, é o desaparecimento da menina Evellyn Jasmim, de 8. Há mais de um ano, ela perdeu a mãe em um crime de assassinato na Grande BH e não foi mais vista. A Polícia Civil está investigando o paradeiro. Na época, O TEMPO apurou, com fontes ligadas à investigação, que a criança pode estar fora de Minas Gerais, com parentes da família paterna.

Em fevereiro deste ano, um bebê de 1 ano foi vítima de rapto pelo pai e usado como parte da ameaça contra a mãe na Grande BH. O homem, de 32, pediu R$ 5 mil para libertar o filho. O bebê foi resgatado pela polícia com a fralda suja e pedindo por amamentação. “O pai pode pegar o filho, não devolver e cometer um ato falho, mas também é exceção. A polícia se movimenta rápido e os próprios familiares costumam passar informações do paradeiro. O que não faz sentido é acreditar que existem grupos especializados em raptar crianças, não há registro disso em Minas”, avalia o tenente-coronel Flávio Santiago. 

Segundo o comandante, como os raptos de bebês e crianças estão ligados a questões familiares, o aumento recente de ocorrências policiais pode ser consequência da pandemia. “É muito difícil analisar a motivação desses raptos por parentes, pois envolve passionalidade. Pelo que eu acompanho na profissão, fazendo uma dedução, esses registros podem ser resultado de um período de pandemia que trouxe contextos de brigas familiares, separações e disputas pela guarda das crianças”, diz. 

O que fazer em caso de suspeita de rapto? 

O recomendado pela Polícia Militar é acionar o Disque 190 imediatamente para verificação das informações e ação dos militares.