"Um caso que chocou a todos, até mesmo aqueles envolvidos com a criminalidade. Barbaridade." É desta forma que o delegado Marcus Vinícius Silva Rios classifica a chacina em Ribeirão das Neves que teve três pessoas mortas — sendo duas crianças — e três feridas. A Polícia Civil indiciou oito pessoas por envolvimento com o crime. O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) acolheu a denúncia e já encaminhou para a Justiça. Assim, os envolvidos tornaram-se réus e devem ser julgados nos próximos meses.

Em entrevista concedida nesta terça-feira (9 de julho), a instituição passou os detalhes do caso, incluindo a motivação. A investigação apontou que a ordem para matar Felipe Júnior Moreira Lima, de 26 anos, veio de dentro de um presídio e teve o envolvimento de facções criminosas do Morro Alto, em Vespasiano, e do Joana D'Arc, na região do Barreiro, em Belo Horizonte.

"A investigação apontou que havia uma vítima principal [Felipe] nesse crime, mas que as demais foram atingidas de forma proposital. Queriam realizar uma mudança na configuração da criminalidade do Morro Alto. Para impedir que houvesse resistência dos demais criminosos, uma liderança de lá, aliada a uma da região do Joana D'Arc, resolveu praticar o crime bárbaro, atingindo o máximo de pessoas. O objetivo era conseguir trazer de volta ao Morro Alto uma pessoa que havia sido expulsa há alguns anos e que agora, com a morte da vítima principal, poderia assumir a liderança do ponto de tráfico", afirmou o delegado. O Felipe, então, seria "trocado".

Ao matar Felipe Lima, os grupos queriam tirá-lo do comando da 'biqueira' e, consequentemente, colocar no lugar dele o que havia sido expulso anteriormente. "A chacina foi um recado para que outros criminosos não achassem ruim o retorno do outro. Ao matar até crianças, a mensagem é para que ninguém interferisse na configuração da criminalidade."

A brutalidade dos criminosos assustou a equipe de investigação. "É difícil falar em ética para com aqueles que a violam, porém o costume é de preservação das famílias dos envolvidos. Isso não aconteceu neste caso. Tanto que vimos a revolta em várias partes, até mesmo entre aqueles do mundo do crime", concluiu o delegado.

Presos e foragidos

Dos oitos rés, três estão presos: Ivone Silva de Almeida (informante), Pedro Paulo Ferreira Lima — Paulinho Satan — (mandante) e Yago Pereira de Souza Reis (executor).

Cinco homens estão foragidos. Dois deles, os irmãos Flávio Celso da Silva, de 45 anos, o “Alemão”, e Leandro Roberto da Silva, de 43, o “Beirola”, são apontados pelas investigações como mandantes do crime. Eles seriam líderes do tráfico de drogas no bairro Morro Alto, em Vespasiano.

Também são procurados Marcelo Alves Rodrigues, de 35 anos, conhecido pelos apelidos de "Tio Gordo" e "Bola 7"; Agnes Danrlei Santos Nascimento, de 26 anos, o "Biscoito"; e Fabiano Alves Campos, de 39 anos. Segundo o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), os cinco possuem mandados de prisão em aberto.

Chacina 

Familiares e amigos comemoravam o aniversário de Heitor Felipe, de 9 anos, em um espaço no bairro Areias, em Ribeirão das Neves, região metropolitana de Belo Horizonte. As comemorações tiveram início cedo, às 9h de quinta-feira, 23 de maio, e se estenderam durante o dia.

Por volta das 19h, no entanto, quando os convidados já estavam indo embora, dois homens armados invadiram o espaço e começaram a atirar. Três pessoas morreram e outras três ficaram feridas. As vítimas foram socorridas para a UPA Justinópolis e, depois, encaminhadas para o Hospital Risoleta Neves, em BH.

Quem são as vítimas?

Morreram Heitor Felipe, de 9 anos, o pai dele, Felipe Júnior Moreira Lima, de 26 anos, e uma prima, Layza Manuelly de Oliveira, de 11. A família comemorava o aniversário de Heitor no espaço de festas, quando o ataque aconteceu.

Os disparos atingiram ainda outras três convidadas: uma adolescente de 13 anos, a mãe dela, de 41, e uma jovem de 19. Elas foram socorridas para a UPA Justinópolis e, depois, encaminhadas para o Hospital Risoleta Neves, em BH.

A adolescente e jovem se recuperaram bem. A mulher de 41 anos, no entanto, ainda é monitorada de perto pelas equipes médicas. "O estado de saúde dela é gravíssimo", disse o delegado.