A estudante de veterinária Carolina Arruda, de 27 anos, que vive com a “pior dor do mundo”, pode desistir da eutanásia na Suíça se tiver redução do sofrimento em até 60% com os novos tratamentos. Ela foi internada por tempo indeterminado na Santa Casa de Alfenas, no Sul de Minas, nessa segunda-feira (8 de julho), e compartilhou nas redes sociais que, apesar de continuar com os trâmites para o suicídio assistido, pode abrir mão do procedimento “em um cenário ideal”. Provocada por um seguidor, Carolina expôs o que fará com o dinheiro nesse caso. 

“Pensando em um mundo maravilhoso, que o tratamento dê certo e reduza a dor em 60%, 70%, eu vou usar a vaquinha para pagar os meus procedimentos, digo, as partes custeadas. Além de pagar os meus medicamentos, que são muito caros, e o advogado para entrar com ação pedindo medicamento gratuito pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O resto eu não vou usar, vou doar para uma instituição de dor, para ajudar pessoas que vivem com dores crônicas”, revelou. 

A eutanásia é proibida no Brasil, mas permitida em alguns países, como na Suíça. Para viajar e custear o processo burocrático do suicídio assistido, Carolina conta com a vaquinha online para arrecadação de R$ 150 mil. A mineira já recebeu mais de R$ 127,7 mil em doações on-line. Clique aqui para acessar a vaquinha.

'Mas não desisti', disse mineira 

Apesar do novo tratamento, Carolina Arruda afirmou que não desistiu da eutanásia. Ela explicou que o processo de suicídio assistido é burocrático e, enquanto isso, irá sim tentar reduzir a sensação de “pior dor do mundo”.

“Eu tenho que fazer todos os trâmites de documentação e tradução para alemão ou inglês, juntar diversos laudos e relatórios de todos esses anos com a dor e ainda passar por médicos psiquiatras que confirmem que estou consciente da decisão. Só de trâmites, são mais ou menos dois anos. Nesse período, quero ficar com o mínimo de dor possível. Por isso o tratamento”, disse. 

Novo tratamento 

Na Santa Casa, Carolina está sendo examinada por um dos especialistas em dor de destaque no país, o médico Carlos Marcelo de Barros. Conforme a estudante relatou aos seguidores em sua rede social, o novo tratamento será feito “do zero”, isto é, ela vai refazer todos os exames e ressonâncias. Não há expectativa de alta no momento. “Esse tratamento vai durar meses, ele é longo, e não vai provar resultado agora. Tenho mais de 50 ressonâncias, mas o médico quer que seja tudo do zero. Estou aqui, tomando meus medicamentos e morfina”, relatou ela, que é mineira de Bambuí. 

O procedimento na Clínica de Dor é 100% do Sistema Único de Saúde (SUS). O objetivo é amenizar o sofrimento da estudante e torná-lo, pelo menos, suportável. “A expectativa com o tratamento é que a dor dê uma amenizada. É como se o meu cérebro fosse ‘reiniciar’. Eu vou ficar em um estado de sedação, sem dor, para o cérebro descansar, e partirmos para os próximos passos. Vai demorar. Nem eu, nem as pessoas devem ficar ansiosas”, continuou. 

Carolina está, no momento, sem acompanhantes no hospital. Ela explicou que o marido teve que retornar às aulas na faculdade e a mãe vai seguir a rotina de trabalhadora autônoma. Já a filha fica sob os cuidados da avó. “Isso não é um problema para mim. Eu fico sozinha tranquilamente”, disse. Já que não tem data para ter alta, ela entrou com pedido de atividades online para não precisar interromper a faculdade de veterinária. 

Entenda: neuralgia do trigêmeo

Conforme informações compartilhadas pelo Hospital Albert Einstein, a neuralgia do trigêmeo provoca uma dor forte na região do rosto, por onde passa o nervo trigêmeo, responsável pela sensibilidade tátil, térmica e dolorosa da face. A dor pode ocorrer várias vezes ao dia, com intervalos variados.

No caso da Carolina, a dor crônica atinge o rosto, nos dois lados da face, na forma de pontadas ou choques. Ao longo dos últimos anos, a estudante passou por quatro cirurgias, se consultou com 70 médicos e testou mais de 50 medicamentos. 

Rotina de dor

Além de canabidiol, a mineira faz uso de dez medicamentos por dia, entre antidepressivos, anticonvulsivos, opioides e relaxantes musculares. As crises já afetaram sua saúde mental. Carolina relatou ter tentado suicídio duas vezes.

Faz parte do tratamento a aplicação de botox a cada quatro meses no músculo temporal e masseter (um dos quatro músculos da mastigação). A terapia deixa a dor cerca de 5% menos intensa, de acordo com a paciente.