O céu azul que tomou Belo Horizonte nesta quarta-feira (11 de setembro) não é sinônimo de alívio após semanas de névoa de fumaça e clima desértico. A capital emendou uma nova onda de calor que deve perdurar até o fim do mês. Com altas temperaturas acompanhadas de umidade aquém do ideal, a qualidade do ar deve despencar nos próximos dias, cobrindo o céu de cinza novamente. BH vive a maior estiagem das últimas seis décadas e, segundo especialistas, o período chuvoso vai atrasar. 

Conforme o meteorologista Ruibran dos Reis, uma nova onda de calor foi iniciada na capital após a passagem de uma frente fria no final de semana. Inicialmente, a previsão do Climatempo indicou temperaturas mais altas que o normal nas primeiras duas semanas de setembro, o que foi atualizado para, pelo menos, até o fim do mês. A expectativa por dias frios está praticamente cancelada, uma vez que no dia 22 é iniciada a primavera. 

“A primavera é, historicamente, a estação mais quente do ano em Belo Horizonte, até mesmo comparado ao verão. Houve uma passagem de frente fria pelo litoral no fim de semana que, aqui em Belo Horizonte, ocasionou ventos. Isso empurrou a poluição, mas não vai durar muito tempo”, analisa dos Reis.

O meteorologista explica que o céu azul na capital após dias de névoa cinza é resultado do aumento da velocidade dos ventos, mas o calorão com a baixa umidade vai fazer despencar a qualidade do ar novamente. “A poluição dissipou mais para o Sul do país, mas o ar vai estagnar outra vez. O vento já está perdendo velocidade. As temperaturas sobem, a umidade do ar vai permanecer abaixo de 20%, e o resultado é a qualidade do ar piorar”, explica. 

Conforme a plataforma de monitoramento IQAir, Belo Horizonte registrou qualidade do ar considerada “moderada” nesta quarta-feira (11). Apesar de representar melhora com relação aos últimos dias, quando a capital teve uma das maiores poluições atmosféricas do mundo, o nível ainda indica concentração de poluentes três vezes maior que recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

A má qualidade do ar pode piorar quadros de doenças respiratórias, como bronquite e asma, e ocasionar fadiga fora do comum. “É importante não ignorar o que é recomendado pelas autoridades de saúde nesses períodos mais críticos. O uso de umidificador é ótimo para aliviar a sensação de sufocamento. Além disso, deve-se evitar atividade física ao ar livre e tomar muito líquido”, aconselha Ruibran dos Reis. 

Inmet prevê que período chuvoso vai atrasar

A previsão do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) é de pouca mudança no clima até o início de outubro. Não chove em Belo Horizonte desde o dia 19 de abril, contabilizando 145 dias de estiagem – a maior seca desde 1964. De acordo com o meteorologista Heráclio Alves, do Inmet, o período chuvoso também vai atrasar. “Temperaturas muito altas, sem previsão de chuva por enquanto. A tendência, até o momento, é que o período chuvoso seja empurrado para o final de outubro, início de novembro. Antes disso, pode ocorrer chuva, mas irregular e esporádica”, analisa. 

Alves explica que a baixa umidade do ar atrasa a formação de nuvens de chuva. A capital está em alerta para índices de umidade abaixo de 20%, o que indica “risco de incêndios florestais e à saúde. Ressecamento da pele, desconforto nos olhos, boca e nariz”, segundo o Inmet. Para se ter ideia, no deserto do Saara, na África, a umidade costuma variar entre 14% e 20%. “É uma consequência da massa de ar quente e seca que atua sobre o centro do Brasil. A chuva precisa de umidade do ar para se formar, o que não vai acontecer nos próximos dias”, diz o meteorologista.