Quem chega ou sai do Complexo da Lagoinha, no Centro de Belo Horizonte, pela avenida Antônio Carlos pode reparar mudanças na paisagem do local. Há cerca de duas semanas, a prefeitura de Belo Horizonte começou a plantar mudas variadas de plantas debaixo de um dos viadutos. Porém pessoas em situação de rua que frequentam a região questionam a medida e afirmam que ela tem o objetivo de expulsá-las do local. A PBH nega a afirmação.
Algumas das espécies que estão sendo levadas para o local, conforme a PBH, são Hibisco Híbrido, Orelha de Onça, Agave Brasileira, Caliandra, Espada de São Jorge Prata, Mini Coroa de Cristo e Grama Esmeralda. Algumas das plantas têm espinhos e, por isso, assustam e deixam desconfiadas pessoas em situação de rua no local.
Paulo* frequenta a região há cerca de um ano e meio, mas não dorme lá. O homem vê um lado bom na presença das plantas, mas questiona a escolha das espécies. “Deveriam colocar um outro tipo de planta. Aquele espinho que essa tem, se fincar na pessoa, doi demais. Pela planta que estão colocando, acho que sim (estão querendo nos expulsar)”, comenta.
João**, que também frequenta o local sem pernoitar, concorda com a análise e comenta que a presença de plantas no canteiro abaixo do viaduto é benéfica. Mas também acredita que deveriam colocar plantas mais ‘inofensivas’. “Eu acho que tem que plantar algo para ficar bonito, pois aqui não tem muita beleza. Mas essa planta tem espinho na ponta. Podiam plantar algo mais bonito, como uma flor”, avalia.
Conforme moradores ouvidos pela reportagem de O TEMPO, não houve nenhum registro de violência contra a população em situação de rua no local.
Qual a melhor saída?
A avaliação das pessoas que frequentam a região é parecida com a da engenheira agrônoma e professora do curso de Engenharia Agronômica do Centro Universitário UNA, Verônica Alves Mota. Para a especialista, a PBH poderia ter considerado outras opções, mais benéficas para as pessoas em situação de rua.
“Eu colocaria espécies de árvores frutíferas. Lógico que debaixo de viaduto isso é mais complexo, porque vai determinar sol, vai determinar várias questões. Mas pensando em população de rua, é um alimento. Eu, por exemplo, colocaria uma goiaba, uma manga, uma pitanga, uma acerola, um laranja, um limão”, sugere.
Verônica também alerta para as necessidades de cuidado com as espécies que vão passar a viver no local, já que elas ficarão bem debaixo de um viaduto, onde tendem a receber menos luz solar. “São espécies que crescem em locais que são meio a sombra. São plantas ornamentais, que necessitam de uma adubação adequada, de uma boa matéria orgânica, de irrigação”, adverte.
Redução no número de pessoas em situação de rua na região
Frequentadores do local relatam que, desde o início das obras de revitalização, repararam diminuição no número de pessoas em situação de rua que transitam pelo local. Algumas barracas que antes ficavam abaixo dos viadutos agora estão ao lado dele, no meio fio.
“Diminuiu uns 30% mais ou menos de pessoas em situação de rua. Parece que estão levando para um abrigo", estima o comerciante Pedro Martins, de 59 anos, que trabalha na região. O homem vê com bons olhos a colocação de plantas no local. “Com certeza, vai ficar muito bonito, vai ficar bom para os moradores, vai ficar um ambiente muito mais legal, porque estava muito feio”, comenta.
Outro comerciante que reparou queda na movimentação no trecho foi Adael Costa, de 61 anos. “Foi significativa (a redução), eu digo que foi média. Nem baixa, nem alta. Mas alguns continuam aqui na Lagoinha, só mudaram de lugar”, resume Adael, que também comemora o plantio de árvores no local.
“Eu vi como está ficando, as obras que tem debaixo de viaduto e as outras que tem por aqui também. Eu avalio que é ótimo, tem que ser feito e ampliar também”, afirma.
O que diz a PBH?
Procurada pela reportagem, a prefeitura de Belo Horizonte disse que o plantio das espécies faz parte de um processo de revitalização da Lagoinha, “com diversas ações de qualificação do espaço público”.
Também conforme a PBH, as pessoas em situação de rua estão sendo atendidas por equipes do Serviço Especializado em Abordagem Social - SEAS da Regional Noroeste e encaminhadas para unidades de acolhimento da administração municipal.
Confira abaixo o posicionamento completo da PBH:
“A Prefeitura de Belo Horizonte informa que a região passa por um processo de revitalização, com diversas ações de qualificação do espaço público. A Fundação de Parques Municipais e Zoobotânica é responsável pelo projeto paisagístico e fornece o composto orgânico e as mudas. Dentre as plantas estão, Hibisco Híbrido, Orelha de Onça, Agave Brasileira, Caliandra, Espada de São Jorge Prata, Mini Coroa de Cristo e Grama Esmeralda.
As pessoas em situação de rua que permanecem nos baixios dos viadutos daquela região são atendidas pelas equipes do Serviço Especializado em Abordagem Social - SEAS da Regional Noroeste, em articulação com o Centro POP Lagoinha, e encaminhados para unidades de acolhimento do SUAS-BH, sobretudo para a unidade Hospedagem BH. A partir da próxima segunda-feira, cerca de 16 pessoas em situação de rua, incluídas no Programa Estamos Juntos, começam a participar das ações de jardinagem nos baixios daqueles viadutos”.