Aos 47 anos, Vanuza Rosa trabalha como diarista desde os 12. Ela conta que iniciou na profissão por necessidade e que até já recebeu propostas para se tonar doméstica, mas, passadas mais de três décadas, outros fatores a mantêm no trabalho. “Gosto de ser independente, fazer os meus horários e ter o meu próprio dinheiro”, diz a moradora do bairro Vale Formoso, em Vespasiano, na Grande BH, que é casada e tem três filhas.

Vanuza é o retrato de três em cada quatro trabalhadores domésticos do Brasil, que, mesmo sem ter as garantias estabelecidas pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) para a categoria, atuam como diaristas, sem carteira assinada. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) 2024, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aponta que cerca de 76% desses colaboradores são diaristas.

Em 2023, dos mais de 6 milhões de profissionais desse ramo, cerca de 4,6 milhões estavam na informalidade, enquanto 1,4 milhão eram fichados. Em Minas Gerais, a proporção é próxima. De 686 mil, 491 mil não tinham carteira assinada (cerca de 71,5%). Tanto no Brasil quanto em Minas, essa é a maior proporção de diaristas para empregados domésticos dos últimos cinco anos.

Para o economista e coordenador do site Mercado Mineiro, Feliciano Abreu, a possibilidade de montar a agenda de trabalho e os ganhos financeiros imediatos mais altos são alguns dos principais motivos para esses profissionais optarem por trabalhar sem carteira assinada e menos dias por semana no mesmo local.

“O vínculo empregatício acaba pesando muito para os dois lados, por conta dos benefícios e contribuições. Então, na ponta do lápis, a profissional acaba ganhando muito mais como diarista. Ela ainda escolhe os dias que quer trabalhar, consegue cuidar da própria casa, dos filhos. Muitas vezes é possível trabalhar em dois locais diferentes no mesmo dia, consegue ter sua própria independência. No fim do mês, acabando valendo a pena”, explica Feliciano.
 
“É difícil também para uma pessoa de classe média pagar um funcionário todo mês. Fica caro. Pessoas com mais condições financeiras, que são a minoria da população, ainda conseguem manter uma doméstica. Então, a população no geral prefere pagar diarista para economizar no dinheiro gasto e também não se preocupar com os benefícios que precisam ser fornecidos ao profissional de carteira assinada”, completa o economista.

Organização é fundamental

Mesmo com os pontos positivos de se manter sem a carteira assinada, o economista Feliciano Abreu faz um alerta: “É importante que o trabalhador se organize financeiramente, pague o INSS por conta própria e a contribuição do FGTS e guarde um dinheiro. Assim, caso aconteça um imprevisto, como uma doença, ele tem uma segurança e também vai estar garantindo a aposentadoria no futuro”, diz.

Maria Helenice Batista, de 69 anos, que mora no Vila Rica, em Sabará, na Grande BH, segue direitinho os conselhos. Ela conta que, quando começou a trabalhar em casa de família, não havia leis trabalhistas para as domésticas, que garantem salário mínimo e pagamento do INSS, como ocorre hoje. Por isso, Maria contribuiu com a Previdência por conta própria durante 40 anos, o que lhe garantiu a aposentadoria, há quatro anos. Atualmente ela ainda atua como diarista.

“Empregada doméstica precisa ir todos os dias, cozinhar, passar roupa, limpar a casa. Como diarista, eu só faço a limpeza do imóvel. A aposentadoria me dá uma estabilidade, mas o serviço de diarista me dá uma renda essencial, já que dois netos, de 12 e 16 anos, e minha mãe, de 95, moram comigo”, conta a aposentada.

Faxina fica mais cara na Grande BH

Contratar uma diarista em BH e região metropolitana ficou mais caro. Segundo a “Pesquisa de Preços de Diaristas”, realizada pelo site Mercado Mineiro, que consultou 31 profissionais e agências nos dias 24 e 25 de agosto deste ano, o preço médio da diária teve aumento de 4,62%, passando de R$ 174,52 em 2023 para R$ 182,58 em 2024.

“Diarista, como qualquer tipo de serviço, atualiza o preço a partir do custo de vida. Elas têm que pagar a energia de casa, alimentação, custos com saúde. Então, precisam repassar esse custo para quem está contratando”, explica Feliciano Abreu, coordenador do site Mercado Mineiro.

Na pesquisa, foi consultado o valor do serviço em um apartamento de três quartos, com cerca de 100 m². O valor da diária pode variar 29,41%, de R$ 170 a R$ 220. Nesta conta não estão inclusos transporte e alimentação. “As profissionais não podem aumentar muito o preço, porque muitas pessoas não vão ter condições de pagar”, completa Feliciano Abreu.

Moradora do bairro Santo Antônio, em Contagem, Leilane Amorim, de 39 anos, começou a trabalhar como diarista aos 30, depois de se separar do marido e ter que sustentar a casa e o filho. Ela cobra entre R$ 150 e R$ 200. “No geral, está muito difícil conseguir serviço, mas para mim está ótimo, porque tenho os meus clientes fixos. A dica é conquistar a confiança, fazendo um bom trabalho”, afirma.

Editoria de Arte / O Tempo