Pacientes que precisam de insulina em Belo Horizonte têm enfrentado uma verdadeira peregrinação na capital. O medicamento não tem sido encontrado nas farmácias populares, fazendo com que usuários tenham que ir de um lugar ao outro em busca de um recurso essencial para a vida de quem necessita dele. A situação é preocupante: conforme o gastroenterologista e nutrólogo Bruno Sander, a falta de insulina, mesmo que por algumas horas, pode causar danos neurológicos semelhantes aos de um Acidente Vascular Cerebral (AVC) e, em casos mais graves, levar à morte.

A jornalista Ana Carolina Teixeira, de 31 anos, conta que encontrar insulina nas farmácias populares tem sido praticamente impossível. Ela percorreu várias unidades nessa quinta-feira (30 de janeiro) e foi informada de que o medicamento estava em falta em todas elas. “Fiquei por duas horas rodando e nada. Nem para comprar estava achando. Fui informada de que há mais de um mês não chega nenhuma unidade”, conta ela. “Tive que ir de drogaria em drogaria e não consegui a insulina. Eu ainda tenho carro, imagina quem não tem? É um descaso com quem tem diabetes. Eu não posso ficar sem a medicação”, afirma.

A mesma situação aconteceu com a vendedora Luiza Carvalho, de 36 anos. “Não encontro insulina em nenhuma farmácia popular. É um absurdo ter que rodar a cidade inteira para conseguir uma medicação, e mesmo assim não encontrar”, diz.

O gastroenterologista e nutrólogo Bruno Sander explica que, nesses casos, ficar sem a insulina, como as usuárias relataram, é algo bastante grave. “Com isso, há o aumento súbito de açúcar no sangue. Pode acontecer até mesmo falência múltipla dos órgãos. Outro risco é o de danos neurológicos, com sequelas irreversíveis, motoras e sensoriais”, explica ele.

Fornecimento no SUS

Com as farmácias populares sem a medicação, os pacientes precisam buscá-la no Sistema Único de Saúde (SUS). No entanto, nem sempre é algo imediato. Ana Carolina, por exemplo, precisou marcar uma consulta com um médico para horas depois. Só após isso, ela conseguiria a receita para pegar a insulina no posto de saúde. 

Em nota, o Ministério da Saúde afirmou que as insulinas são ofertadas pelo Programa Farmácia Popular do Brasil (PFPB), que atua de forma complementar à assistência farmacêutica do SUS. Conforme a pasta, a maior parte dos usuários são atendidos na rede pública de saúde. O Farmácia Popular atua por meio de parceria com farmácias privadas, que recebem o devido ressarcimento. No entanto, elas têm autonomia para definir os produtos em estoque, conforme a demanda e negociação com os fornecedores.

Já no SUS, ressaltou o Ministério da Saúde, não há falta de insulina e mais de um milhão de unidades foram enviadas para Minas Gerais em dezembro do ano passado. Veja posicionamento completo abaixo 

Posicionamento

Não há falta de insulinas na Atenção Primária à Saúde. A população tem acesso gratuito ao medicamento pelas unidades básicas de saúde do SUS. Apesar da restrição global na oferta, o Ministério da Saúde adotou medidas estratégicas para garantir o abastecimento, e os estoques de insulinas humanas NPH e Regular – em frascos e canetas – estão regulares em todo o país.

Para Minas Gerais, foram enviadas em dezembro de 2024, 1.165.363 unidades de insulina NPH e 219.901 unidades de insulina Regular. Além disso, em 2024, foram entregues 384.545 unidades de insulinas análogas no estado, e na última terça-feira (21), foram entregues mais 1.238 frascos adicionais de insulina Regular para reforçar os estoques da rede hospitalar.

Ao longo de 2024, o Ministério da Saúde distribuiu nacionalmente 59 milhões de unidades de insulina NPH e 12 milhões de insulina Regular, atendendo à demanda de estados e municípios. Para 2025, o orçamento destinado ao fornecimento de insulinas será ampliado para R$ 1 bilhão.

Para ampliar o acesso e fortalecer a produção nacional, foi firmada uma Parceria de Desenvolvimento Produtivo (PDP) entre a Fundação Ezequiel Dias (Funed) e a Biomm para a fabricação local de insulina. O Ministério da Saúde também antecipou parcelas contratuais com a Novo Nordisk e incorporou insulinas análogas de ação rápida e prolongada para o tratamento de diabetes mellitus tipo 2 no SUS.

Cabe destacar que as insulinas humanas também são ofertadas pelo Programa Farmácia Popular do Brasil (PFPB), que atua de forma complementar à assistência farmacêutica do SUS, ou seja, a maior parte dos usuários dessas insulinas são atendidos na Rede Pública de Saúde. O Farmácia Popular atua por intermédio de uma parceria com as farmácias da rede privada que recebem um ressarcimento das dispensações que são efetuadas, com base nos valores de referência estabelecidos pelo Ministério da Saúde. Vale ressaltar que esses estabelecimentos têm autonomia para definir os produtos em estoque de acordo com a demanda e negociação com os seus fornecedores.