Vizinhos da família de Stefany Vitória Teixeira Ferreira, de 13 anos, denunciam que a Polícia Militar (PM) se recusou a registrar o boletim de ocorrência sobre o desaparecimento da adolescente no último domingo (9 de fevereiro), alegando que era necessário aguardar 24 horas. O corpo da menina foi encontrado em uma área de mata em Ribeirão das Neves, na região metropolitana de Belo Horizonte, nesta terça-feira (11 de fevereiro). Em nota, a corporação informou que "durante conversa da guarnição com a genitora da menor, ela alegou que faria contato com uma amiga da filha e, caso não a localizasse, realizaria novo chamado". O pastor João das Graças, de 54 anos, conhecido da família da vítima, confessou à Polícia Civil ter matado a garota, conforme o boletim de ocorrência. 

Uma amiga da família, que terá a identidade preservada, relatou que estava fora de casa quando, ao acessar uma rede social na segunda-feira (10 de fevereiro), viu uma publicação da irmã de Stefany. "Quando eu vi, falei assim: 'Gente, é a filha da Márcia costureira'. Eu liguei para ela imediatamente, perguntei o que tinha acontecido e ela falou: 'Pelo amor de Deus, me ajuda. A minha filha está sumida desde ontem (domingo) às 15h'". Perguntei por que ela ainda não havia registrado a ocorrência, e ela respondeu: 'A Polícia Militar veio aqui e falou que eu tenho que esperar 24 horas'", contou.  

Ao ouvir isso, a amiga da mãe de Stefany foi até o bairro e a levou à delegacia da Polícia Civil para registrar a ocorrência. "Enquanto estávamos na delegacia fazendo a ocorrência, um homem ligou para o celular da irmã da Stefany dizendo: 'Olha, eu tenho uma informação para dar, mas eu tenho até medo de passar'. Aí, a irmã pediu para que ele falasse".  

Segundo a vizinha, esse homem afirmou que estava pescando com a família na região do Tejuco quando viu um homem jogando uma menina dentro de um carro HB20. A testemunha alegou ter gritado com o motorista, que respondeu: "É minha filha. Ela tem problema de cabeça e está tentando fugir". "Nós ficamos sem reação na delegacia ao ouvir isso. Por sorte, a filha desse homem conseguiu tirar uma foto da placa do carro e enviou para a polícia", comentou.  

+ Após prisão de suspeito de matar adolescente, PMMG escolta casa de pastor detido na Grande BH

Antes de entrar em contato com a irmã de Stefany, essa testemunha afirmou ter ligado para a PM relatando que viu um homem colocando uma menina à força dentro de um carro. No entanto, ao acionar a corporação, foi informada de que não havia nenhum comunicado sobre o desaparecimento de uma adolescente naquela região e que, por isso, "não podiam fazer nada". "Sabe por que não tinha? Porque eles não fizeram o registro quando a mãe da Stefany os procurou. A menina poderia estar viva se a polícia tivesse feito o trabalho dela. Isso é revoltante".  

O que diz a PM?

Procurada por O TEMPO, a Polícia Militar de Minas Gerais informou que, na madrugada dessa segunda-feira, recebeu chamado, via 190, de desaparecimento da adolescente e que, durante conversa da guarnição com a genitora da menor, ela alegou que faria contato com uma amiga de sua filha e, caso não a localizasse, realizaria novo chamado para a PMMG.

"A PMMG informa, ainda, que as guarnições do turno mantiveram-se atentas e na coleta de informações sobre o desaparecimento da adolescente, apoiando, inclusive, na data de hoje, a Polícia Judiciária em ação de prisão do envolvido na ocorrência", afirmou.

Na manhã desta quarta-feira (12 de fevereiro), a corporação informou que a Corregedoria da corporação instaurou procedimento para investigar a denúncia. 

O que fazer em caso de desaparecimento?

A Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) esclarece, em seu portal, que, em casos de desaparecimento, "a polícia deve ser procurada imediatamente após a identificação da quebra da rotina da pessoa desaparecida". "Diferente do que muita gente pensa ou propaga por aí, não é necessário esperar 24 horas ou mais para registrar a ocorrência", informa a pasta.  

O registro pode ser feito em qualquer delegacia da Polícia Civil ou unidade da Polícia Militar mais próxima. Para isso, é necessário apresentar o documento de identidade de quem faz a queixa e uma foto recente e nítida da pessoa desaparecida. Em Minas Gerais, o desaparecimento também pode ser registrado virtualmente por meio da Delegacia Virtual.  

A Divisão de Referência à Pessoa Desaparecida da Polícia Civil possui uma equipe disponível 24 horas por dia para receber informações sobre pessoas desaparecidas. O contato pode ser feito pelo número 0800 2828 197. Informações também podem ser repassadas pelos telefones 197 (Polícia Civil) e 181 (Disque Denúncia, com garantia de anonimato).