Dois influencers de Vespasiano, na região metropolitana de Belo Horizonte, foram presos em uma operação da Polícia Civil, na última quarta-feira (26 de fevereiro), pela promoção de jogos ilegais em plataformas não autorizadas no Brasil. Totalizando mais de 2 milhões de seguidores em uma única rede social, MC Luan da BS e a sua ex-namorada, Ellen Caroline, ambos de 24 anos, foram presos em condomínios de luxo nas cidades de Lagoa Santa, também na Grande BH, e Vargem Grande, no Rio de Janeiro.
A dupla foi alvo da operação "Jack Pot", que cumpriu mandados nos dois Estados. Segundo o delegado Anderson Kopke, além de diversos bens de luxo, como carros e motos importados que, juntos, valem quase R$ 800 mil, também foram apreendidos objetos relacionados à atividade ilícita, telefones celulares e uma pistola calibre 9 mm. Os imóveis alvos das buscas foram avaliados, segundo o policial, em cerca de R$ 2 milhões.
"Eles promoviam, via rede social, estimulando esse sonho de ganho de vida fácil, ganhos extravagantes com pouco esforço, com esses jogos. Esses influencers estavam sempre divulgando nas redes sociais que ganhavam elevadíssimos valores. Ganhos irreais, impossíveis, mas que uma pessoa em fragilidade emocional acredita nessa história", diz o delegado.
Ainda conforme o policial, além de receberem um valor fixo para divulgar as plataformas dos chamados "jogos do tigrinho", MC Luan da BS e Ellen Caroline também ganhava valores de acordo com a quantidade de pessoas que se inscrevia nas páginas por meio dos links compartilhados por eles em suas redes.
Além disso, os influencers também ganhavam quantias proporcionais ao valor que estas vítimas perdiam nas plataformas. "Por isso usavam frases de efeito nos vídeos, como 'Quem quer ganhar alto, tem que apostar alto'", completa Kopke.
Por consequência das perdas nestas plataformas, segundo a Polícia Civil, a investigação identificou vítimas que perderam até R$ 70 mil, culminando em suicídios e casos de violência contra a própria família por consequência da situação envolvendo o vícios nos jogos.
Respostas
Procurada por O TEMPO, a defesa do MC Luan afirmou "que já está prestando os devidos esclarecimentos no inquérito policial, no intuito de demonstrar sua inocência.' Além disso, disse que "está adotando as providências para revogar a prisão, pois a medida é absolutamente desnecessária".
A reportagem tentou contato com a Ellen nas redes sociais, mas, até a última edição, nenhum posicionamento tinha sido encaminhado. O espaço permanece aberto para um posicionamento.
Redução de 90% na promoção de jogos ilegais
Presente na coletiva de imprensa, o chefe da Divisão de Fraudes, delegado Magno Machado, informou que os casos envolvendo a promoção de jogos de azar e a venda de rifas por influenciadores, nas redes sociais, tiveram uma queda de cerca de 90% após a série de operações promovidas em 2024.
"Ano passado nós fizemos uma ação profícua no combate à exploração de jogos de azar e a lavagem em dinheiro. Foram vários os casos semelhantes a esse e isso foi muito bom. E estamos com resultados efetivos agora, com uma redução de 90% na exploração do chamado jogo do tigrinho e das rifas na região metropolitana de Belo Horizonte", afirma.
Vício em jogo é igual dependência às drogas
Em entrevista a O TEMPO, a psiquiatra Julia Machado Khoury, do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que também é mestre e doutora em dependências tecnológicas pela instituição, explica que o vício em jogos de azar se assemelha à dependência em drogas.
“Toda vez que a pessoa viciada aposta, é liberada dopamina, que é o hormônio do prazer, no sistema de recompensa do cérebro. Isso gera uma sensação de alívio ou de prazer, o que estimula a recorrência do comportamento. Além disso, a dopamina também é liberada no córtex pré-frontal, que é a região do nosso cérebro que inibe os nossos impulsos, nossos instintos, e que faz com que a gente consiga adiar recompensas. Com isso, a dopamina diminui essa função, fazendo com que a pessoa viciada fique mais impulsiva e com mais dificuldade de controlar o comportamento”, detalha a profissional.
A partir daí, a pessoa passa a prejudicar ou adiar outras atividades em prol do jogo, podendo, inclusive, ter sintomas de abstinência, ficando irritada, ansiosa ou triste quando não está jogando. “Ela (a pessoa viciada) volta a se sentir bem na hora que joga e, com isso, perde o controle. Então, a pessoa começa a jogar e não consegue parar. Fala que vai apostar uma quantia e acaba apostando mais, sempre em busca de recuperar o que perdeu. E isso gera uma prisão mesmo. A pessoa fica tão impulsiva, sente um alívio tão grande quando joga, que faz com que negligencie os aspectos negativos e desconsidere até mesmo os riscos para ela e para os outros, colocando o prazer acima de tudo”, explica Julia.