Portadores de doenças inflamatórias intestinais estão enfrentando dificuldades em Minas Gerais para obter e também tomar os medicamentos contra as enfermidades. A denúncia é da Associação Mineira do Portadores de Doenças Inflamatórias Intestinais (AMDII), que foi ao Ministério Público de Minas Gerais para pedir providências contra a situação. Conforme a entidade, as dificuldades envolvem demora para conseguir os remédios na rede pública e para encontrar locais de aplicação da substância.

A primeira complicação está relacionada ao processo de obtenção dos remédios na Farmácia de Minas. Patrícia Mendes, membro do Conselho Superior de Administração da Associação Mineira do Portadores de Doenças Inflamatórias Intestinais, relata demora excessiva na análise dos pedidos de medicamentos.  

“O normal seria cerca de 45 dias para analisar e responder um pedido. Mas ultimamente, a farmácia está demorando de seis a sete meses”, explica. Patrícia lembra que cada dia sem o remédio se transforma em mais sofrimento para os pacientes, devido aos sintomas causados pela doença de Crohn e pela retocolite. 

"Doenças inflamatórias intestinais fazem a pessoa perder sangue e muco nas fezes, ter muita fraqueza, muita fadiga, muita diarreia. São doenças que não têm cura, mas tem tratamento. Imagine não poder ter vida social, não conseguir estudar ou trabalhar por causa da falta de um remédio que não está em falta, mas que tem essa demora na análise”, pontua. 

Falta de locais para aplicação 

Outra dificuldade que, segundo Patrícia, está afetando de forma significativa os pacientes é a falta de locais adequados para aplicação do medicamento Infliximabe, usado no tratamento das doenças inflamatórias intestinais. Patrícia Mendes explica que o remédio é composto 50% por células de imunidade humanas e outros 50% com células de imunidade de ratos e exige locais, profissionais e métodos muito específicos para ser aplicado. 

“É preciso ter o equipamento certo, como bombas de infusão, a diluição no soro não pode ser feita de qualquer forma. Não é qualquer enfermeiro que faz a aplicação e precisa ter um acompanhamento de um médico, para o caso de o paciente ter uma reação. A infusão é feita lentamente, em três horas, não pode ser feita em qualquer lugar”, explica. 

A dificuldade para encontrar locais adequados de aplicação, conforme Patrícia, teve início no ano passado, quando a farmacêutica Pfizer venceu a licitação do Ministério da Saúde para fornecer o remédio.

“As empresas anteriores, sabendo que o SUS não tem esse suporte com clínicas e centros de infusão, fechavam parcerias com clínicas especializadas. O paciente recebia o medicamento e já sabia aonde ir para fazer a aplicação do remédio. Mas a Pfizer, quando venceu a licitação, seguiu à risca o que estava no edital e forneceu somente o remédio”, detalha.  

Conforme Patrícia Mendes, só há três centros de infusão em Minas Gerais para suportar toda a demanda: Hospital das Clínicas de Belo Horizonte, Santa Casa de Belo Horizonte e Hospital das Clínicas de Uberlândia, no Triângulo Mineiro. 

Posicionamentos

Procurada pela reportagem, a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais afirmou que tem se empenhado para diminuir o tempo de espera na disponibilização de medicamentos na Farmácia de Minas. A pasta afirma que contratou trabalhadores temporários para suprir as demandas, mas os pedidos tiveram um aumento.

"Em média, a SES-MG recebe 13 mil novos processos de solicitação de medicamentos especializados por mês em todo o estado. No entanto, é importante ressaltar que, nos últimos anos, houve um aumento significativo na demanda por medicamentos do Componente Especializado da Assistência Farmacêutica (Ceaf). Esse aumento, somado à demanda reprimida gerada pela Emergência em Saúde Pública causada pela pandemia de Covid-19, contribui para o cenário atual", comunicou a secretaria, em nota.

Também questionada, a Pfizer argumentou que está cumprindo todos os ítens exigidos no edital realizado em 2024 e que está fornecendo kits de infusão, que podem ser retirados junto com os medicamentos nas farmácias onde ele é disponibilizado.

"Destacamos que a responsabilidade pela dispensação e orientação sobre a retirada e a realização da infusão do medicamento é do Ministério da Saúde e dos Estados, conforme suas políticas", complementou a farmacêutica.

O TEMPO também pediu um posicionamento ao Ministério da Saúde e aguarda retorno. A reportagem será atualizada em caso de resposta.