A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) informou, nesta sexta-feira (7 de fevereiro), que aumentou para dez - cinco pacientes e cinco funcionárias - o número de mulheres que denunciaram um médico mastologista de 46 anos por estupro e importunação sexual em Itabira, na região Central do Estado. De acordo com o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), o suspeito passou por uma audiência de custódia na última terça-feira (4 de fevereiro). Em seguida, foi expedido o mandado de prisão que, de prisão em flagrante, foi convertida em preventiva. De acordo com o delegado João Martins, responsável pelas investigações, dois celulares foram apreendidos.
O médico trabalhava em hospitais de Itabira, cidade da região Central de Minas Gerais. A prefeitura informou, por meio de nota, que ele não era contratado diretamente pelo município, mas prestava serviços de forma terceirizada. O órgão esclareceu que ele era vinculado à Irmandade Nossa Senhora das Dores, responsável pela gestão do Hospital Nossa Senhora das Dores, e ao Consórcio Intermunicipal do Centro Leste (Ciscel). A prefeitura ressaltou que, em ambas as instituições, o profissional foi afastado de suas funções assim que a denúncia foi formalizada e as investigações tiveram início.
"A Prefeitura de Itabira se solidariza com as mulheres vítimas desse tipo de crime, repudia qualquer ato de abuso sexual e outros atos de violência de gênero e incentiva que as vítimas procurem os canais oficiais de denúncia, além dos serviços de acolhimento disponíveis no município", declarou o órgão.
Médico teria marcado retorno para paciente com câncer após estupro
A primeira denúncia veio de uma mulher, de 52 anos, que relatou ter sido estuprada durante uma consulta médica para tratamento de câncer em Itabira. Após o abuso, o suspeito teria agendado uma consulta de retorno para 90 dias. Os detalhes constam no boletim de ocorrência registrado pela mulher horas após o crime.
Segundo o documento, a filha da vítima acionou a Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG), alegando que sua mãe havia sido estuprada. Os agentes foram até a residência e encontraram a mulher bastante abalada e chorando.
Aos policiais, a vítima contou que foi ao hospital para uma consulta, mas, ao entrar no consultório, o suspeito teria fechado a porta sem sequer cumprimentá-la, agarrado-a à força e cometido o estupro. Em seguida, o médico entregou à mulher uma receita e o agendamento da nova consulta, marcada para 90 dias depois. Antes de liberá-la, o profissional ainda pediu que ela saísse pelo corredor lateral para "não ser percebida".
A vítima relatou ainda que entrou em estado de choque e obedeceu às instruções do suspeito. Ao chegar em casa, contou o ocorrido à filha, que acionou a PMMG. Durante o atendimento da ocorrência, a mulher apresentou aos policiais a receita e o comprovante da marcação da consulta fornecidos pelo médico.
A filha da vítima relatou que a mãe já fazia acompanhamento com o mastologista há algum tempo e que é paciente oncológica. Diante dos fatos, a PMMG realizou buscas na cidade para localizar o suspeito, mas ele não foi encontrado naquele dia.
Toques indevidos e palavras inapropriadas
Segundo João Martins, o mastologista agia por meio de toques indevidos e comentários impróprios com as pacientes e colegas de trabalho.
"Uma das vítimas nos relatou que foi a uma consulta e acabou sendo violentada pelo médico com quem fazia acompanhamento. Durante as investigações, que começaram em 24 de janeiro deste ano, outras vítimas denunciaram violações, como toques indevidos, comentários impróprios e agressões físicas. As vítimas são pacientes e funcionárias do hospital onde ele trabalhava", afirmou o delegado.
Martins relatou que as vítimas disseram que o mastologista fazia comentários sobre o tamanho dos seios delas, alegando que não eram, por exemplo, compatíveis com o quadril. "Comentários como esse extrapolam o aceitável em uma consulta e servem de alerta para todos. Outro sinal de comportamento inadequado são os toques excessivos. Se a paciente consulta um mastologista, a finalidade é analisar a saúde dos seios. Logo, não há motivo para o profissional tocar na região genital. Esses são indícios claros de conduta indevida", ressaltou.
Os próximos passos da investigação, segundo o delegado, incluem a oitiva de testemunhas. "Vamos aguardar os laudos das perícias e, posteriormente, encaminharemos o caso ao Ministério Público de Minas Gerais (MPMG)." A autoridade reforçou que outras vítimas podem procurar a Polícia Civil para denunciar o crime. "O prazo prescricional varia de acordo com a conduta a ser tipificada. O estupro, por exemplo, tem um prazo mais longo para prescrição."
Vítimas temiam não ser ouvidas
O delegado destacou que as vítimas que procuraram a delegacia demonstraram alívio ao denunciar o médico. "Percebi que elas se sentiram assim pelo fato de, após tantos anos, finalmente terem encontrado alguém que as ouvisse. Acredito que a maioria temia não ser levada a sério", pontuou João Martins.
O que diz o Hospital Nossa Senhora das Dores?
O Hospital Nossa Senhora das Dores (HNSD) manifestou seu apoio às vítimas envolvidas no caso de denúncias de estupro do mastologista, que atendia no ambulatório do hospital e que foi preso suspeito de estuprar paciente com câncer de mama durante consulta médica.
Desde o dia 27 de janeiro, a instituição determinou a suspensão imediata dos atendimentos, consultas e cirurgias do referido profissional, logo que foi informada da suspeita de crime de estupro sem que isso comprometesse o tratamento das pacientes oncológicas.
Diante da gravidade da acusação, o HNSD, em respeito à população, a suas pacientes oncológicas, aos seus colaboradores e demais pacientes, esclareceu que outras medidas também foram tomadas pela instituição desde o último dia 27 e estão sendo mantidas.
- Afastamento do profissional: o prestador médico, supostamente envolvido no caso, foi imediatamente afastado de suas funções até que as investigações sejam concluídas.
- Colaboração com as autoridades: o HNSD está à disposição e vai cooperar integralmente com as autoridades competentes, fornecendo todas as informações necessárias para a apuração dos fatos.
- Apoio às pacientes oncológicas: nenhuma paciente terá seu atendimento prejudicado.
- Processo administrativo: medidas jurídicas estão em andamento para a abertura de um processo administrativo com o objetivo de alcançar a resolução do caso e garantir a notificação dos respectivos conselhos.
"O hospital reforça que não compactua com atitudes de qualquer natureza que possam causar dano aos seus pacientes, continua contribuindo com as autoridades e presta seu apoio e solidariedade às vítimas. Não faz parte dos valores e da história de 165 anos da instituição este tipo de conduta. O HNSD continua à disposição das autoridades para prestar todos os esclarecimentos necessários", ressaltou a instituição.
O que diz o Ciscel?
O Consórcio Intermunicipal de Saúde Centro Leste (Ciscel) comunica que, em razão do afastamento do mastologista, das suas atividades profissionais desde o dia 28 de janeiro de 2025, os contratos deste profissional junto a esta instituição foram temporariamente suspensos até a conclusão das investigações em curso.
O profissional mantém dois contratos com o Ciscel:
- Contrato de Prestação de Serviços Médicos (consultas e exames) para o Centro Estadual de Atenção Especializada (Centro Integrado Viva Vida);
- Contrato de Assunção de Responsabilidade Técnica do Centro Estadual de Atenção Especializada (Centro Integrado Viva Vida).
Considerando os acontecimentos recentes e visando garantir a integridade da instituição e a confiança de nossos pacientes e parceiros, a decisão de suspender os contratos foi tomada pelo Ciscel até que as apurações necessárias sejam finalizadas.
Situação do Médico no CRM ainda é Regular
Até o início da tarde desta sexta-feira (7 de fevereiro), o registro do médico no site do Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais (CRM-MG) continuava ativo e regular. O conselho informou que todas as denúncias recebidas, formais e de ofício, são apuradas de forma sigilosa, conforme determina o Código de Processo Ético-Profissional do Conselho Federal de Medicina (CFM).
Profissional recebeu congratulações da Assembleia em 2024
No dia 22 de agosto de 2024, o médico recebeu votos de congratulações da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) pelos trabalhos realizados e os resultados obtidos no tratamento de câncer de mama. A homenagem veio das mãos do deputado estadual Raul Belém (Cidadania).
Em nota, o gabinete do parlamentar informou que os votos de congratulações concedidos no mês de agosto de 2024, não foram apenas ao mastologista, mas também para a secretária municipal de saúde de Itabira, Fabiana Marques Machado e o diretor executivo do Hospital Nossa Senhora das Dores (HNSD) Alexandre José Silva Coelho, pelas atuações diárias no combate ao câncer no Hospital Nossa Senhora das Dores.
"A justificativa das homenagens se alinhava ao tratamento de mais de 13.000 casos suspeitos ou confirmados de câncer de mama e aproximadamente 2.200 procedimentos cirúrgicos da especialidade em mais de 28 municípios do entorno de Itabira. Ainda, afirmamos que a instituição de saúde, por meio da própria direção, havia contratado o profissional pelo currículo e pela atuação como profissional da saúde, ou seja, da mesma forma.
O gabinete do deputado Raul Belém e o próprio parlamentar não possuíam nenhum conhecimento dos supostos fatos ocorridos."
Defesa
O advogado de defesa do médico, Hermes Vilchez Guerrero, declarou que não irá comentar o caso.