A batida frontal entre dois veículos que levou à morte de um dos motoristas, na madrugada desta quinta-feira (1º de maio) evidencia os riscos para quem circula na avenida Otacílio Negrão de Lima, na Pampulha. Apenas no primeiro trimestre deste ano, a via – que tem velocidade máxima permitida de 30 km/h e está em um dos principais pontos turísticos da capital – foi palco de 149 acidentes.  

Nesta quinta-feira de feriado, o cenário era caótico no local. O passeio da avenida Otacílio Negrão de Lima, que margeia a lagoa da Pampulha, tem pouco mais de um metro. A pista cimentada é compartilhada por atletas, pedestres que passeiam com seus cães, casais que admiram o espelho d'água. Ao lado, uma ciclovia, hora delimitada por blocos de cimento, hora apenas por uma faixa pintada no chão. Ciclistas inexperientes e famílias em pedalinhos, além de veículos que desfilam na avenida dão um tom caótico ao cenário.  

“Eu acho aqui meio caótico. Essa mistura de ciclovia, que às vezes o ciclista está na rua e às vezes a moto está na ciclovia e os carros numa confusão, tem hora que a pista é dupla, tem hora que a pista é única, a gente fica meio perdida e realmente tem muita barbeiragem, muita gente dirigindo sem prestar atenção”, reclama a autônoma Roany Paiva, de 29 anos, que além de frequentar o local para lazer, é moradora da região. 

Dados do Painel de Acidentes de Trânsito do Observatório de Segurança Pública de Minas Gerais mostram que, pelo menos, uma pessoa morreu e outras 23 ficaram feridas em 149 acidentes que aconteceram na avenida Otacílio Negrão de Lima, de janeiro a março deste ano, além do acidente desta madrugada. Para o especialista em segurança no trânsito e professor do Cefet-MG, Agmar Bento Teodoro, o principal problema da orla é a negligência dos motoristas que muitas vezes não respeitam a velocidade que é de 30 km /h.   

“A orla foi idealizada para ser uma via, com uso local, porém com o crescimento da cidade a orla se tornou uma via de passagem, que dá acessos a vários bairros da região Norte. Atualmente, ela tem um fluxo alto de automóveis em vários pontos. Há alguns empreendimentos na região (UFMG, Mineirão, Mineirinho, e outros pontos turísticos) que atraem esses automóveis, além do mais falta fiscalização e punição para os infratores”, afirmou. 

A reportagem de O TEMPO, em uma visita ao local, flagrou um Porsche estacionando debaixo de uma placa que indicava estacionamento proibido. Algumas pessoas tentaram alertar o condutor, que ignorou os conselhos e infringiu a regra. A Guarda Municipal de Belo Horizonte disse que autuou o motorista. 

Procurada, a BHtrans afirmou que os agentes da Unidade Integrada de Trânsito (BHTRANS, Guarda Municipal e Polícia Militar) monitoram diariamente as vias na região da orla da Pampulha, sobretudo em função da grande concentração de pessoas e eventos que ocorrem semanalmente nas proximidades. Quando verificado casos de infrações, como estacionamento irregular, os veículos são autuados e removidos. “Infelizmente, alguns motoristas não seguem as orientações das sinalizações viárias, gerando assim situações de risco e eventuais acidentes”, informou. 

Quem usa o espaço também reclama   

Sempre que pode, a auxiliar de serviços gerais Dilma Ribeiro, de 54 anos, vai pedalar. Na Pampulha, local onde aproveitou nesta manhã de folga (01 de maio), ela comentou sobre a sensação de pedalar entre pedestres e veículos.   

“Acho a ciclovia muito estreita para a bicicleta e para o pedalinho. Agora, mesmo eu quase causei um acidente ali. Eu fui parar para tomar água de coco, vi que o pedalinho vinha, e já parei, mas aí o cara que estava atrás de mim quase colidiu comigo e, enfim, quase que fomos todos para o chão, as bicicletas e a gente, quase”, relembrou. Às vezes ela prefere pedalar na rua por este motivo.    

Dilma admite que, pelo caos da ciclovia, muitas vezes prefere andar na rua l Flávio Tavares / O Tempo

 

Falta de punição faz problema se tornar crônico   

Moradora e presidente da Associação Pró Interesses do Bairro Bandeirantes (APIBB), Adrienne Moore, a imprudência no trânsito virou rotina no país. Para ela, além de fiscalização mais rígida, deveria haver conscientização de todos que circulam pela via.

“Leis existem, e não são poucas. O problema está na aplicação, ou melhor, na falta dela. O brasileiro, em geral, acredita que a lei deve valer apenas para o outro. Tanto motoristas, quanto ciclistas e até pedestres, quando eles estiverem circulando na pista dos carros, devem seguir as mesmas regras de trânsito”, conclui. 

Ainda segundo a PBH, os 18 km da Avenida Otacílio Negrão de Lima (Orla da Lagoa Da Pampulha) são amplamente sinalizados orientando condutores, pedestres e ciclistas sobre as regras de trânsito em todo seu percurso.  A via conta com placas de velocidade máxima permitida de 30 km/h, redutores de velocidade (quebra-molas), rotatórias, travessias de pedestres elevadas, semáforos, placas indicando a grande presença de pedestres e ciclistas em toda a região, além de diversos pontos com proibição de estacionamento para garantir a fluidez da via.  

No trecho onde houve o acidente desta madrugada, entre o cruzamento da Rua Mondovi e Avenida Novara, não é permitido ultrapassar ou trafegar no sentido contrário em função da pintura de solo da faixa contínua.