Enquanto a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) e os professores municipais não chegam a um acordo sobre o reajuste salarial reivindicado pela categoria, famílias de crianças e adolescentes matriculados na rede municipal de educação de BH sofrem com a paralisação das aulas. A greve, que nesta segunda-feira (30) completa 25 dias, tem impactado diretamente na rotina de mães e pais, que dependem das escolas para conseguirem trabalhar.
Mesmo com pressão por parte da PBH em tentar judicializar a greve e informar que vai descontar os dias não trabalhados da folha de pagamento dos professores que aderiram ao movimento, a categoria não pretende flexibilizar a pausa enquanto o executivo não acatar o pedido de reajuste. Hoje, a categoria pede, pelo menos, 6,27% de aumento na folha, e a PBH oferece 2,49%.
A cabeleireira Débora Campos, de 38 anos, é mãe da Liz, de 3 anos, aluna da Emei Solimões, no Jardim Felicidade, na região Norte de Belo Horizonte. A menina está sem aula desde o começo da greve, e a mãe, que é autônoma, precisou parar de trabalhar por não ter com quem deixar a pequena. "Sempre organizei meu trabalho para o período da tarde, que é o momento em que minha filha fica na escola, agora, não consigo trabalhar. Este mês só peguei dois serviços e mesmo assim, foi horrível. Tive que levar minha filha para casa da cliente, que não tem grade na janela. Fiquei tensa o tempo todo", disse.
Já a alternativa da auxiliar de produção de frios, Camila Lorraine, de 24 anos, foi contratar uma babá para cuidar do filho enquanto ela cumpre a carga horária no trabalho. "Eu estou chegando atrasada no serviço todos os dias, porque a babá mora em outro bairro, tenho que levar ele lá, depois pegar ir trabalhar, acaba atrasando muito. Ainda estou pagando R$ 130,00 por dia com a babá, praticamente, estou trabalhando para pagar a babá”, reclama. Além da parte financeira, a mãe do aluno está preocupada com os impactos no desenvolvimento do filho. “Esses dias ele perguntou ‘mamãe, nunca mais vou para escola’, acho que ele pode até esquecer como é, né?”, afirma.
Por meio de nota, o Sindicato dos Trabalhadores em Educação da Rede Pública Municipal de Belo Horizonte (Sind-Rede BH) lamentou os impactos da greve na vida das famílias, mas informou que a medida é o “último recurso”.
“Tentamos o diálogo e negociação junto a prefeitura desde fevereiro, não somente em relação aos salários, mas sobretudo às condições das escolas. A Prefeitura, contudo, tem se mostrado insensível e intransigente com as negociações. Só depende do prefeito acabar com a greve. Nós também preferíamos estar nas escolas com nossos estudantes em processo de ensino aprendizagem e nas relações educativas, não somente para se alimentar como pensa o prefeito”, disse.
A Prefeitura de Belo Horizonte foi questionada sobre os impactos da greve, mas ainda não retornou.
Apesar dos impactos, famílias apoiam o movimento
O filho do músico Marcos Costa, de 42 anos, a cada dia está num local diferente. "Tem dias que ele fica com os avós maternos, outros com os paternos, e tem dias que precisamos mandar para uma creche particular", comenta.
Ainda que a situação esteja complicada, a família considera legitima ação dos professores. "Eles cuidam do nosso bem maior, quero que eles sejam valorizados, pois isso reflete na entrega deles no trabalho, então, sou a favor da greve, da ação dos trabalhadores que merecem serem valorizados através de um salário digno", pontua.
O mesmo é compartilhado pela advogada Beatriz Filgueiras, de 42 anos, mãe de três alunos.
"Muito triste ver crianças em idade escolar à toa em casa. Nós pais, em sua grande maioria, trabalhamos fora. Achar alguém com quem deixar nossos filhos nesse momento é um desafio. Mas nos sacrificamos. Acreditamos que a greve tomou essa proporção para alcançar um bem maior. Uma vitória que, se Deus quiser, será perene para a educação. Que seja um marco na luta por melhores condições. A sociedade inteira ganha quando o ensino público é de qualidade e possui condições adequadas de prestação", afirma.