Diariamente, 333 idosos são vítimas de violência em Minas Gerais. Dados da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) mostram que as ocorrências cresceram 13% no Estado entre janeiro e abril – passando de 35.414 registros, em 2024, para 40.030, em 2025.

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O aumento dos casos acontece em meio ao envelhecimento da população mineira. De acordo com o Censo de 2022, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Minas tem cerca de 3,6 milhões de pessoas com 60 anos ou mais, o que representa 18% dos habitantes. A expectativa é que esse percentual suba para 25% até 2040 e alcance 32% em 2060.

Danilo Suassuna, psicólogo e fundador do Instituto Suassuna, ressalta que os idosos são vítimas de vários tipos de violência, como física, emocional e patrimonial. Além disso, muitas vezes são infantilizados por familiares e cuidadores.

“As consequências dessa violência podem ser várias, inclusive depressão e transtorno de ansiedade. No entanto, as vítimas, muitas vezes, não se sentem à vontade para falar sobre os problemas. Os idosos de hoje em dia nasceram em uma época de repressão militar, na adolescência tiveram pais mais rígidos e, na terceira idade, também não têm voz”, diz Suassuna.

Todo esse cenário de violência e silenciamento, segundo o psicólogo, pode causar estresse crônico e acelerar o processo de deterioração cognitiva. “A violência contra os idosos mexe na autoestima, na autoimagem. O fato de serem tratados como crianças, com desprezo, como um incômodo, faz com que se sintam desvalorizados. A pessoa começa a se sentir uma vergonha para a família, começa até mesmo a se achar culpada”, avalia.

A desvalorização dos idosos na sociedade é uma das razões que contribuem para a violência contra eles, conforme afirma Luciano Gomes dos Santos, professor de ciências sociais do UniArnaldo Centro Universitário de Belo Horizonte.

“Atualmente, há a prevalência da cultura da juventude e produtividade. A sociedade valoriza a força física e a produtividade como sinônimo de sucesso, e quem difere disso pode ser visto como alguém que não tem mais valor. Nesse sentido, não se avalia a história dos idosos, tudo o que já trabalharam, construíram e contribuíram para a sociedade”, destaca.

Apesar dos números altos de violência contra os idosos, a delegada Juliana Califf, chefe da Divisão Especializada em Atendimento à Mulher, ao Idoso, à Pessoa com Deficiência e Vítimas de Intolerância (Demid), acredita que pode existir um cenário de subnotificação. Isso porque, segundo ela, muitas vítimas ou mesmo testemunhas não denunciam os crimes. “Às vezes por falta de orientação, por medo ou por não ter provas”, explica ela.

Conforme a delegada, para reverter esse cenário, a Polícia Civil faz uma série de ações. Na última semana, por exemplo, a instituição visitou casas de longa permanência com o objetivo de fiscalizar e fazer um trabalho preventivo. “Também fazemos treinamentos para os servidores, seminários e workshops”, complementa. 

Para denunciar casos de violência contra idosos, é possível ligar para o 181 ou Disque 100 de forma anônima, além de procurar qualquer delegacia. “A Polícia Civil vai trabalhar e investigar para punir o agressor”, afirma Juliana Califf.

Recomeço: esperança para quem vivia como ‘invisível’

O Recanto Feliz São Francisco de Assis, no bairro Betânia, na região Oeste de BH, abriga atualmente 18 idosas. Cada uma carrega uma trajetória única e, no local, encontra acolhimento e atividades diárias que promovem bem-estar físico e emocional.

Helenice Batista, assistente social que atua há três anos na instituição, relata que algumas moradoras chegaram após vivenciarem situações de violência dentro da própria família. “Recentemente, uma idosa chegou até nós pesando 27 kg. Estava ferida e havia sido completamente negligenciada pela família”.

Segundo Helenice, o sofrimento dessa senhora começou após a morte da irmã, com quem morava, na região Centro-Sul da capital. No recanto, no entanto, ela encontrou a chance de recomeçar. “Os idosos precisam de cuidado e carinho. Essa idosa, em especial, tenho certeza de que não resistiria por mais um mês se continuasse nas condições em que estava. Hoje ela está bem. É uma alegria”, diz, emocionada.

Economia: planejamento financeiro é fundamental

A dependência econômica é, de acordo com o sociólogo Luciano Gomes, uma das razões que contribuem para a violência contra os idosos. Muitas vítimas contam apenas com um pequeno valor da aposentadoria e precisam de ajuda financeira da família, o que as torna “presas” em uma realidade de sofrimento.

Em diversas situações, este é um fator que, inclusive, as impede de denunciar os suspeitos. “Muitos sofrem para sobreviver. Trabalharam a vida toda e, quando chegam a esse estágio em que já se aposentaram, passam a ter muitas dificuldades”, conta o sociólogo.

“Vários idosos precisam da ajuda da família para pagar remédios, para arcar com moradia. Isso também pode gerar irritação na família que precisa ajudar financeiramente, o que aumenta a violência”, afirma Gomes. Ele destaca que essa violência pode ser expressa de várias maneiras: impaciência, maneira mais ríspida de falar e isolamento.

O planejamento financeiro na fase adulta é um caminho para que, na terceira idade, a pessoa não se torne dependente financeiramente de alguém da família.

O educador financeiro Rodrigo Schumacher orienta que uma das alternativas para quem deseja se organizar financeiramente é começar a investir. “Está cada vez mais fácil investir, e é possível começar com apenas R$ 1. Uma boa opção é o CDB com liquidez diária do seu banco, pois você poderá resgatar o valor a qualquer momento”, recomenda o especialista.

Schumacher destaca ainda que é fundamental “mudar a mentalidade” para conseguir poupar. “Não dá para esperar sobrar. Ao receber, por exemplo, o salário, já é necessário separar uma quantia. O investimento precisa ser encarado como essencial em qualquer fase da vida, para se preparar para o que está por vir. Lembre-se: gaste menos do que ganha e consuma de forma consciente, sempre se perguntando se, de fato, precisa do produto a ser adquirido”, orienta.