Em meio à meta de universalizar o acesso à água potável e aos serviços de coleta e tratamento de esgoto no Brasil até 2033, Minas Gerais tem um investimento por habitante mais de 20% inferior à média nacional. O Ranking do Saneamento 2025, divulgado nesta terça-feira (14/7) pelo Instituto Trata Brasil, revela que os municípios mineiros aplicaram, em média, R$ 99,84 por habitante ao ano, valor inferior à média nacional de R$ 126,97— 21,36% a menos. O valor considerado necessário para a universalização do saneamento até 2033 é de R$ 223,82 por habitante ao ano, segundo estimativa do Plano Nacional de Saneamento Básico (PLANSAB), do governo federal. O estudo foi feito com base nos dados do SINISA (Sistema Nacional de Informações em Saneamento), ano-base 2023.

O Marco Legal do Saneamento estabelece que 99% da população tenha acesso à água tratada e 90% à coleta e ao tratamento de esgoto até 2033. Em Minas Gerais, 81,7% da população tem acesso à água potável, 77,6% à coleta de esgoto e apenas 42,5% ao tratamento de esgoto. Segundo a presidente do Instituto Trata Brasil, Luana Pretto, os dois últimos pontos são os mais preocupantes no estado. “Precisamos enxergar a coleta de esgoto como um ativo político, com uma infraestrutura que vai diminuir o número de doenças de veiculação hídrica e melhorar o desenvolvimento econômico e social”, explica.

Na região Norte de Belo Horizonte, parte das 8 mil famílias que vivem na Ocupação Izidora, considerada uma das maiores da América Latina, ainda depende das fossas improvisadas. “A maioria das casas tem buraco no quintal, onde o esgoto é jogado. Isso contamina o solo e o lençol freático”, relata Amanda Reis de Carvalho, liderança local. Segundo ela, após anos de manifestações, o processo de urbanização começou, mas ainda é lento.

Em Contagem, na Região Metropolitana de BH, na ocupação Guarani Kaiowá que abriga 300 famílias, a situação não é diferente. Há anos, a população lida com esgoto a céu aberto. O sonho de acesso à água potável e à coleta de esgoto ganhou contornos de realidade a partir do Programa Reviva Pampulha, que prevê investimentos de R$ 146 milhões para universalizar o saneamento básico, além de despoluir a Lagoa da Pampulha.

“A esperança é grande. Para nós, ter água e rede de esgoto vai melhorar muito a saúde das crianças. Esperamos que, depois de tanta luta, o problema seja resolvido”, afirma a líder comunitária Naiara Rocha, de 33 anos. As obras na comunidade começaram no ano passado.

Conforme a Copasa, o Plano de Ação já investiu mais de R$ 64 milhões. Dos 9.759 imóveis não conectados à rede de esgoto na Bacia da Lagoa da Pampulha, 4.790 já foram regularizados - sendo 1.382 no município de Belo Horizonte e 3.408 em Contagem. O Plano de Ação foi homologado em março de 2023, com prazo de conclusão de até cinco anos.

Tratamento de esgoto é desafio

Um dos grandes desafios do estado é o tratamento do esgoto. Apenas 42,5% do volume é tratado. A cidade de Juiz de Fora evidencia esse problema. O município da Zona da Mata mineira é o pior mineiro colocado entre os 100 mais populosos do Brasil, na 70ª posição. Enquanto 98,67% da população tem acesso à coleta de esgoto, apenas 12,75% do esgoto é tratado.

“Quando a gente só tem a coleta, mas não tem o tratamento do esgoto, a gente apenas afasta esse volume da casa da população. A coleta evita o contato direto com o esgoto, mas o problema ambiental continua existindo”, explica Luana Pretto. “A gente sabe que, para tratar esgoto, são necessários grandes volumes de investimento na construção de estações de tratamento de esgoto. É caro, muitas vezes, mas é necessário. Porque, senão, vamos continuar tendo rios poluídos”, completou.

Com o objetivo de aumentar o volume de esgoto tratado, em 23 de junho deste ano, o governo de Minas anunciou um investimento de R$ 1 bilhão na Copasa para ampliação da capacidade da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Onça, em Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. A unidade terá a capacidade ampliada em 50% até 2028 e se tornará a principal do tipo no Estado. A medida terá impacto direto na qualidade da água do Ribeirão do Onça, afluente do Rio das Velhas.

Apesar do cenário desafiador, Luana acredita que Minas Gerais pode atingir as metas de universalização. “No caso de Minas Gerais, o necessário é investir em tratamento de esgoto. Então precisa ir de 42,5% para 90% até 2033. Acho que existe a possibilidade de MG atingir as metas do Marco Legal, desde que busque mais investimentos, desde que alavanque mais esse volume de investimento para que as estações de tratamento de esgoto sejam construídas e para haver possibilidade de universalização do acesso”, diz.

Universalização é etapa mais difícil

O ranking 2025 do Instituto Trata Brasil, que separou as 100 cidades mais populosas do país, traz exemplos positivos. É o caso de Uberaba, que pode ser usada como inspiração. A cidade do Triângulo Mineiro subiu 14 posições entre 2024 e 2024, passando da 23ª posição para a nona. Foi a terceira cidade brasileira que mais subiu. No município, 100% da população tem acesso à água potável, 99,16% à coleta de esgoto e 84,20% do esgoto coletado é tratado. O investimento médio por habitante é de R$ 66.

“Quando universaliza, o investimento pode cair. Uberaba está universalizada. Agora o investimento é na manutenção e crescimento urbano da população. O investimento durante a expansão tem que ser muito alto. Depois que universalizou, ele pode cair e manter a infraestrutura que tem instalada. No caso de Uberaba, houve um investimento alto nos últimos anos”, explica Luana.

A reportagem solicitou um pedido de posicionamento ao governo de Minas e à Prefeitura de Juiz de Fora sobre os investimentos feitos em saneamento básico e aguarda retorno.