No fim de junho, a psicóloga Poliana Corsino de Paula, de 42 anos, começou a sentir um mal-estar. Segundo ela, era uma sensação de sono intenso, pressão baixa e um frio fora do comum. “Depois do trabalho, cheguei em casa com febre e muita tosse”, relembra. Foram oito dias desde o início dos sintomas — com três teleconsultas e uma ida presencial ao médico — até o diagnóstico de pneumonia bacteriana, em 3 de julho. “Fui internada na hora”, contou à reportagem. A doença que Poliana enfrentou foi responsável pela morte de 350 pessoas em Belo Horizonte apenas no primeiro semestre deste ano, segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde.
Na capital, apesar de a pneumonia não exigir notificação obrigatória, dados da pasta mostram que, de janeiro até o momento, já foram registradas 5.262 solicitações de internação pela doença. “Nunca tinha tido pneumonia antes e fiquei muito assustada com o diagnóstico, mas, ao mesmo tempo, aliviada por descobrir o que era, depois de oito dias muito mal em casa, indo a médicos sem saber o que eu tinha”, completou. No estado, foram 49.930 registros entre janeiro e 13 de julho deste ano, segundo a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG).
Assim como Poliana, a expectativa da família da idosa Maria do Carmo da Silva, de 68 anos, era vê-la receber alta após a internação para tratar uma pneumonia. No entanto, um agravamento do quadro levou à morte dela em dezembro do ano passado. Em todo o ano de 2024, foram contabilizados 9.594 pedidos de internação por pneumonia e 941 mortes pela doença na capital mineira. No mesmo período, foram registradas 86.380 internações em Minas Gerais. A SES-MG não informou quantos óbitos em decorrência da enfermidade foram registrados.
“Começou com ela perdendo o apetite, emagrecendo e sentindo muitas dores no corpo. Fomos ao médico, e ela fez vários exames, que constataram pneumonia. Só que ela fumava desde os 13 anos, e acabamos descobrindo um câncer que se espalhou para outros órgãos. Foi tudo muito rápido — do início da internação até a morte, foram 15 dias. A causa da morte foi pneumonia, sepse (infecção) de foco pulmonar e síndrome consumptiva (perda de peso)”, lamentou a filha da idosa, Elisangela Cristina Silva Amaro.
A doença aparece só no frio?
Apesar de estar associada ao período mais frio do ano, a pneumonia não é causada diretamente pelas baixas temperaturas, como explica o pneumologista e ex-presidente da Sociedade Mineira de Pneumologia e Cirurgia Torácica (SMPCT), Marcelo de Fuccio.
“Pneumonia é uma inflamação dos pulmões, e a causa mais comum é por bactérias, sobretudo o pneumococo, que está presente no nosso organismo. Quando passamos por algum estresse — seja físico intenso, emocional ou por viroses respiratórias (como os vírus Influenza ou Sincicial Respiratório, por exemplo), mais frequentes nesta época do ano —, a bactéria ‘aproveita a fragilidade’ e infecta os pulmões”, detalhou o especialista.
Ainda segundo o médico, pacientes como Maria do Carmo — idosos e crianças, além de pessoas com imunidade comprometida ou doenças crônicas como diabetes e problemas cardíacos e pulmonares — são mais suscetíveis ao agravamento da doença. No entanto, se não tratada a tempo com o uso de antibióticos, a pneumonia pode levar qualquer pessoa à morte.
Doença pode ser silenciosa, mas não menos agressiva
Os sintomas mais comuns da pneumonia incluem febre, tosse seca persistente (que pode evoluir para tosse com catarro), cansaço extremo, mal-estar geral, fraqueza, dor de cabeça, dor de garganta ou dores no corpo, falta de ar, respiração acelerada ou chiado no peito. Em idosos e crianças, os sinais também podem ser: confusão mental, sonolência, irritabilidade, perda de apetite e retração das costelas ao respirar.
Contudo, a doença pode se manifestar de forma leve ou até mesmo assintomática, o que aumenta o risco de agravamento devido ao diagnóstico tardio da chamada “pneumonia silenciosa”, termo popular usado para certos tipos de pneumonia atípica. “Não existe pneumonia silenciosa. O que pode acontecer é uma evolução do quadro viral, que começa como uma virose e se transforma em pneumonia. O que varia é a intensidade dos sintomas, que depende do tipo de bactéria e também da resposta do organismo do paciente”, explicou.
Em caso de sintomas, é fundamental procurar imediatamente um serviço de saúde, especialmente se houver piora ou persistência do quadro. Atualmente, a Secretaria Municipal de Saúde oferece a vacina Pn10 de forma rotineira nos 153 centros de saúde de Belo Horizonte. Já as vacinas Pn13 e Pn23 (que abrangem mais cepas da bactéria pneumococo) estão disponíveis durante todo o ano apenas no Centro de Referência de Imunobiológicos Especiais (CRIE), conforme indicações do protocolo.