Como parte das iniciativas para reduzir o número de acidentes de moto em Belo Horizonte, a prefeitura vai testar a implementação de motofaixa na Via Expressa, formada, na capital, por trechos das avenidas Tereza Cristina e Juscelino Kubitschek. O projeto-piloto terá extensão de 16 km, entre o Viaduto Itamar Franco, na região Noroeste, e Contagem. Segundo o município, a implementação da motofaixa se baseia no exemplo de outras cidades, como São Paulo.

A escolha da Via Expressa considerou o alto fluxo de motociclistas e a largura das faixas de rolamento. Apesar de o local já ter sido definido, ainda não há data para a medida sair do papel. A prefeitura trabalha na autorização interna e na elaboração do projeto, que será enviado à Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran). Só depois dessa etapa será possível programar a execução e a implantação da motofaixa.

Como mostrou O TEMPO, Belo Horizonte registra um aumento de 56,18% no número de acidentes de moto entre 2018 e 2025. Os números foram impactados pelo crescimento do uso de plataformas de entrega de comida e de transporte por aplicativo. Este último ainda carece de regulamentação na capital mineira, mas opera desde 2021 pela Uber, uma das principais empresas do setor.

+ Com transporte por app à espera de regulamentação, BH registra dois acidentes de moto a cada hora

Para o especialista em trânsito e diretor da Associação Mineira de Medicina do Tráfego (Ammetra), Alysson Coimbra, o principal benefício da motofaixa está na organização do trânsito. “Vamos pensar em uma pista de três faixas. Ela posiciona o motociclista entre a faixa da esquerda e a do meio, estabelecendo um corredor de fluxo. Em um contexto com outras medidas, ela é válida”, explica. Ele ressalta que, apesar da existência da faixa, os motociclistas não são obrigados a usá-la.

Apesar disso, o especialista afirma que a motofaixa não pode ser a única medida adotada para reduzir os acidentes. Na visão dele, a mais urgente é a regulamentação do transporte por aplicativo. Como mostrou a reportagem, tramita na Câmara um projeto de lei que trata do assunto.

Flavio Tavares / O TEMPO

Segundo ele, uma das medidas que poderiam constar na regulamentação é a identificação das motos que prestam o serviço, talvez com cores específicas, como nos táxis. “A identificação seria uma forma de as pessoas saberem que pode haver alguém inexperiente na garupa”, diz. Ele também aponta a necessidade de uso exclusivo. “Uma mesma pessoa não deveria usar o veículo para transporte de passageiros e de carga ao mesmo tempo, porque a bag pode agravar um eventual acidente”, afirma.

Deficiência do transporte público estimula transporte por motos 

Na avaliação do professor Leandro Duarte, mestre em Geografia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o crescimento do transporte por moto, especialmente por aplicativos, ocorreu devido à deficiência do transporte público. Segundo ele, os modais realmente eficientes estão concentrados, como as estações do Move e do metrô. “O transporte entre esses lugares e as residências das pessoas representa um grande custo em termos de tempo, além da questão financeira”, explica.

Como o serviço de transporte por moto é relativamente barato, quando comparado ao próprio transporte público, ele tem ganhado espaço, especialmente em deslocamentos mais curtos. O professor conduziu, com outros dois docentes, um artigo sobre o tema. Para ele, um dos pontos de preocupação é que o serviço acabe esvaziando o debate sobre a qualidade do transporte coletivo. “Temos um serviço que é deficitário e não tem tido melhorias constantes nos últimos anos.”

A lacuna na locomoção é ainda mais evidente nos fins de semana, segundo o professor, quando o transporte privado ganha mais força diante da redução nas viagens de ônibus. Alysson Coimbra concorda que a popularização do transporte por moto ocorreu “no pico da precariedade do transporte público”.

A influenciadora digital Inara Vila, de 26 anos, usa corridas de moto como um dos principais meios de transporte desde 2022. Embora resida em Sabará, na região metropolitana, ela afirma que o transporte público em BH é “bastante precarizado”, o que incentiva o uso de motos. Um acidente recente, no entanto, fez com que ela refletisse sobre a segurança desse serviço ainda não regulamentado.

“Em 19 de junho, uma outra moto, em alta velocidade, atingiu o veículo em que eu estava. Eu e o condutor não nos machucamos. Sofri apenas um impacto na coluna, que me causou dores musculares”, conta. Desde então, ela diz ter reduzido o uso do serviço. “Acredito que é preciso regulamentar, pois moto é um veículo perigoso”, afirma.