A defesa do ex-servidor público Matteos França Campos, 32 anos, que confessou ter matado a mãe, a professora de história Soraya Tatiana Bomfim Campos, de 56, se pronunciou pela primeira vez após a prisão de Matteos que, nesta segunda-feira (28/7), precisou ser transferido de presídio por ter sofrido ameaças dentro da cela do Ceresp Gameleira, em Belo Horizonte, onde esteve detido por três dias.
Em nota divulgada à imprensa, o advogado Gabriel Arruda Ramos afirmou que, neste momento, a defesa técnica do investigado se abstém de realizar qualquer pronunciamento público sobre os fatos, optando por concentrar toda sua atuação estritamente no âmbito judicial, com base nas garantias constitucionais do devido processo legal, da ampla defesa e do contraditório.
Além disso, Arruda relatou que os profissionais que integram a equipe de defesa vêm sendo alvos de calúnias, injúrias e difamações em plataformas digitais, "numa tentativa indevida de deslegitimar o exercício da advocacia".
Confira, na integra, o posicionamento da defesa de Matteos:
"A defesa de Matteos França Campos vem a público, de forma oficial, se manifestar nos seguintes termos:
A presente manifestação tem como finalidade esclarecer que, a partir deste momento, a defesa técnica do investigado se abstém de realizar qualquer pronunciamento público sobre os fatos, optando por concentrar toda sua atuação estritamente no âmbito judicial, com base nas garantias constitucionais do devido processo legal, da ampla defesa e do contraditório.
Temos convicção de que o debate sobre as responsabilidades deve ocorrer estritamente dentro dos autos do processo, e não em redes sociais, veículos de imprensa ou arenas públicas que frequentemente prescindem de critérios jurídicos objetivos. Por isso, toda e qualquer providência da defesa será conduzida com responsabilidade, técnica e serenidade.
É importante registrar, com firmeza, que os profissionais que integram esta equipe vêm sendo alvos de calúnias, injúrias e difamações em plataformas digitais, numa tentativa indevida de deslegitimar o exercício da advocacia. Ressaltamos que a defesa criminal é função essencial à Justiça, e que o advogado, no exercício de seu mister, não se confunde com o fato imputado a seu constituinte.
Não se defende o crime, mas sim os direitos assegurados pela Constituição Federal. A atuação do advogado é instrumento legítimo e indispensável para que o processo penal se desenvolva com equilíbrio, legalidade e respeito à dignidade da pessoa humana - valores que não podem ser relativizados mesmo diante da comoção pública.
A defesa reitera sua confiança nas instituições democráticas e no Poder Judiciário como garantidores da verdade processual e da justiça, convicta de que, ao final, a apuração ocorrerá de forma imparcial, justa e conforme os ditames legais.
Os nossos sinceros sentimentos a todos os familiares, amigos e alunos da querida Professora Soraya, a Professora Tati".
Relembre o crime
Na última sexta, França foi preso temporariamente na casa do pai, no bairro Jardim Alvorada, na região Noroeste de Belo Horizonte. Segundo a Polícia Civil, a detenção foi motivada por contradições no depoimento do suspeito, que foram confrontadas por meio de imagens de câmeras de segurança que mostraram o carro da vítima circulando por trajetos incompatíveis com a versão apresentada.
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Levado para o Departamento Estadual de Investigação de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), o filho da professora confessou o crime. Durante o depoimento, ele afirmou que o assassinato ocorreu após uma discussão intensa, motivada por dívidas com jogos de aposta online e empréstimos consignados. O caso segue em investigação.
De acordo com o boletim de ocorrência, registrado pelo filho de Soraya na noite de sábado (19/7), ele saiu de casa por volta das 20h de sexta-feira (18/7) para uma viagem à Serra do Cipó. A mãe estava na sala de casa, vestida com uma camisola cinza, quando ele saiu. Na manhã do dia seguinte, ainda conforme o relato do filho, ele enviou uma mensagem para a mãe, mas ela não teria sequer recebido.
Ainda segundo o documento policial, o filho da professora pediu que uma tia, que mora no mesmo prédio, fosse até o apartamento. Ele solicitou que um chaveiro abrisse o imóvel para que sua tia tivesse acesso, mas não foi encontrado nenhum vestígio da mulher. Diante da situação, o rapaz teria voltado para casa, onde encontrou o lugar sem sinais de alteração ou arrombamento. O carro de Soraya também estava na garagem do prédio.
O filho, junto do pai, iniciou uma série de visitas a hospitais da capital e ao Instituto Médico Legal (IML), além de contatos com amigas para tentar descobrir o paradeiro da professora. Sem informações, ele também tentou acessar câmeras de segurança da rua onde mora com a mãe e o notebook da mulher, mas não conseguiu obter nenhuma evidência sobre sua localização.
Corpo encontrado em Vespasiano
O corpo da educadora foi encontrado neste domingo (20/7) sob um viaduto, na avenida Adélia Issa, no bairro Conjunto Caieiras, em Vespasiano, na Região Metropolitana. Ele estava parcialmente coberto por um lençol, e a vítima vestia somente a parte de cima da roupa — uma blusa cinza. A perícia constatou marcas de queimaduras nas partes internas das coxas e manchas de sangue, possivelmente relacionadas a violência sexual.
A Polícia Civil encaminhou o corpo da mulher para o IML, onde passou por exames e foi liberado aos familiares. A PCMG agora aguarda a conclusão de laudos periciais que irão atestar as circunstâncias e a causa da morte. "A investigação está em andamento, e outras informações podem ser divulgadas à medida que os procedimentos policiais avançam.", informou em nota.
O Colégio Santa Marcelina, situado na região da Pampulha, local onde trabalhava, lamentou a morte da professora nas redes sociais. "Toda a comunidade educativa da Rede Santa Marcelina se une em oração e solidariedade à sua família, colegas e estudantes neste momento de dor. Rogamos a Deus que a acolha com amor e misericórdia, e que conforte todos os que choram sua partida. Sua memória permanecerá viva entre nós", escreveu a instituição de ensino em suas redes sociais.
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Nas redes sociais, inúmeros relatos de pais e alunos a descrevem a professora como amiga, profissional excelente e alguém que atuava além do ensino, trazendo mensagens de carinho e incentivo aos estudantes. Uma mãe afirmou que o legado deixado por Soraya era visível na forma como os filhos mencionavam ela em casa. "Através dos olhares, atitudes e palavras de nossos filhos, reconhecemos aquele professor que é muito mais do que um educador, um ser iluminado, que se preocupa com os alunos além do conteúdo didático", lamentou.
“Lutaremos por sua memória. Seu sorriso não se apagará!” — a frase estampava adesivos com a foto de Soraya Tatiana França durante o sepultamento da professora, realizado na manhã da última terça-feira (22/7), no Cemitério da Paz, no bairro Caiçara, região Noroeste de Belo Horizonte. Familiares, amigos, ex-alunos e colegas da escola Santa Marcelina se despediram da profissional com orações e homenagens. “Ontem eu descobri o alcance do amor da minha filha. Fiquei impactado com tanto carinho, tantas flores, tanta gente", disse o pai da professora, Nilton França.