A verticalização do Centro de Belo Horizonte, a ampliação do comércio na região da Pampulha, entre outras mudanças são algumas das propostas da Prefeitura de Belo Horizonte de modernização previstas para a cidade. Todas elas vão depender da aprovação de um novo Plano Diretor por parte da Câmara Municipal. Um documento com as propostas deve ser encaminhado em breve ao Legislativo, segundo afirmou o prefeito Álvaro Damião (União Brasil) nesta quarta-feira (9/7). As mudanças, que podem impactar a economia, a mobilidade e o meio-ambiente são encaradas de forma distinta por especialistas ouvidos pela reportagem de O TEMPO.

A urbanista Branca Macahubas enxerga com bons olhos a proposta. Na visão dela, além de modernização, as mudanças podem melhorar o setor econômico. “A última mudança do Plano Diretor (em 2014) foi muito restritiva para a cidade e o que temos visto nos últimos anos é uma recuada do mercado imobiliário em BH e o avanço em outras cidades da região Metropolitana. Tudo isso é sentido no bolso. Oferta escassa de imóveis e valores cada vez mais altos”, diz. 

Por outro lado, na visão do professor da UFMG e urbanista Roberto Andrés, a construção de prédios de “50 andares”, como expressou o prefeito em entrevista exclusiva ao jornal O TEMPO, no Café com Política, em maio deste ano, pode impactar negativamente o trânsito da capital. “Imagina um prédio de 50 andares com garagem no centro. O trânsito iria parar. Mas se for um prédio sem garagem, vai adensar a região, mas aí precisamos ver a questão do transporte público”, disse. O urbanista lembra ainda que pode haver um impacto ambiental a ser levado em consideração ao flexibilizar a construção de novos prédios na cidade.

Uma pesquisa da UFMG, divulgada em 2017, já havia indicado que a criação do Belvedere III, na região Centro-Sul de Belo Horizonte, e o adensamento de bairros vizinhos, como o Vila da Serra, em Nova Lima, na região metropolitana, causou um impacto ambiental e o aumento da temperatura na capital, ao fechar uma entrada de ventilação natural para a cidade. Em 2007, outro estudo da mesma universidade previa que a continuidade no adensamento do bairro provocaria o aumento da temperatura em cerca de 1ºC e a queda da umidade relativa do ar na faixa de 10%.   

Ainda segundo Andrés, todas as propostas devem ser feitas com base em participação popular. “Temos a Conferência Municipal de Política Urbana, que é um fórum em que participam empresários, sociedade civil e técnicos da PBH que fazem suas sugestões sobre as mudanças. A última foi em 2014 para a aprovação do Plano Diretor em 2019”, afirmou.

Segundo o prefeito da capital, em entrevista coletiva para a imprensa nesta quinta-feira, durante visita às obras do novo Cras Cabana, as mudanças atendem a um apelo popular. “A população quer, e entende, que Belo Horizonte ficou parada no tempo, perdendo espaço para outras grandes capitais do Brasil. Isso acontece em todos os setores, tudo o que você puder imaginar: eventos, empresas, empresários que migraram suas atividades para outros estados, como São Paulo, Rio de Janeiro. Todas essas perdas, ao longo dos anos, nos mobilizam a recuperar o tempo perdido”, disse.

Em maio deste ano, em entrevista exclusiva ao programa Café com Política, do jornal O TEMPO, em que Damião já havia sinalizado que estuda, entre outras medidas, a possibilidade de flexibilizar as regras para a atuação do setor da construção civil. À época, ele teceu críticas as atuais diretrizes para ocupação do espaço urbano da capital.

“A gente não pode mais ver Belo Horizonte perdendo espaço na construção civil como a gente vê. A gente não pode mais dormir tranquilamente sem ter um prédio de 50 andares, se eu estou na terceira maior capital do Brasil. Eu tenho que trabalhar por isso, tenho que ver coisas novas na minha cidade”, declarou na ocasião.

Já nesta quarta-feira, ele disse que é preciso propor um novo modelo de gestão e de arrecadação, incluindo mudanças no Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS).

“Nosso objetivo não é criar dúvidas, nem medo na cidade. Tenho certeza de que, ao apresentarmos nossas propostas, elas serão aprovadas, porque todos percebem que Belo Horizonte ficou parada no tempo ou, pelo menos, precisa se modernizar”, completou.