Eles têm fama de maus e são alvos frequentes de preconceito. No entanto, as características naturais dos pit bulls são justamente a docilidade e a lealdade. Na Secretaria Adjunta de Proteção Animal (Sepa), nove cães da raça estão disponíveis para adoção atualmente (cinco fêmeas e quatro machos). O objetivo do órgão é mostrar que eles podem ser criados em casa e conviver com pessoas e outros animais. 

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O veterinário comportamental Thiago Campos, inclusive, ressalta que a agressividade dos cães, independentemente da raça, está relacionada à criação ou a problemas de saúde. “Nosso trabalho com pit bulls é igual ao de qualquer outra raça: avaliamos saúde e comportamento e, se houver agressividade, identificamos a causa para tratar. O objetivo é mostrar o comportamento que queremos do cachorro. Com orientação e adaptação, a adoção é segura”, afirma o especialista na área.

Crimes recorrentes

Os pit bulls e outros animais chegam à Sepa por diferentes motivos, mas principalmente após denúncias de maus-tratos, que podem ser feitas pelo WhatsApp (31) 98253-9153, com garantia de sigilo. Nesses casos, uma equipe formada por veterinária, auxiliar e guardas municipais vai até o local indicado para verificar a situação. O resgate só é realizado se o animal estiver doente ou em perigo. Quando o cão é vítima de maus-tratos, recebe tratamento veterinário e acompanhamento antes de ser colocado para adoção. Durante o processo, o tutor é informado sobre a possibilidade de a Justiça solicitar a devolução do animal se necessário. 

Hoje, a Sepa mantém cerca de 150 animais permanentes, sendo 110 cães e 40 gatos. Além disso, aproximadamente cem animais estão em tratamento, e outros 200 aguardam adoção. Quem adota um animal no local tem direito a assistência veterinária. Pra adotar, é preciso ser maior de idade, apresentar identidade, CPF e comprovante de endereço, além de passar por uma entrevista. Após a adoção, a equipe acompanha o tutor e o animal para verificar a adaptação. Além disso, durante toda a vida do pet, ele terá direito a atendimento veterinário gratuito. 

Evento de adoção exclusivo para eles

Para incentivar a adoção e combater o preconceito contra a raça, a Sepa vai promover, no dia 6 de setembro, das 9h às 13h, um evento exclusivo com os nove pit bulls que estão abrigados na sede do órgão (rua do Rosário, 1.840, bairro Angola). Mas quem quiser adotar antes disso, é só ir até a Sepa de segunda a sexta. Contato: (31) 3531-3660.

Lei Sansão endureceu penalidade

Em 2020, a pena para quem maltrata cães e gatos foi endurecida no Brasil. A mudança na legislação foi motivada por um pit bull que ganhou notoriedade nacional depois de ter sido vítima de uma crueldade: Sansão teve as patas traseiras decepadas em Confins, na região metropolitana, naquele mesmo ano. A Lei 14.064, conhecida como Lei Sansão – originária de um projeto de lei do deputado Fred Costa (PRD) – estabelece reclusão de dois a cinco anos, além de multa e proibição de guarda a quem abusa, maltrata, fere ou mutila animais de estimação. 

Cruzamento de terrier e buldogue deu origem à raça

Os pit bulls ou, oficialmente, american pit bulls terrier, são resultado de um experimento feito por criadores da Inglaterra, da Irlanda e da Escócia para unir a esportividade do terrier ao atletismo do buldogue. A nova raça foi levada para os Estados Unidos e chamou a atenção de fazendeiros e rancheiros por conta da resistência, da coragem e da gentileza. Logo, os animais passaram a ser utilizados para proteção, na captura do gado semisselvagem e de porcos, como ajudantes nas caçadas, cães- pastores e companhia para as famílias, segundo a Confederação Brasileira de Cinofilia.

Apesar do estigma que carrega, a raça não é agressiva por natureza, conforme confirmou uma pesquisa estadunidense de 2022. O estudo apontou que o comportamento do animal depende de quem o cria e sugeriu um olhar mais atento aos antigos estereótipos e preconceitos.