A Corregedoria da Polícia Civil pediu, à Justiça, acesso às provas do inquérito policial envolvendo Renê da Silva Nogueira Júnior, assassino confesso do gari Laudemir de Souza Fernandes. A corporação deseja, especificamente, as conversas entre o empresário e a esposa, a delegada Ana Paula Lamego Balbino.
O pedido ocorre no prazo final do inquérito, que deve ser concluído até o próximo domingo (31/8). Já a investigação da Corregedoria tem prazo maior, já que a delegada não está presa, o que permite uma apuração de até 30 dias conforme o Código de Processo Penal (CPP), podendo ser prorrogado quando o fato for de difícil elucidação. A delegada Ana Paula Lamego Balbino está afastada das funções desde o dia 13. Ela alegou abalo psicológico e teve o afastamento de 60 dias determinado pelo Hospital da Polícia Civil.
As conversas desejadas pela Corregedoria não tinham sido juntadas ao inquérito até o começo desta semana. Os diálogos foram obtidos através da perícia no celular de Renê Júnior. "A Corregedoria solicita autorização para que a Delegacia Especializada de Homicídios do Barreiro possa compartilhar com esta 4ª. Subcorregedoria de Polícia Civil os dados extraídos do aparelho celular apreendido em poder do investigado Renê da Silva Nogueira Júnior, a fim de que possamos analisar especialmente as conversas travadas e mensagens trocadas entre a delegada Ana Paula Lamego Balbino Nogueira e seu esposo, como, por exemplo, ligações telefônicas, ligações de WhatsApp, mensagens escritas de WhatsApp, mensagens de SMS, arquivos de áudio, vídeo e fotos de WhatsApp, inclusive aqueles eventualmente excluídos e/ou apagados, dentre outras mídias e arquivos anteriormente não mencionados", pede.
A Corregedoria da Polícia Civil fundamentou o pedido pela "possibilidade de haver elemento de informação no dispositivo de Renê com relação a eventual conduta ilícita praticada pela Dra. Ana Paula, especialmente quanto a suposto fornecimento, empréstimo ou cessão de arma de fogo, a suposto delito de prevaricação e/ou a eventual favorecimento prestado depois da suposta prática do crime". "Portanto, verifica-se ser imprescindível a concessão da medida cautelar para a instrução probatória deste inquérito policial, considerando ser necessário esclarecer se a delegada emprestou, cedeu ou forneceu sua arma de fogo para seu esposo, bem como para desmistificar se, após o delito, a servidora teria deixado de praticar ato de ofício ao tomar conhecimento da parte de seu esposo de que ele foi autor do delito e/ou se teria favorecido seu esposo de alguma outra forma para ele se eximir da responsabilidade criminal", argumentou.
Ainda no pedido enviado à Justiça, a Corregedoria pontua que "no caso concreto, há indícios de que o esposo da delegada tenha usado a arma de fogo dela para matar o gari, motivo pelo qual o acesso ao conteúdo do aparelho celular de Renê Júnior poderá comprovar eventualmente se ambos mantiveram contato e se encontraram logo após o delito, bem como se existem conversas dando conta que a servidora já emprestou ou cedeu sua arma de fogo para Renê de forma habitual".
A Corregedoria apura a conduta da delegada no homicídio do gari, já que a arma usada no crime era de uso pessoal dela. Em depoimento, o assassino confesso disse que pegou a arma sem que a mulher soubesse. O carro usado no homicídio também está em nome da delegada.
Nessa terça-feira (26/8), a Polícia Civil informou à reportagem que seguia em tramitação com a Corregedoria-Geral da instituição o inquérito policial e o procedimento administrativo instaurados para apurar com rigor e transparência todos os elementos que envolvem a eventual conduta praticada pela delegada. Nenhum detalhe da investigação foi repassado. Desde o início do caso, a reportagem tenta contato com a delegada, mas sem sucesso.