Barão de Cocais. Hospedada em um quarto de hotel com a mãe e o filho de 2 anos, a estudante Jaqueline Inácia, de 22 anos, passa os dias cuidando da criança e ansiosa para que a vida possa voltar ao normal. A família dela, como tantas outras, precisou sair de casa devido ao risco de rompimento da mina de Gongo Soco.
"Nós somos de Ponte Paixão, zona secundária de Barão de Cocais. Há dois meses estamos no hotel e tudo mudou. Aqui dentro (no hotel), a gente fica com o psicológico abalado. Isso aqui está virando uma novela, cada dia com um capítulo. Estamos passando por coisas ruins que não fomos nós que plantamos", desabafou.
A jovem iniciou o primeiro período de direito em uma faculdade de Belo Horizonte neste ano, mas trancou o curso por medo de deixar a família sozinha em Barão.
"Eu não tenho cabeça para deixar meu filho e minha mãe aqui e ir estudar. Tenho medo de chegar e não conseguir entrar na cidade porque a barragem rompeu. Por mais que a Vale dê um apoio com psicólogos e hotel, nós precisamos de uma solução. Eu não quero dinheiro, não quero indenização. Só quero voltar para a minha casa", disse.
Durante o dia, para passar o tempo, moradores se juntam na porta do hotel. Lá, batem papo, trocam experiência, contam histórias. No carrinho de bebê, o pequeno Davi Gabriel, filho de Jaqueline, recebe o carinho dos outros hóspedes. Todos formam uma grande família.
"A Vale pode dar o dinheiro que for, mas nada compra nossas vidas, nossas histórias. A Vale está escrevendo a nosso história de uma forma que a gente não quer. Parece que Barão não tem futuro mais. Tudo que ela (Vale) quis, ela tirou da mina. A lama invisível tirou o nosso sossego", finalizou.