Milenar

Abundância de córregos e nascentes atraiu primeiras ocupações na Serra do Curral

Território já teve populações indígenas nômades e no período colonial se tornou palco de passagem dos tropeiros e bandeirantes

Por Lucas Morais
Publicado em 03 de janeiro de 2022 | 03:00
 
 
 
normal

Muito antes da formação do antigo Curral Del Rei, a região da Serra do Curral já abrigou populações indígenas nômades que também eram atraídas pela abundância de água. É o que contou o historiador da Fundação Municipal de Cultura, Raphael Rajão. Segundo o especialista, há vestígios de uma ocupação milenar que se arrastou até o período colonial, quando as primeiras fazendas também foram instaladas na região. A área, que é considerada a borda Norte do quadrilátero ferrífero, também ajudou a guiar bandeirantes que buscavam ouro pelas Minas Gerais.

"Vale lembrar que a Serra do Curral é um espaço de nascentes. Quando pensamos na ocupação original do território, temos que lembrar que ela abriga córregos que foram importantes para as populações se instalarem no terreno. Além disso, por ter essa parte mais alta, era até um referencial muito importante para localização dos viajantes", lembrou o historiador. Ao longo do século XVIII, a região se consolidou como ponto de passagem dos tropeiros, que levavam alimentos da Bahia e Norte de Minas para Ouro Preto e Mariana, principais palcos da exploração do ouro. 

Surge então o arraial, que mais tarde daria lugar à nova capital das Gerais, construída a partir do fim do período imperial - em 1873, a população do Curral Del Rei era de mais de cinco mil pessoas, número que pulou para cerca de 13.000 nos primeiros anos de BH. "Nesse contexto, temos inicialmente o uso das águas de novo, antes de chegar na mineração. Em um primeiro momento, a região da serra também se tornou área de chácaras. Havia ainda uma ideia de ter um cinturão verde que produziria os alimentos para a cidade. Só que não funcionou muito bem porque rapidamente esses terrenos acabaram tendo uma ocupação urbana", explicou.

A partir da segunda metade do século XX, formou-se na serra uma das maiores favelas da história de Belo Horizonte, chamada Pindura Saia. Em barracos de condições precárias, a comunidade cresceu, até que a prefeitura decidiu desapropriar praticamente toda a região para a extensão da avenida Afonso Pena. "Com a urbanização da região Sul, a favela foi demolida para a construção da via até a Praça da Bandeira e ainda tivemos várias obras que foram fazendo da região cada vez mais nobre. No início, inclusive, houve uma exploração irregular com avanços de bairros na serra", acrescentou.

Nos anos de 1960, ainda é criada a Ferrobel, empresa para a exploração de minério de ferro com participação municipal na área onde hoje fica o Parque das Mangabeiras. "O grosso da exploração durou em torno de 20 anos e, depois de encerrado, a localidade foi reflorestada para a criação do parque", disse o historiador.

Leia mais: Votação do tombamento da Serra do Curral deve ser concluído em seis meses

 

'Importante papel de referência da cidade'

Para o historiador, a Serra do Curral sempre exerceu um importante papel de referência na ocupação da região. "O mérito do tombamento vai ser debatido entre os órgãos de patrimônio, mas do ponto de vista da história da cidade a serra cumpre um papel que se relaciona desde o início da ocupação do território e passa por todos esses elementos. É uma oportunidade de valorizar todo o papel que essa paisagem carrega na trajetória da região, mais do que só da nova capital como um todo", finalizou.

 

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!