A condição materna prévia pode ser decisiva para uma gestação saudável e para mitigar os riscos de um parto prematuro. Para a médica Leila Denise Cesário Pereira, membro do Departamento Científico de Neonatologia da Sociedade Brasileira de Pediatria, além do quadro clínico da gestante, outros fatores podem influenciar o tempo de gestação. “A prematuridade é mais frequente quando existe história materna prévia de nascimento prematuro, nas gestações gemelares (o risco é maior quanto maior o número de fetos), quando ocorre infecção, hipertensão arterial ou diabetes na gestação, quando há dificuldade de crescimento fetal, em caso de reprodução assistida (por exemplo, fertilização in vitro), entre outras causas”, alerta.
Por essa razão, para a coordenadora da UTI Neonatal do Hospital Vila da Serra, Maria Lúcia Pessoa de Castro, uma das formas mais eficazes de se prevenir a prematuridade é garantir que a gestante faça consultas pré-natal regulares. “Quando a gestante tem dificuldades em realizar o mínimo de consultas pré-natais ou as inicia tardiamente, aumentam as chances de passar por uma cesariana, de ter complicações infecciosas, parto prematuro e baixo peso ao nascer”, explica.
O Ministério da Saúde preconiza como ideal pelo menos seis consultas ao longo da gestação. Em Minas Gerais, dos 241,7 mil nascidos vivos no ano passado, 0,93% não tiveram nenhuma consulta; 3,16% foram a um especialista de uma a três vezes; e 15,44% visitaram o médico de quatro a seis vezes ao longo da gravidez, segundo informações da Secretaria de Estado de Saúde. Ou seja, 80,3% das gestantes foram consultadas pelo menos sete vezes.
“A medida preventiva mais importante é a realização das consultas pré-natais desde o início da gestação. Somente assim as situações que aumentam o risco de prematuridade podem ser identificadas e tratadas em tempo oportuno. Por vezes, o nascimento prematuro pode ser evitado ou adiado por um breve período, dando-se à mãe medicamentos para retardar ou parar as contrações. Em situações determinadas, a mãe recebe injeções de corticosteroides para acelerar o desenvolvimento dos pulmões do feto e para prevenir o risco de sangramento cerebral”, explica a médica integrante da SBP, Leila Pereira.
Prematuridade repentina: quando não há razão para o parto antecipado
Quando a servidora pública Nausicaa Vernalha, 39, gestava a filha Letícia, em 2019, todos os exames indicavam uma gravidez saudável e normal. Mesmo sem os laudos médicos, a própria gestante fazia questão de se informar o máximo possível sobre a gravidez e, por essa razão, quando o tampão mucoso saiu na 34ª semana de gravidez, um sinal de alerta a levou a buscar orientação.
“Minha obstetra estava em viagem, mas, por telefone, me indicou a ir à maternidade. Chegando lá, os médicos que me avaliaram disseram que meu colo do útero estava muito fino e decidiram me internar para observação”, conta. Nausicaa ficou no hospital por alguns dias até que a médica dela chegasse, fizesse a avaliação e constatasse que a filha iria nascer em breve.
“Fiquei uma semana internada, tomei injeções com medicamento para que o pulmão da minha filha amadurecesse, tive bolsa rota (rompimento da bolsa uterina) e, quando completamos 35 semanas e quatro dias (8 meses), a Letícia nasceu”, conta.
Nenhuma razão prévia de saúde foi apontada como causa do parto prematuro. Nausicaa acredita, porém, que o motivo foi emocional. “Quando descobri a gestação, minha sogra soube que estava doente, com câncer. Éramos muito ligadas, e ela morreu quando eu estava no quinto mês”, diz.
Apesar de a filha, agora com 2 anos e 10 meses, não ter ficado com nenhuma sequela e hoje estar perfeitamente saudável, o trauma foi grande. “Foi um susto grande, e o pós-parto, difícil. Meu psicológico ficou tão abalado que até hoje olho para minha filha e tenho dificuldades de entender que ela está normal”, completa.