Ambientalistas da Fundação SOS Mata Atlântica percorrem em expedição os 356 km do rio Paraopeba, entre Brumadinho, na região metropolitana de Belo Horizonte, e a represa de Três Marias, na região Central de Minas. E os primeiros laudos sobre a qualidade da água após o rompimento da barragem da Vale são alarmantes. A água é péssima, imprópria para vida aquática e para o consumo humano.
A usina hidrelétrica de Três Marias é uma das mais importantes do país. Quem abastece a represa são os rios Paraopeba, São Francisco e outros afluentes da região Central de Minas. A Agência Nacional de Águas (ANA) não descartou nesta quinta-feira (7) que os rejeitos de mineração possam atingir o São Francisco. Pesquisadores da SOS Mata Atlântica revelam que amostras coletadas até Paraopeba, cidade situada a cerca de 94 quilômetros de Felixlândia, cortada pelo São Francisco, já mostram a baixa qualidade da água para a sobrevivência. “A qualidade da água é imprópria para qualquer tipo de consumo. Até agora, o nível de qualidade desde Brumadinho é péssimo”, disse Malu Ribeiro, especialista em água e que percorre o leito do rio desde o dia 31 de janeiro.
Expedição
A expedição começou no último dia 31 e se encerra neste sábado (9). A primeira análise da água foi feita 100 metros após o local que a lama de rejeitos da barragem I da mina Córrego do Feijão atingiu o rio, ainda em Brumadinho, e que deixou ao menos 157 mortos. Posteriormente, foram coletadas amostras de água em Mário Campos, onde o cenário permanece alarmante. “Neste local, sequer foi possível analisar outros indicadores a não ser a oxigenação da água, que chegou a zero e a turbidez, que estava quase 100 vezes o indicado pela legislação para água de rios e mananciais. O rio mais parecia um tijolo líquido“, afirma Malu.
É tudo lama
Segundo a especilista em água Malu, ainda não é possível saber quais elementos estão presentes na água do Paraopeba. “No momento da coleta, só é possível saber qual é o nível de qualidade da água. As amostras ainda serão levadas ao laboratório para confirmar a presença de metais pesados na água, e quais são eles. Ainda não é possível saber, por exemplo, sobre a mortalidade de peixes”, disse.
De acordo com a SOS Mata Atlântica, são utilizadas ferramentas de análise do Índice de Qualidade da Água (IQA). A cada 40 quilômetros, é coletada uma análise da água do Paraopeba. “Nós coletamos amostras em um ponto do rio, utilizamos imagens de satélite para definir qual será o nosso próximo destino e como vamos chegar até lá. Vamos de carro, percorrendo estradas de terra ou caminhos que são mais próximos do rio”, contou.
Solução paliativa não funciona
Segundo relatório feito pela Fundação SOS Mata Atlântica, as membranas instaladas pela Vale para impedir a passagem de rejeitos no rio Paraopeba em Pará de Minas, na região Central do Estado, não são totalmente eficazes.
A expedição realizou teste antes e depois de onde as membranas estão. Os especialistas constataram que no primeiro ponto havia um índice de turbidez de 683,8 NTU (sigla em inglês para a unidade matemática Nefelométrica de Turbidez), valor equivalente a seis vezes mais do que o indicado pela legislação ambiental, afirma a Fundação.
Aproximadamente 500 metros após as membranas, onde é feita a captação de água de Pará de Minas, a turbidez foi de 366 NTU, ou seja, as barreiras estão tirando aproximadamente 50% do volume de rejeitos.
A iniciativa faz parte do plano apresentado no dia 30 de janeiro pela Vale ao Ministério Público e aos órgãos ambientais. As barreiras instaladas têm 30 metros de comprimento e até três metros de profundidade. O “filtro” evita a passagem de partículas sólidas (argila, silte, matéria orgânica etc), que alteram a transparência da água.