A estudante de medicina Gabriela Bitencourt, de 27 anos, relatou nas redes sociais nessa segunda-feira (28) que teria sido assediada por um funcionário em uma unidade da rede de supermercados Extra, no bairro Santa Efigênia, região Leste de Belo Horizonte. O depoimento somava quase 3 mil curtidas e 1 mil comentários quando a reportagem foi publicada. Junto ao namorado, Raphael Bernardo, ela registrou um boletim de ocorrência (BO), enquanto diversas pessoas provocavam uma torrente de questionamentos à empresa nas redes sociais.
No relato aos policiais militares que compareceram ao local, a mulher afirma que um homem, supostamente funcionário do local, "pardo, com cerca de 1,90m, vestido com roupas brancas, uma touca e máscara preta", a seguiu durante diversos momentos dentro do supermercado. Primeiro, ela o encontrou na padaria, onde ele começou a se aproximar, segundo o BO. Depois, Gabriela foi seguida pelo homem até o setor de hortifrútis, e em outra sessão, não identificada pelo documento.
Com isso, a estudante, que estava separada de seu namorado até então, foi ao “centro” do estabelecimento para encontrá-lo. Nesse momento, ela contou a Raphael o que havia ocorrido e ambos foram até o caixa. Lá, o casal contou o episódio a uma funcionária, que os orientou a registrarem uma queixa na central de Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC).
Gabriela afirmou aos militares que o funcionário “insistia em observá-la” e que, ao apontar para o homem, ele se abaixou para não ser visto – versão que foi corroborada pelo namorado dela.
Por fim, os dois se dirigiram à saída do supermercado e, conforme o relato, “o homem a seguiu, mantendo o mesmo comportamento”. Gabriela disse que o gerente da unidade informou que a pessoa apontada por ela seria funcionário do açougue e que foi bem atendida. Comportamento que, segundo ela, mudou após a chegada dos militares.
No boletim de ocorrência, o gerente negou que identificou o funcionário e, um dos fiscais da loja que antedeu o casal, relatou que o suspeito “não estava no local, uma vez que estava encerrado o horário de trabalho dele”. Questionada, a administração do supermercado informou que o sistema de câmeras de segurança estava “inoperante” devido a um problema técnico.
“Durante o atendimento, os militares presenciaram a solicitante chorosa, aparentando estar constrangida”, ressalta o documento registrado pela Polícia Militar. Em nota, a empresa reconheceu a existência do funcionário e afirmou que "até que o Extra conclua a apuração interna" do que ocorreu, ele está afastado.
“(O suspeito estava) na porta, me esperando sair. Apontei ao segurança dizendo ‘é ele, é ele” e o segurança alegou falando ‘eu sei’. Da porta do estabelecimento para fora, só queria ir embora. O funcionário foi, inclusive, até a porta da loja para me ver sair. Ficamos por volta de 30 minutos na avenida Francisco Sales, esperando as autoridades. Fomos informados de sua chegada, e de que já estavam dentro do estabelecimento. Encontramos com dois policiais, um homem e uma mulher, no interior da loja. E a partir deste momento, sofri uma das maiores invalidações da minha vida, e acredito que a maior humilhação que já senti: A da descredibilidade”, escreveu Gabriela.
No relato publicado nas redes sociais da estudante, há uma versão diferente daquela registrada pela Polícia Militar. A mulher afirma que foi “considerada quase como uma louca diante das autoridades” pelos “mesmos funcionários que antes estavam me apoiando”. “Ninguém mais viu nada, só eu. Neste momento, ele não era mais um funcionário ‘poderia ter sido um médico, qualquer pessoa de branco’, e todas a informações começaram a desencontrar”, disse.
“Nada tinha sido gravado. Ninguém viu nada. O homem, então, ‘nunca existiu’. O supermercado fez com que esse homem, que pela boca do gerente era do açougue, agora fosse da minha imaginação”, desabafou Gabriela. Ela descreveu que “a única pessoa” que a confortou na situação foi uma policial mulher, que, de acordo com a estudante se chama “Marina”, que teria se virado “aos homens do supermercado” e dito: “E se fosse com a sua filha? E se fosse comigo? Vocês iriam tratar assim?”. “Mais um grito mudo de uma mulher. Mais uma voz feminina calada. E o assédio que eu sofri, aos olhos do mundo, não significaram nada”, conclui o texto.
Com a repercussão do relato de Gabriela, diversas pessoas foram até as redes sociais da rede de supermercados Extra pedir um posicionamento sobre o caso. Em especial, uma publicação de uma campanha publicitária pró-diversidade foi alvo dos questionamentos.
“Nos stories pedem o fim da violência contra a mulher, mas encobertam assediador? Aguardando posicionamento”, escreveu uma mulher. “Nós mulheres vamos ter segurança na loja de vocês ou o que importa são abusadores como funcionários?”, questionou outra.
Confira a nota encaminhada pelo Extra à reportagem:
"O Extra tomou conhecimento do relato na noite dessa 2a feira (28/9) e imediatamente abriu um processo interno de apuração que consiste em levantar mais informações da unidade em questão e contatar a cliente - o que foi realizada na manhã desta 3a feira (29/9). Além do pedido de desculpas pela experiência relatada, a rede também coletou mais detalhes para a investigação, garantindo a apuração com rigor. Até que o Extra conclua a apuração interna, o colaborador citado pela cliente está afastado. A rede contribuirá ainda com as investigações das autoridades competentes"