Enquanto o boletim epidemiológico da prefeitura confirma 20 mil casos de coronavírus em Belo Horizonte, os resultados de mais uma análise do esgoto estimaram que pelo menos 850 mil pessoas na capital mineira já se contaminaram pela doença. O número representa quase 35% da população belorizontina. Conduzido pela UFMG, o projeto-piloto Covid Esgotos traz balanços semanais sobre a expansão da pandemia.
Na semana passada, os pesquisadores estimavam que a quantidade real de infectados pela doença se aproximava de 500 mil. Com a nova análise, o crescimento de casos em sete dias foi de 70%. O balanço do projeto aponta ainda que o número de registros da Covid-19 pode ser até 43 vezes maior que as estatísticas oficiais.
As amostras são coletadas nas sub-bacias dos ribeirões do Onça e Arrudas, que recebem efluentes de toda a capital mineira. Para o Boletim de Acompanhamento nº 9, os resultados indicam um "novo aumento na projeção de pessoas infectadas, afastando a análise de que a infecção havia chegado a um platô".
Já os dados da prefeitura apontam que a taxa de transmissão da doença chegou ao menor nível desde o início da pandemia, em março. Porém, mesmo com o número positivo, a ocupação dos leitos de UTI exclusivos para pacientes com a Covid-19 é superior a 88%, índice de alerta vermelho, o que impediu a retomada da flexibilização das atividades comerciais na próxima semana.
Os pesquisadores lembram ainda que as pessoas contaminadas "podem excretar partículas virais em fezes por um período de até quatro semanas e que o monitoramento reflete toda a população que pode contribuir com partículas virais para o esgoto, em diversos estágios da infecção, sintomáticos e assintomáticos".
Vírus em 100% da coletas
E pela nona semana consecutiva, o balanço mostrou que a Covid-19 foi identificada em 100% das amostras coletadas na bacia do ribeirão do Onça. Já no Arrudas, o índice foi alcançado pela sétima semana consecutiva. Para o estudo, as contaminações mais recentes estão concentradas na última bacia, que vai desde o Barreiro, passa pelo hipercentro e termina na região Leste, já na divisa com Sabará – ao todo, 700 mil pessoas que vivem nessa área já teriam sido infectadas.
"Já na bacia do Onça, a população estimada de infectados tem se mantido estável nas últimas quatro semanas epidemiológicas", conclui. Além da UFMG, o projeto-piloto Monitoramento COVID Esgotos tem o apoio da Copasa, Secretaria de Estado de Saúde, Instituto Mineiro de Gestão das Águas e Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico.
Duração de dez meses
A expectativa é que o trabalho dos pesquisadores tenha duração de dez meses. O objetivo é identificar a disseminação do vírus na capital mineira e também em Contagem, na região metropolitana, para indicar as áreas com maior incidência da doença. "Com os dados obtidos, será possível saber como está a ocorrência do novo coronavírus por região, o que pode direcionar a adoção ou não de medidas de relaxamento consciente do isolamento social", enfatiza o estudo.