O grave acidente que tirou a vida do estudante de direito André Diláscio Vial, 19, e deixou o irmão dele, de 22 anos, gravemente ferido, na última quarta-feira (15), na BR-040 em Itabirito, na região Central do Estado, tem mobilizado centenas de pessoas nas redes sociais em uma campanha reivindicando da concessionária Via 040 melhorias na rodovia, apontada por especialistas como uma das mais perigosas do país. Os dois irmãos são naturais de São João del Rei, no Campo das Vertentes, e voltavam de Belo Horizonte.
Segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF) chovia forte no trecho do km 588, próximo ao restaurante da Celinha, por volta de 12h45, quando o veículo Fox, dirigido pelo irmão de André, deslizou, no sentido Rio de Janeiro, pela faixa contrária, e atingiu de frente um caminhão que vinha no sentido capital. “O local é um declive no sentido RJ e a pista estava molhada devido à chuva intensa”, disse a PRF no boletim de ocorrência do acidente. André morreu a caminho do hospital e o irmão está internado em coma, com múltiplas fraturas, no Hospital de Pronto-Socorro João XXIII. André, de acordo com familiares, estava no terceiro período da faculdade de Direito, enquanto o irmão está prestes a se formar como engenheiro mecânico. No dia do acidente, os dois haviam viajado até Belo Horizonte para tirar passaporte.
Conforme levantado por O TEMPO em reportagem especial publicada no dia 30 de abril, o trecho mais perigoso da BR-040 é justamente o trecho entre Itabirito e Conselheiro Lafaiete. No local, há uma sequência de curvas que rotineiramente provocam saídas de pista. Como não há separação física entre os dois sentidos, são frequentes as colisões frontais nesse trecho. A situação é pior devido ao grande fluxo de caminhões de minério na região.
Apenas em 2018, 127 pessoas morreram na BR-040. No total, foram 1.702 acidentes no ano passado, em que 2.099 pessoas ficaram feridas, segundo dados da PRF. Nos últimos quatro anos, foram 577 mortes na rodovia, frutos de 9.710 acidentes que deixaram, ainda, 10.344 pessoas feridas.
Somente em postagens chegadas à esta reportagem, foram 213 manifestações pedindo respostas à Via 040 após o acidente dos irmãos de São João del Rei. Personalidades com mais de 1 milhão de seguidores também compartilharam a mensagem. “Mais quantas pessoas terão que morrer para vocês, Via 040, entenderem que o trecho de Congonhas a Belo Horizonte é uma estrada assassina? Estrada suja, imunda, sem sinalização, sem drenagem superficial, com alto fluxo de carretas carregadas. Além disso, ainda pagamos pedágio. O que mais precisa acontecer?”, questionava a publicação divulgada.
Primo dos irmãos que sofreram o acidente, o engenheiro civil Pedro Diláscio de Oliveira, 28, foi quem iniciou a campanha nas redes sociais. “No mesmo dia, no trecho entre Congonhas e BH, teve outro acidente com vítima fatal. Eu sou engenheiro civil e já trabalhei naquela via. Hoje trabalho no Rio de Janeiro e as condições da via para o Rio são discrepantes das condições do trecho entre Congonhas e Belo Horizonte. Estou há três anos no Rio e é difícil ver acidente na estrada. Tenho muitos amigos que moram em Belo Horizonte e relatam acidentes frequentemente. Choveu, acidente, morte. O trecho é pela concessão da Via 040. Pagamos pedágio. As faixas são cobertas por poeira, que vira lama quando chove. A via é quase toda de duas pistas, porém temos várias pontes que afunilam e fica somente uma via única”, afirmou.
Para Oliveira, campanha que pede respostas é para que nenhuma família precise passar pela dor de perder entes queridos. “Os dois são exemplos, nunca beberam na vida.O André tinha muitos amigos. No velório tinham todas as turmas de São João del Rei. Amava andar de moto, skate, sair com os primos para tomar açaí, jogar peteca, ir para a fazenda. Era o amigo ideal. No velório, todas as mães falaram que deixavam os filhos irem para os lugares pois o André ia dirigindo e, como não bebia, estava tranquilo. Tem dez dias que minha avó morreu e vivia na mesma casa que eles. Vai deixar um vazio muito enorme para minha tia. Imagina a dor que ela está sentindo”, contou.
Socorro. O primo das vítimas informou ainda que um caminhoneiro que prestou socorro aos irmãos informou que o resgate demorou a chegar. No boletim de ocorrência da PRF, o órgão informa que solicitou à VIA 040 a presença das equipes de resgate, médicos e demais recursos necessários, mas que a ambulância que compareceu ao local chegou sem médicos, apenas com resgatistas.
Resposta. Em nota, a Via 040 informou à reportagem que foi acionada para atender a ocorrência e que enviou ao local uma ambulância de resgate e uma ambulância avançada (UTI móvel), com equipes aptas tecnicamente para realizar todo o socorro médico necessário.
“A respeito da fiscalização do tráfego, a concessionária ressalta que no trecho em questão existem quatro radares controladores de velocidade, devidamente sinalizados por placas regulamentares e educativas, conforme previsto na legislação de trânsito. A Via 040 reitera que realiza continuamente a manutenção e conservação da rodovia, com serviços de melhoria de asfalto, sinalização vertical (placas e tachas refletivas) e horizontal (pintura de faixas)”, finalizou a nota.