Após o rompimento da barragem de rejeitos da Vale, em Brumadinho, na região metropolitana de Belo Horizonte, no dia 25 de janeiro, o Memorial Minas Gerais Vale, integrante do Circuito Cultural Praça da Liberdade, fechou as portas e declarou que retomaria as atividades hoje. No último sábado, contudo, por meio de assessoria de imprensa, foi informado que o espaço está “temporariamente fechado”, e não há previsão de reabertura.
Desde a tragédia, que provocou 134 mortes, enquanto outras 199 pessoas ainda estão desaparecidas – de acordo com o último balanço divulgado nesta segunda-feira (4) –, houve uma série de protestos contra a Vale na porta do edifício.
Artistas também têm se posicionado, como o poeta, performer e escritor Ricardo Aleixo, que, no último dia 28, cancelou sua participação no Sarau do Memorial da Vale, dentro da programação do Verão Arte Contemporânea (VAC), agendado para a próxima quinta-feira.
No e-mail, enviado à coordenação do VAC e depois publicado no Facebook, ele lembrou dos familiares que viveram no início do século XX em Mariana, “onde, em 2015, ocorreu o primeiro dos crimes cometidos pela acima mencionada empresa da morte”, disparou Aleixo.
Um dia depois, 17 artistas, que participavam de uma retrospectiva no Memorial, produziram uma carta aberta anunciando a retirada coletiva das obras em exposição. A decisão foi tomada “em repúdio à empresa patrocinadora responsável pelo crime ambiental em Brumadinho e em solidariedade às vítimas dessa atrocidade”.
Para a historiadora e escritora Heloísa Starling, que coordenou a equipe responsável pelo conteúdo exposto no Memorial, a suspensão das ações do espaço, contudo, não beneficia a cidade. “Acho que é importante canalizarmos a dor, a indignação e a própria impotência que estamos sentindo para os lugares certos, porque não é atingindo os espaços de cultura que isso vai nos ajudar a agir politicamente contra o que está acontecendo”, declarou Heloísa.
Fiscalização em todas as instâncias
Para a historiadora e escritora Heloísa Starling, é necessário elaborar o luto e refletir sobre o que tem contribuído para a recorrência de tragédias como Mariana e Brumadinho. A seu ver, é importante fiscalizar os responsáveis em todas as instâncias, com ações mais efetivas de combate a esse cenário de devastação.
“Nossa força como mineiros, nossa indignação, tem que significar um conjunto de cobranças e de ações coletivas em lugares que não são os da cultura, porque isso não vai nos levar a lugar nenhum. Cadê a atuação dos nossos deputados e a legislação que eles tinham que votar? Quais são as iniciativas do poder executivo de antes e de agora? Quais são as responsabilidades daqueles que têm definido a política de mineração da Vale? O que foi feito pelos órgãos de controle? É nesses lugares que vamos obter resultados que nos permitam botar limites nessa devastação”, afirma Heloísa.