Os professores de escolas particulares de Belo Horizonte podem deflagrar uma greve após três anos. Uma paralisação está marcada para acontecer na próxima terça-feira (24) e uma assembleia da categoria definirá, no mesmo dia, os rumos do movimento. Pais entrevistados pela reportagem de O TEMPO se mostram preocupados com uma possível interrupção das aulas.
A principal reivindicação, segundo um diretor do Sindicato dos Professores do Estado de Minas Gerais (Sinpro-MG), é garantir os direitos dos profissionais da educação da rede privada. “O norte da campanha é nenhum direito a menos. Nos últimos anos, desde a reforma trabalhista, estamos nadando contra a maré. Os patrões estão apresentando as pautas para aprovarmos e ignorando a dos professores”, disse em anonimato.
Um dos pedidos dos professores, por exemplo, é o reajuste salarial de mais de 20%, baseado nos índices da inflação e na valorização do profissional. “O que nos apresentam é um absurdo: 5% para a educação básica e 4% para ensino superior. É de indignar. O professor trabalhou demais na pandemia: teve que levar a escola pra dentro de casa, dançar na frente da câmera, pensar estratégias pedagógicas. Tudo isso para não ser reconhecido”.
Conforme informado pelo diretor sindical, a adesão à paralisação de terça está alta. No entanto, professores ouvidos pela reportagem disseram que estão sofrendo retaliações e até mesmo sendo ameaçados de demissão, caso participem do ato. Uma das denúncias veio de profissionais do Colégio Loyola.
“É triste vermos escolas fazendo este tipo de retaliação. Escolas que deveriam ser celeiros de cidadãos críticos e pessoas que influenciam no mundo é até contraditório. Pregam uma coisa e querem amordaçar os próprios profissionais”, desabafou o diretor sindical.
Procurada pela reportagem, a assessoria do Colégio Loyola disse que “reafirma o compromisso e respeito com todos seus funcionários”. A instituição diz ainda que concedeu reajuste salarial de 12% para os funcionários e além de oferecer 100% de bolsas de estudos para os filhos de todos os colaboradores.
A assembleia acontecerá a partir das 10h no Espaço José Aparecido de Oliveira da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). "Vamos acolher a indignação dos professores. O estado de greve pode ser deflagrado a qualquer momento, pois o patronal não recua nas negociações", finaliza o diretor em anonimato.
Preocupação em pais
A última greve na rede particular de ensino de Belo Horizonte aconteceu no final do primeiro semestre de 2018 e durou por dez dias. A possibilidade do movimento iniciar preocupa a profissional de Relações Públicas Raphaela Mayrink, de 35, já que a filha, de 14, está matriculada no 9º ano do ensino fundamental.
“Fico preocupada porque a qualidade de aprendizado já está comprometida por conta do ensino virtual durante o período da pandemia. Os alunos não foram preparados para o digital e nem inseridos [ao presencial]. Não excluo a luta pelos direitos dos professores, mas acredito que antes da greve possivelmente começar, caberia mais sensibilidade das direções não pensarem somente no retorno financeiro”, diz.
Paralisação confirmada
A paralisação dos professores de escolas particulares de Belo Horizonte e de municípios abrangidos pela Convenção Coletiva de Trabalho (CCT-MG) está confirmada para a terça-feira e já faz com que algumas instituições de ensino desmarquem as aulas na data. Uma das que já enviaram o comunicado aos pais é a Escola da Serra, que fica no bairro de mesmo nome, na região Centro-Sul da capital.
O comunicado informa que a categoria dos professores vai se reunir no dia em Assembleia Geral para discutir sobre a campanha salarial de 2022. "Portanto, comunicamos que no dia 24/05 não haverá atividade escolar em nenhum dos turnos. Contudo, nossas atividades administrativas e de apoio seguirão normalmente. Em breve anunciaremos o dia da reposição no calendário escolar", diz a nota.
Professores do Colégio Magnum distribuíram um comunicado impresso entre a comunidade escolar informando a intenção de pararem as atividades na terça-feira. "Nós, professores do Colégio Magnum Cidade Nova turnos manhã e tarde, decidimos, por ampla maioria de votos após assembleia geral da categoria realizada no dia 18 de maio de 2022, aderir à paralisação do dia 24.5.2022. Neste dia, os professores acompanharão a assembleia e atividades da categoria e, dia 25.5.22 (quarta-feira) retomarão às atividades", disse o informe.
Porém, procurado pela reportagem, o colégio não confirmou que haverá paralisação na quarta-feira. Após a publicação da reportagem, a instituição de ensino reforçou em nota que: "esclarecemos que o colégio não fez nenhuma comunicação ou posicionamento conforme publicado pela matéria".
Professores do Colégio Batista, unidade Castelo, também declararam intenção de aderir à paralisação. O colégio também não se pronunciou sobre o assunto.
Há relatos de que outros colégios estejam avaliando a suspensão de aulas na data.
Procurado, o Sinpro-MG se manifestou pelo diretor José Carlos Arêas. À reportagem, ele afirmou que a categoria toda está indignada pelo fato de o Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais (Sinepe/MG) não repassaram "nem o INPC, além de oferecerem uma situação bem abaixo". Para o diretor, atualmente "está boa a sensibilidade dos professores e há uma adesão significativa", incluindo cidades-polo onde o sindicato atua, como Varginha.
Procurado, o Sinepe informou que "se encontra em plena interação em suas negociações" com os sindicatos e que desenvolveu, de acordo com as diretrizes alinhadas entre as instituições de ensino associadas, "as tratativas que envolvem as demandas das partes".
O grupo que representa as escolas lembrou dos efeitos causados pela pandemia e que 90% dos associados são micro e pequenas empresas "que ficaram muito afetadas por causa do impacto da queda do capital de giro e do fluxo de caixa neste período de pandemia".
"Sabe-se que este aspecto, em organizações de pequeno porte, exclusivamente dependentes de uma dinâmica econômica razoavelmente favorável, requer uma atenção redobrada na gestão de seus custos e recursos, para que estes sejam suficientes para uma sustentabilidade que promova uma boa qualidade na oferta e na entrega dos serviços educacionais às famílias e aos estudantes e, consequentemente, na manutenção dos empregos e de todo o bom e seguro andamento das atividades em geral", argumentou.
O Sinepe ponderou que tem, historicamente, "anos de ótimas negociações que permitiram o desenvolvimento de nosso segmento educacional, de forma a permitir a prosperidade dos profissionais e das instituições de ensino, no nível do reconhecimento de Minas Gerais como um estado de excelência educacional". O sindicato, entretanto, não se manifestou sobre a adesão de escolas à paralisação.