Se por um lado a aprovação pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para uso emergencial da Coronavac comprovou a eficácia da vacina, por outro gera o temor de que a distribuição do imunizante seja prejudicada no Brasil. Isso porque, após o aval da entidade, países europeus devem começar a aplicar o fármaco.

E, atualmente, o insumo para produção da Coronavac pelo Instituto Butantan vem da China. Mas, com a maior procura, o receio é que o ingrediente farmacêutico ativo (IFA) - substância capaz de produzir o efeito desejado da vacina - destinado ao Brasil seja repassado para outras localidades ao redor do mundo.

"Com a aprovação pela OMS, outros países vão se interessar e, obviamente, aumentar a demanda. Mas não sabemos se vai ter a mesma oferta. Não sabemos se o Butantan já tem reserva técnica do IFA. Se não tiver contrato com garantia de fornecimento, é preocupante, já que outros países vão entrar na fila de disputa", explicou o infectologista Estevão Urbano.

Membro do Comitê de Combate à Covid-19 em Belo Horizonte e presidente da Sociedade Mineira de Infectologia (SMI), o médico ressalta que, até o momento, o Butantan não produz o IFA. "E enquanto depender de insumos da China, fica a preocupação constante. Se houver uma competição desse produto (IFA), e começar a faltar o substrato, poderemos ser afetados", observou.

Apesar da preocupação dos especialistas, o Butantan garante que nada muda após a aprovação da OMS. O instituto informou que vai continuar produzindo e distribuindo a Coronavac no Brasil. Em nota, ainda ressaltou que recebeu com satisfação e entusiasmo a notícia da aprovação do uso emergencial da vacina contra o novo coronavírus desenvolvida em parceria com a biofarmacêutica Sinovac.

"É uma vitória da ciência. O Butantan se orgulha de ter contribuído para mais essa conquista, uma vez que a OMS considerou, para sua decisão, os dados de eficácia da vacina produzidos a partir de pesquisa clínica de fase 3 com 12,5 mil voluntários realizada no Brasil sob a coordenação do instituto entre julho e dezembro de 2020", celebrou.

"A chancela da vacina pela maior autoridade mundial na área da saúde coroa de forma histórica os esforços do Butantan a serviço da vida", diz outro trecho do comunicado. Estevão Urbano também comemorou a decisão. "Pode ter uma competição maior pela vacina, mas o lado ótimo é o reconhecimento da eficácia da Coronavac", pontuou.

Hoje, a Coronavac é a vacina mais aplicada no Brasil. Em Belo Horizonte, das 1.558.235 de doses enviadas pelo Ministério da Saúde, 808.565 são do imunizante fabricado pelo Butantan.

Aprovação

Nesta terça-feira (1º), a OMS aprovou a vacina Coronavac, desenvolvida pela chinesa Sinovac e fabricada também no Brasil. O fármaco foi incluído na lista de uso emergencial (EUL) da entidade, o que permite que seja distribuída pelo consórcio Covax - que distribui imunizantes para mais de 100 países no mundo.

A autorização da Coronavac pela OMS também abre caminho para que brasileiros vacinados com ela tenham seu acesso facilitado à União Europeia, quando o bloco abrir suas fronteiras para viajantes que partem do Brasil. Pelas recomendações da UE, os países podem dispensar testes e quarentenas de quem tenha tomado as doses regulamentares de um imunizante aprovado pela OMS - mas o bloco restringe países onde a pandemia de coronavírus está fora de controle ou onde há variantes mais contagiosas.

A inclusão de uma vacina na EUL significa que ela teve sua qualidade, segurança e eficácia verificadas. Com base nas evidências disponíveis, a OMS recomenda a Coronavac para adultos de 18 anos ou mais, em um esquema de duas doses com espaçamento de duas a quatro semanas. Segundo a organização, os estudos mostraram que a vacina preveniu doenças sintomáticas em 51% dos imunizados e preveniu Covid-19-19 grave e hospitalização em 100% da população estudada.

Embora a porcentagem de maiores de 60 anos nos ensaios clínicos tenha sido pequena, a OMS diz que os dados coletados durante as campanhas de vacinação em vários países mostram que seu efeito protetor nos mais idosos é semelhante ao obtido entre os mais jovens. Em experimento realizado em Serrana, no interior paulista, com mais de 95% das pessoas vacinadas, as mortes provocadas por Covid-19 caíram 95%.

*Com Folhapress