Com a pandemia do novo coronavírus, muitos estabelecimentos em Belo Horizonte precisaram fechar as portas após determinações da prefeitura. Entre eles, estão os hotéis do Centro da cidade, que costumam ser o local de trabalho para garotas e garotos de programa. Com isso, os relatos de prejuízos e violência aumentaram durante o período de isolamento social. de acordo com a Associação das Prostitutas de Minas Gerais.
Em entrevista ao programa Patrulha da Cidade, da rádio Super Notícia 91,7 FM na tarde desta terça-feira (2), Cida Vieira, presidente da entidade, contou como tem sido difícil a vida das prostitutas ultimamente. "O que acontece hoje em dia é que, devido à medidas contra a Covid-19, a gente tem essa questão de ficar em casa. Mas as contas de água luz e telefone continuam chegando. Para o trabalhador sexual, ele tem que estar com a sua clientela", afirmou.
De acordo com ela, os relatos de violência estão aumentando. "Com as boates fechadas, por exemplo, o índice de violência está aumentando, e as pessoas estão preocupadas. Hoje mesmo eu recebi a notificação de uma garota que foi espancada pelo marido. A violência aumentou porque elas não têm a quem recorrer, porque tudo está fechado. Tem o disque-denúncia, e estamos incentivando as pessoas a ligarem. Tem isso de delegacia virtual, mas nós sabemos que nem tudo virtual funciona, algumas coisas tem que se presencial", explica.
O TEMPO mostrou que mesmo diante da proibição, algumas prostitutas se arriscam em prédios que funcionam clandestinamente e até mesmo em avenidas como a Paraná e a Santos Dumont. "A gente não tem segurança nenhuma, na rua é todo mundo contra todo mundo, ninguém é amigo de ninguém", disse uma prostituta de 42 anos que estava à procura de clientes.
A reportagem tentou falar com outras garotas de programa na manhã dessa terça-feira, mas elas preferiram não dar entrevista. Uma delas disse que não podia falar "porque eles matam", sem dar mais detalhes sobre a ameaça.
Conscientização
Segundo Cida Vieira, a associação tem orientado as garotas a respeito do risco de transmissão da Covid-19 durante as práticas sexuais. "Estamos trabalhando nessa questão da saúde, da prevenção. Também estamos com a arrecadação de cestas básicas, do kit higiênico e também nas consientização. Usar máscara, não beijar, ficar mais de costas são algumas das medidas que a gente está orientando para os trabalhadores sexuais", pondera.
Ela também reclamou sobre o preconceito enraizado na sociedade contra trabalhadores dessa classe. "Nós temos vida própria, nós somos trabalhadoras, temos direito à aposentadoria e ainda somos julgadas por sermos prostitutas e termos família. São casadas, tem namorado, tem relacionamento, mas a sociedade nos julga e a gente se sente discrimindada", concluiu.
Dois de junho é comemorado o Dia Internacional da Prostituta ou o "Puta Day", data que chama atenção para a discriminação sofrida pela classe. No Brasil, a prostituição não é crime. Porém, ganhar dinheiro com essa atividade exercida por outra pessoa é crime previsto pelo artigo 230 do Código Penal. A pena é de um a quatro anos de prisão e multa.