O número de beneficiários do novo Auxílio Emergencial supera o total de empregados com carteira assinada em mais da metade dos municípios de Minas Gerais. É o que revela um levantamento inédito realizado por O TEMPO a partir de informações do Ministério da Economia e da Controladoria Geral da União (CGU).

São ao todo 440 cidades mineiras nesta situação (51,6%), incluindo as populosas Ribeirão das Neves e Ibirité, na região metropolitana de Belo Horizonte. Em 185 delas, os favorecidos representam mais que o dobro do total de trabalhadores em regime CLT.

A análise se limita aos desempregados, informais e autônomos que solicitaram a ajuda financeira pelo aplicativo da Caixa Econômica Federal após a chegada do coronavírus. Não inclui, portanto, os socorridos desde antes de abril pelo Bolsa Família e demais pagamentos do Cad Único (Cadastro Único para Programas Sociais), incorporados ao Auxílio durante a pandemia.

Os profissionais de carteira assinada não têm direito ao benefício, separando assim os trabalhadores em dois grupos distintos. Os números apresentam um novo retrato sobre a informalidade, além da alta dependência econômica dos municípios em relação aos empregos e gastos públicos.

 

Retrato do interior

Segundo os últimos dados consolidados pelo Ministério e pela CGU, Minas Gerais registrava em julho um total de 3,9 milhões de postos formais. Enquanto isso, 1,8 milhão de desempregados, informais ou autônomos receberam o benefício emergencial criado especialmente para amenizar os prejuízos causados pelo coronavírus.

A análise mais detalhada, no entanto, revela que 50% dos contratados em regime CLT estão concentrados em apenas 14 grandes cidades. A outra metade dos empregos está espalhada pelos demais 839 municípios do Estado, onde vivem dois terços da população.

 

Na avaliação da professora Débora Freire, do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), o levantamento confirma que a pandemia agravou a deterioração da renda e afetou principalmente os trabalhadores informais.

“Esses dados mostram que já havia um processo de empobrecimento dos municípios menores, com uma parcela grande de pessoas na informalidade. A crise acentuou esse quadro, exatamente porque essas cidades dependem mais do setor de serviços básicos e dependem muito do setor público, tanto no emprego quanto na transferência de renda", explica a economista.

A análise realizada por O TEMPO também mostra que as regiões mais pobres de Minas apresentam uma maior dependência em relação ao Auxílio Emergencial, mas as áreas mais ricas e produtivas do Estado foram proporcionalmente mais beneficiadas pelo programa.

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Mais de um terço dos beneficiários ficou sem o pagamento

Segundo o Ministério da Cidadania, 2,8 milhões de mineiros eram beneficiários em potencial do novo Auxílio Emergencial em julho, sem contar os 1,4 milhão de favorecidos pelo Bolsa Família e outros 1,1 milhão de inscritos no Cad Único.

Apesar disso, só 1,8 milhão de pessoas elegíveis efetivamente receberam a parcela referente ao mês de julho no Estado, como confirmou a CGU em contato com a reportagem. E esse número vem caindo a cada mês. O TEMPO questiona o órgão, o Ministério da Cidadania e a Caixa Econômica sobre o tema desde o dia 28 de agosto, mas as respectivas assessorias ainda não explicaram a diferença.

Até agora, o benefício era de R$ 600, limitado a até duas pessoas da mesma família, ou R$ 1.200 para os lares em que a mulher seja a única responsável pelas despesas. Para se enquadrar nos critérios do programa, a família não pode ter renda superior a meio salário mínimo por pessoa (R$ 522,50) ou três salários mínimos no total (R$ 3.135,00).

Na última terça-feira (1), o governo federal anunciou a prorrogação do Auxílio por mais quatro parcelas, mas com o valor reduzido pela metade. “Diferença faz, mas é melhor pingar do que faltar. R$ 300 já vai me ajudar também”, comemora o beneficiário Carlos Ferreira Macedo, 40, colaborador de uma clínica terapêutica em Ribeirão das Neves.

Segundo o instituto de pesquisa Datafolha, a popularidade do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no mês de agosto foi a maior desde o início do mandato (37%), puxada justamente pelos trabalhadores informais ou desempregados com renda familiar de até três salários mínimos.

Início de recuperação

Em relação aos empregos formais, os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) indicam que o mercado laboral em Minas Gerais começou a reagir em julho, com um saldo positivo de 15.843 vagas criadas. No acumulado do ano, porém, o Estado amargava 102 mil postos de trabalho perdidos em relação a janeiro.

 

*Colaboraram Rômulo Almeida e Bruno Menezes

 

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