O “corre corre” para retirar aeronaves do Aeroporto Carlos Prates, na região Noroeste de Belo Horizonte, e levá-las até mesmo para Divinópolis, no Centro-Oeste de Minas Gerais, marcou a sexta-feira (31). É que a partir deste sábado (1º), o aeródromo, conforme o governo federal, tem desativação prevista. Um ofício da Infraero (Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária) endereçado aos concessionários do terminal, em 20 de março, determinou que todos os equipamentos deixassem o espaço, visto que será entregue para a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH).  

Apesar da determinação, nem todas as aeronaves foram retiradas em tempo hábil por falta de local para colocá-las. É o que afirma um integrante da Associação Voa Prates, que representa empresários, pilotos, instrutores, mecânicos e mais de 500 empregados que atuam no aeroporto Carlos Prates, e que terá o nome preservado a pedido.

“As aeronaves, que estão em condições de voar, praticamente saíram todas. Boa parte foram para hangares particulares. Nesta sexta mesmo teve uns três que tiveram o pedido negado para ficar no Aeroporto da Pampulha e tiveram que ir para Divinópolis [que fica a 117 km de BH] e Pará de Minas. Essa retirada acontece pois estamos sendo expulsos e despejados”, afirmou.

Um balanço chegou a ser solicitado por O TEMPO, no entanto, devido às movimentações de retirada não foi enviado à reportagem. “Saíram muitos aviões. Confesso que não sei precisar quantos, mas dá para afirmar que boa parte deixou o Carlos Prates”. No aeródromo ainda permanecem, ao menos, cinco aeronaves que estão em manutenção. “Essas não vão sair tão cedo”, explicou.

A incerteza paira sobre todos, conforme comentou o integrante da Associação Voa Prates, já que no ofício encaminhado pela Infraero, foi ressaltado que os "bens não retirados em tempo hábil serão considerados abandonados, cuja posse ficará com a concedente, podendo delas dispor na forma da lei". 

“O que vai acontecer a partir de 1º de abril? Ninguém sabe, pois não há orientação. O prazo que nos foi dado é insuficiente para tirar tudo. O que está ficando é por questão de logística. Até mesmo funcionários da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) nos ligaram perguntando o que vamos fazer. O clima é péssimo e muitas pessoas saíram daqui chorando”, contou.

A desativação do aeroporto vai provocar o desemprego de várias pessoas, conforme pontuou o entrevistado. “Quinhentas famílias vão ficar sem o seu sustento. Quinhentos empregos acabaram. Pessoas não voltarão para trabalhar na segunda-feira. É desolador ver o que estão fazendo com o segundo maior centro formador de aeronautas do país”.

‘Acabou tudo’

Proprietário da Claro Aviação, empresa de manutenção e venda de aeronaves, Claudio Jorge Silva, de 56 anos, diz que não tem como mensurar o sentimento em relação à possível desativação do aeroporto. No local há 9 anos, ele conta que já está preparado para “fechar as portas de vez” enquanto finaliza os serviços para retirar do lugar tudo o que é necessário.

“Acabou o nosso trabalho, acabou tudo. Não somos como uma empresa que pode simplesmente sair de um lugar e alugar outro. Para uma aeronave pousar, ela precisa de aeroporto. Para nós, não vale a pena começar tudo de novo, do zero”, diz ele.

Silva conta que a empresa existe há 17 anos e conta com 54 colaboradores. Agora, pode estar com os dias contados. “Estamos fazendo uma atividade lícita para o crescimento do país e alguém simplesmente acaba com tudo”, pontua.

O empresário afirma que não é contra o fechamento do aeroporto, mas que seria importante achar uma solução antes desse desfecho. “Isso trará um impacto de décadas para a aviação”, afirma.

Esperança

O deputado estadual Alencar da Silveira Jr. (PDT) lamentou o fechamento do Aeroporto Carlos Prates, mas alertou que seguirá as tratativas para que o governo de Minas pegue a administração do aeródromo. “O que está acontecendo é ruim para Minas Gerais. Onde vamos colocar as empresas que ali estão? O Aeroporto da Pampulha já está inviabilizado. Faltou bom senso na condução e espero reverter a situação nos próximos dias. Não tem como o governo federal e a prefeitura agirem desta forma”. 

O parlamentar afirmou temer invasão na área. “Se juntar gente em um daqueles hangar, ninguém tira mais. Eu ainda acho que o governo estadual vai rever para que as operações continuem e após pegar a administração faça a privatização que será um bom negócio”.

Por fim, Silveira Jr. disse que irá solicitar a aceleração da apreciação de um projeto de lei na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) que impede a construção de residências num raio de 3 km do Aeroporto Internacional de Belo Horizonte, em Confins. “Não tendo casas, não tem problemas. Temos que fazer isso hoje para que os nossos filhos não passem o que enfrentamos hoje”, complementou.

Em nota, a Infraero disse irá manter o diálogo com a Prefeitura de Belo Horizonte e que todas as medidas adotadas estão de acordo com as "legislações vigentes".. Veja a posição completa:

Em conformidade com a Portaria Nº 1.632 do Ministério da Infraestrutura, publicada no Diário Oficial da União em 16 de dezembro de 2022, encerra neste sábado (1º de abril de 2023) a atribuição à Infraero da exploração aeroportuária do Aeroporto Carlos Prates, após quase 50 anos à frente do terminal mineiro.  

A partir desta data, a Infraero deixa de ser responsável pela gestão e operação do aeroporto e se concentrará em concluir as tratativas comerciais com as empresas concessionárias, respeitando os contratos.  

A Infraero também irá manter o diálogo com a nova gestora da área do Carlos Prates – a Prefeitura de Belo Horizonte – a fim de que a transferência integral da administração para o Executivo municipal seja concluída com segurança e que o órgão municipal possa, junto aos concessionários, planejar a transferência de aeronaves e serviços.  

Cabe destacar que todas as medidas adotadas pela Infraero durante o processo de encerramento das atividades do Aeroporto Carlos Prates estão em consonância com as legislações vigentes e alinhadas às determinações e orientações do Governo Federal.