Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) revelou uma queda no número de vacinas contra a febre amarela aplicadas no Brasil. A redução foi constatada após o início da pandemia do coronavírus em quase todas as regiões do país.
Segundo o levantamento, baseado em dados do Programa Nacional de Imunizações (PNI), a redução mais significativa ocorreu na região Sul, com 63,50% de queda no número de vacinas aplicadas. Com exceção ao Nordeste do Brasil, a queda no número de imunizantes aplicados também foi constatada nas regiões Norte (34,71%), Centro-Oeste (21,72%) e Sudeste (34,42%).
Uma das responsáveis pelo estudo, a professora Tércia Moreira Ribeiro da Silva, do Departamento de Enfermagem Materno Infantil e Saúde Pública da Escola de Enfermagem da UFMG, critica a precariedade do Sistema Único de Saúde (SUS) e campanhas de desinformação contras os imunizantes, que ganharam força no período de pandemia.
Riscos
Segundo Tércia, a queda no número de vacinas aplicadas no Brasil pode resultar no ressurgimento dos casos urbanos da febre amarela no país, que é considerada rara.
“Tendo em vista que a redução nas doses administradas da vacina contra febre amarela no país pode ter sido agravada pela pandemia de covid-19 e que a incidência de febre amarela em cidades de grande porte pode favorecer o ressurgimento da febre amarela urbana”, explica.
A ideia é que o estudo ajude a orientar o governo em campanhas de imunização. “Os resultados do estudo atual podem orientar estratégias e políticas de saúde focadas em zonas geográficas prioritárias que mostraram diminuição da taxa de doses de vacina contra febre amarela administradas ao longo do tempo”, conclui a professora.
Sobre a Febre Amarela
Transmitida pelo aedes aegypti - o mesmo que transmite a dengue e outras doenças -, a febre amarela é uma doença hemorrágica, causada por um vírus, do gênero flavivírus. Ela é comum em 47 países de baixa e média renda nos continentes africano e sul-americano, com pelo menos 60 mil mortes por ano. No Brasil, a taxa de letalidade da febre amarela também é alta. Segundo estimativas, no período de 2000 a 2021, a doença apresentou taxa de letalidade de 47,8%, considerada elevada por se tratar de uma doença infecciosa potencialmente imunoprevenível.
No humano, a febre amarela possui rápida evolução, com cerca de 10% dos casos, evoluindo para formas graves com icterícia (amarelão da pele), dor abdominal intensa, sangramentos em sistema digestivo (vômitos ou fezes com sangue), pele ou urina e falência renal.
A vacina contra a doença está disponível gratuitamente nas unidades de saúde. Quem tem entre 9 meses de idade e 59 anos e nunca tomou uma dose deve se vacinar.
Como funciona a vacinação
Entenda como funciona o esquema vacinal da Febre Amarela:
- Crianças, ao completarem 9 meses de vida, devem tomar uma dose;
- Crianças, ao completarem 4 anos de idade, devem tomar a dose de reforço;
- Pessoas de 5 a 59 anos de idade, não vacinadas ou sem comprovante de vacinação, devem tomar uma dose;
- Pessoas que receberam apenas uma dose da vacina antes de completarem 5 anos de idade devem tomar uma dose de reforço.
É importante destacar que macacos não transmitem a Febre Amarela aos humanos. Eles atuam apenas como bioindicadores da presença do vírus naquela região, permitindo ao poder público adotar as medidas preventivas e de controle a fim de evitar a propagação do vírus.