O prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), propôs a adoção de 13 barreiras sanitárias em entradas da cidade. Em entrevista coletiva na segunda-feira (11), o presidente da BHTrans, Célio Bouzada, adiantou que um desses pontos deve ser na avenida da Civilização, no limite entre Justinópolis, em Ribeirão das Neves, e Belo Horizonte. A previsão é que as barreiras sejam iniciadas na próxima semana, mas a reportagem não viu movimentação para instituí-la na avenida da Civilização nesta terça-feira (12).
A avenida amanheceu movimentada. A maioria das lojas foi abrindo ao longo da manhã e feirantes também armaram barracas nas calçadas, vendendo tocas, temperos e frutas. Nenhuma das pessoas com quem a reportagem conversou já sabia da proposta de construção das barreiras sanitárias, mas a maior parte aprovou a medida.
A ideia é que todos que atravessem o limite até BH tenham a temperatura medida e respondam a perguntas sobre o estado de saúde — mais detalhes ainda não foram divulgados pela prefeitura ou pela BHTrans.
A recepcionista de hotel Raiane Santos, 21, vai de ônibus à área hospitalar todos os dias, e vê a proposta com bons olhos. "Acho interessante (haver controle), por BH ser a capital. Não me sinto segura na rua e está tendo superlotação dos transportes". Em um ponto de ônibus com meia de dúzia de pessoas, todas de máscara, ela aguardava um Move que leva a Belo Horizonte — mesmo que a orientação seja que todos os passageiros sigam sentados, ela foi uma das que precisou ficar em pé quando o ônibus chegou. Não havia agentes de fiscalização controlando a entrada no ônibus.
A assistente administrativa Fernanda Gonçalves, 27, aguardava a vez em uma fila da Caixa Econômica que se estendia por alguns metros, na esquina da avenida. Ela perdeu o emprego na última semana, mas costumava trabalhar em BH todos os dias, às vezes de carro e outras de ônibus. Ela concorda com a barreira sanitária, mas cobra mais alinhamento entre os municípios. "As ações tem que ser um conjunto entre prefeituras. Em Ribeirão das Neves está tendo aglomeração".
O município permitiu reabertura do comércio a partir do dia 22 de abril, diferente de BH, onde a maior parte dos pontos continua fechada. O uso de máscaras também é obrigatório, e a maioria dos comerciantes e transeuntes vistos pela reportagem utilizavam o item de segurança, embora alguns feirantes e passantes estivessem sem ela, ou com o item pendurado no pescoço.
A comerciante Verlaine Braga, 41, que trabalha em uma loja de material elétrico na avenida, rechaça a possibilidade da barreira sanitária. "Esse Kalil é ridículo. Não me sinto confortável com isso (precisar medir a temperatura e responder a perguntas sobre a saúde). É uma invasão do direito de ir e vir", diz, também preocupada que a movimentação de pessoas vindas de BH diminua na loja, se elas tiverem de passar pela barreira. Ela mora em BH e atravessa o limite de carro todos os dias.
O auxiliar administrativo Marcos Antônio Santos, 40, diz não ver problema em passar pela barreira, mas tem dúvidas se ela será efetiva. "O prefeito Kalil tem autonomia para decidir isso, mas vamos ver se vai funcionar. Em BH estou me sentindo mais seguro do que aqui", afirma.
Ribeirão das Neves tem 18 casos confirmados de Covid-19 e nenhum óbito pela doença, segundo o último boletim da Secretaria de Estado de Saúde (SES).