Recorde

BH nunca registrou um inverno com temperaturas tão elevadas

Termômetros foram a 36,4°C ontem, recorde da estação desde 1910, quando medições começaram

Por Letícia Fontes
Publicado em 14 de setembro de 2019 | 03:00
 
 
 
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Com um verão em pleno inverno, o calor chegou sem avisar, e Belo Horizonte virou praticamente o deserto do Saara – o clima, ao menos, está parecido. Ontem, pelo segundo dia seguido, a capital bateu recorde de calor do ano. No início da tarde, os termômetros chegaram a marcar 36,4°C na região da Pampulha. A temperatura é a mais alta da estação desde que começaram as medições pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), em 1910. Além disso, o registro ficou próximo do mais alto da história de BH, de 22 de outubro de 2015, início da primavera, quando foram marcados 37,7°C.

Além do calor, BH sofre com o tempo seco. A menor taxa de umidade relativa do ar do ano foi alcançada ontem, segundo o meteorologista Heriberto dos Anjos, do serviço de meteorologia GeoClima Soluções Ambientais. Os índices ficaram em 14%. A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera a faixa abaixo dos 30% como de risco. Para se ter uma ideia, a umidade gira em torno de 10% nos desertos.

O pneumologista Cássio Ibiapina, professor da faculdade de Medicina da UFMG, alerta que casos de doenças respiratórias aumentam em 30% nesse período. A dona de casa Maria Melo, 61, tem sofrido com esse clima nada ameno. “Meus olhos ardem, não tenho dormido, o nariz fica entupido também. Estou péssima”, reclama.

Heriberto dos Anjos lembrou que o ar fica muito poluído por causa da baixa umidade e do calor. “Temos uma forte massa de ar seco atuando com intensidade no sudeste do Brasil”, acrescentou Claudemir Azevedo, meteorologista do Inmet.

Previsão. O calor continua neste fim de semana, mas não tão intenso: a máxima prevista é de 30°C. Pelo menos até o início da semana não há previsão de chuvas na capital – no acumulado, não chove há 136 dias na capital mineira. “Pelo menos a umidade deve ficar em 35%”, prevê o especialista Heriberto dos Anjos.

Calor deve diminuir em todo o Estado

A temperatura máxima registrada em Minas Gerais, ontem, foi de 41,8°C em São Romão, no Norte do Estado. No Triângulo, em Ituiutaba, os termômetros chegaram a 39,9°C. Até no Sul do Estado, onde o clima costuma ser mais ameno, o calor não deu trégua, chegando a 36,2°C em Sebastião do Paraíso.

Assim como em BH, no interior do Estado a tendência é de dias menos quentes neste fim de semana. A máxima prevista é de 40°C, no Triângulo e no Norte, e a mínima é de 8°C, no Sul de Minas. Não deve chover.

Cinco regiões em emergência

Ao menos cinco regiões do Estado estão em situação de emergência devido às taxas de baixa umidade relativa do ar, segundo o meteorologista Heriberto dos Anjos, do instituto GeoClima Soluções Ambientais. 

No Triângulo e nas regiões Noroeste, Norte, Central e Oeste, o índice é considerado crítico e deve permanecer abaixo de 12% nos próximos dias. Para se ter uma ideia da secura vivida em Minas neste inverno de tanto calor, o ideal, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, é que a umidade fique em torno de 60%.

“Em São Romão (Norte de Minas), a umidade nos últimos dois dias chegou a 8%”, explicou Heriberto dos Anjos. Como dica para a população, ele já tinha a sugestão na ponta da língua: “hidratação é a palavra do momento”.

Alerta. Minas Gerais tem 144 cidades em situação de emergência por conta de estiagem, segundo levantamento da Coordenadoria Estadual de Defesa Civil.

Minientrevista com Cássio Ibiapina, pneumologista e Professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

Tempo seco facilita a circulação de vírus? Há um aumento de cerca de 30% dos casos de doenças respiratórios neste período. No meu consultório, agosto foi o mês que mais fiz atendimentos. Aumentam, principalmente, os casos de rinite, sinusite, crises de asma e bronquite. O que acontece é que a baixa umidade do ar dificulta o movimento dos cílios respiratórios, que varrem a sujeira e as infecções para fora.

Quais pessoas mais sofrem com o tempo seco e quais recomendações para amenizar essa situação? O grupo de risco é de pessoas com mais de 60 anos e as crianças com menos de 2 anos. É importante umidificar e lavar o nariz com o soro, beber água e lavar sempre as mãos. Atividades físicas devem ser evitadas entre 9h e 17h. No mais, é ter hábitos saudáveis e uma boa alimentação para manter o sistema imunológico forte.

Dicas

Hidratação e esportes
- Além de reforçar a ingestão de líquidos, a população deve evitas fazer atividades físicas ao ar livre e se expor ao sol entre as 10h e as 17h.

Sono e higiene
- Durma em local arejado e umedecido por aparelhos. Outra opção é colocar uma bacia com água no ambiente
- Evite tomar banhos com água muito quente, pois ressecam ainda mais a pele
- Em caso de problemas respiratórios, procure um especialista

Alimentação
- Prefira comidas leves e frescas, como saladas, frutas e carnes grelhadas
- Evite fritura

 

 

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