POLÊMICA

Blocos de Carnaval reclamam de estádios e shows com mais de 60 mil pessoas em BH

Crítica foi feita após algumas agremiações da folia em BH anunciarem a suspensão dos desfiles em 2022

Por Simon Nascimento
Publicado em 02 de dezembro de 2021 | 04:00
 
 
 
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Blocos de Carnaval que desfilam em Belo Horizonte estão insatisfeitos com a diferença de postura adotada pela prefeitura da capital, em relação à realização de eventos na cidade. Os grupos criticam, por exemplo, a realização de jogos e shows com públicos superiores a 60 mil pessoas. As queixas ocorrem junto ao posicionamento de algumas agremiações da folia em BH, contrárias aos desfiles em 2022, e após os anúncios do prefeito Alexandre Kalil de que o Executivo não vai patrocinar e apoiar os eventos.  

Nesta quarta-feira (01), a Liga Independente dos Blocos de Santa Teresa (Si Liga), que reúne 23 grupos, emitiu nota orientando a suspensão dos cortejos. O documento ainda apresentou críticas à administração municipal. “A prefeitura nunca estabeleceu diálogo com os blocos para tratar do Carnaval. E nunca ouvi um bloco defender o desfile a qualquer custo. Todo mundo está pautando a vida em primeiro lugar”, pontuou o presidente da Si Liga, Kerison Lopes. 

Para ele, a prefeitura tem adotado tratamentos diferentes entre os setores. As críticas passam, justamente, pela realização de jogos de futebol em BH com público superior a 60 mil torcedores e comemorações previstas com a confirmação do título brasileiro pelo Atlético. Ontem, o Corpo de Bombeiros informou que há previsão de um desfile em carro aberto dos jogadores alvinegros caso a taça seja conquistada hoje, em Salvador. O trajeto, no entanto, não foi divulgado pela corporação. 

Além disso, outro motivo de desagrado é a realização de shows particulares durante o período do Carnaval, no Mineirão, com previsão de atrair mais de 70 mil pessoas. “Há uma diferença de tratamento com os blocos e trabalhadores do Carnaval em relação a outros eventos como o futebol. Nós entendemos que é necessário cuidar, preservar a saúde, evitar aglomerações Mas a lei deve valer para todos”, observa. 

Kerison reforça que, mesmo que a pandemia não avance e registre queda nos índices, não há condições para que os blocos saiam às ruas em fevereiro. “Sem a estruturação, os meses de preparação com a prefeitura, logística de trânsito, segurança, não tem como desfilar. A decisão de suspender é unânime”, reforçou. A crítica é corroborada pelo criador do Baianas Ozadas e presidente da Liga Belorizontina de Blocos Carnavalescos, Géo Cardoso. 

Ele afirma que falta sensibilidade por parte da prefeitura em relação a quem depende do Carnaval para sobreviver. “O prefeito só enxerga o lado da brincadeira. O sentimento é de abandono, o mínimo que queríamos era diálogo para um planejamento, como tem sido feito em outras cidades com festas grandes. Mas em BH parece que a prefeitura só quer saber do lado bom da festa que os blocos promovem”, criticou Cardoso. 

Questionada, a PBH informou que recebeu de maneira positiva a notícia de suspensão dos desfiles e nega que houve falta de diálogo com os blocos. A administração ainda informou que segue as orientações do Comitê de Enfrentamento à Covid-19.

Blocos devem optar por festas particulares para sobreviver 

Com a inviabilidade de realização dos desfiles, os blocos de Carnaval da capital já cogitam a realização de eventos particulares. As festas vão ocorrer apenas em condições sanitárias favoráveis e com exigência de passaporte de vacinação e outros protocolos, segundo Kerison Lopes. “Vamos procurar realizar eventos fechados com todo controle necessário, para que possamos trabalhar durante o possível Carnaval e enfrentar esse difícil momento”, contou. 

Lopes também criticou a exclusão dos blocos de BH da lista de atrações de eventos particulares que estão previstos para fevereiro em BH. As festas poderão ter a presença de cantores como Ivete Sangalo e Wesley Safadão. “É uma contradição, um absurdo, os produtores fazerem os eventos com artistas que não têm nada em comum com o Carnaval de BH e não convidarem um bloco para participar”, lamenta. 

Para Géo Cardoso, muitas agremiações tradicionais da folia na capital poderão perder força e não ter condições de desfilar, por exemplo, em 2023, caso a pandemia permita a realização do Carnaval. Ele ainda pede uma mudança de postura por parte da prefeitura para tratar do assunto. “Não existe democracia na condução do carnaval de Belo Horizonte por causa da postura do prefeito e do seu secretariado. Diante dessa negligência, BH enfraquece a retomada do Carnaval e todo trabalho coletivo que foi feito para posicionar a cidade nos maiores carnavais do Brasil”, finalizou.

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