Crueldade

Cachorro tem as patas decepadas a golpes de foice por vizinho em Confins

Sansão, da raça Pitbull, segue internado em clínica veterinária; agressor diz que constantemente animal pulava muro e avançava nos cães dele

Por CAROLINA CAETANO
Publicado em 07 de julho de 2020 | 12:58
 
 
 
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Um cachorro de 2 anos, da raça Pitbull, teve as patas traseiras arrancadas a golpes de foice, nessa segunda-feira (6), em Confins, na região metropolitana de Belo Horizonte. Sansão tomava conta de uma fábrica de ensacados, e o agressor mora ao lado da empresa.

Em conversa com a reportagem de O TEMPO, nesta terça-feira (7), o empresário Joaquim Dias de Souza, de 49 anos, contou que estava saindo da fábrica, às margens da MG-424, quando ouviu um barulho. 

"Eu estava preparando para ir embora e escutei o cara falando 'pega o facão'. Não tinha visto que o Sansão tinha saído. Fui até o lote dele, que não tem muro, e ouvi o grito do cachorro, provavelmente na hora que as patas foram cortadas. Caminhei mais um pouco e vi ele e o irmão segurando o cachorro", explicou o dono do animal.

Segundo Joaquim, ao entregar o cão, o homem teria dito: "Eu te avisei que ia fazer isso com o cachorro e você não tomou suas providências". O empresário afirma que o pitbull é dócil e nunca atacou outras pessoas, mas tinha atrito com o cachorro do vizinho, que atende pelo nome de Zé Defunto. 

"Falei com ele que era briga de cachorro, que o Sansão foi atrás do cachorro dele. Foi uma situação triste ao encontrar o meu cachorro, estava saindo muito sangue. A boca dele foi amarrada com arame farpado e também estava machucada. Ele me reconheceu e ficamos juntos até a chegada da veterinária. A gente não sabe por onde ele saiu para ir ao lote vizinho. Eu espero que tenha justiça, isso é uma covardia e ele tem que pagar pelo que fez", afirmou.

Sansão está em uma clínica veterinária de Vespasiano, também na região metropolitana, sem previsão de alta. "Ele estava em um choque hipovolêmico. Tivemos que estabilizá-lo primeiramente para poder levá-lo para uma cirurgia. Ele teve muita hemorragia, foi amordaçado, tem cortes na boca. Agora precisamos aguardar ele voltar a alimentar e depois ele vai partir para uma outra etapa com um ortopedista. Vamos ver quando ele vai poder utilizar uma prótese", informou a veterinária Júlia Mara Santiago.



"Eu não vou encarar um pitbull de mãos vazias", diz agressor

Se por um lado Joaquim diz que não sabe como Sansão foi parar no lote vizinho, o homem que agrediu o animal, Júlio Cesar Santos Souza, de 44 anos, contou que, constantemente, o cão pula o muro e avança nos animais dele. 

"Eu já venho sendo incomodado há bastante tempo, já pedi, já avisei aos donos, fiz boletim de ocorrência e os donos não resolveram. Ontem, ele pulou o muro, invadiu meu terreno e agrediu meu cachorro. Eu não vou encarar um pitbull de mãos vazias. Ele pode ser dócil com os donos dele, mas eu não sou dono dele. Peguei alguma coisa para me defender caso ele avançasse", explicou o homem.

Júlio César nega que tenha amarrado a boca de Sansão e afirma que cometeu a agressão sozinho. "Pode ter acontecido dele ter cortado a boca quando pulou o muro. Eu peguei a foice e o agredi. Depois que ele estava com as patas cortadas, eu o puxei para soltar o meu cachorro. Ele estava com a boca no pescoço do meu cachorro. Na hora, eu não pensei em nada, só na minha família. Eu vou esperar acontecer alguma coisa grave para tomar uma providência? O cachorro não ameaçou minha família, mas os meus cães. O animal é irracional", alegou.

Júlio mora com a mãe, que é acamada e deficiente visual. A idosa costuma ser colocada no quintal de casa para tomar sol, o que também preocupava o filho em relação ao cão.

Problema já tinha acontecido com Zeus, pai de Sansão

Há dois anos, o pai de Sansão, Zeus, morreu após ser agredido pelo mesmo homem.  "O Zeus teve a coluna vertebral quebrada no meio, foi usado um facão. Ele foi levado à veterinária, ela disse que o cão não resistiria e estava sofrendo muito. Optamos pela eutanásia", explicou Nathan Braga, de 21 anos, filho de Joaquim.

A família registrou um boletim de ocorrência, mas não prosseguiu com a denúncia. Júlio César nega que tenha matado Zeus. Ele afirma que deu um golpe de facão no pai de Sansão, que também invadiu o lote, o animal ficou paralítico e os donos sacrificaram. "Eu sempre tive medo dele. Quem não tem medo de um pitbull?", indagou.

Envolvidos foram encaminhados ao quartel da Polícia Militar 

Os donos de Sansão e Júlio César foram levados para o quartel da Polícia Militar, onde assinaram um Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO) e foram liberados. 

"A guarnição fez contato no local com as partes envolvidas, e o pessoal foi conduzido para o quartel. Como se tratava de um crime de menor potencial ofensivo, com pena inferior a dois anos, foi feito o TCO, as partes assinaram se comprometendo a comparecer à Justiça quando for determinado. O agressor foi autuado por maus-tratos e dano.  E o dono do cachorro por omissão de cautela na guarda", explicou o tenente Leonardo Vieira Souto, comandante do 5º Pelo da 8ª Companhia Independente.

Segundo o militar, quando chamados, os policiais podem orientar as partes envolvidos. A polícia não tem autorização para recolher o animal.

"A guarnição quando esteve no local das outras vezes orientou tanto um como o outro a ter cuidado com o animal. Deixar o cachorro apenas dentro da propriedade. Se tiver que prosseguir com a denúncia é encaminhado à Polícia Civil", detalhou. 

Júlio César afirrmou que tudo aconteceu muito rápido e se mostrou arrependido. "Se eu pudesse voltar atrás, não faria isso de novo. Estou pronto para assumir as minhas responsabilidades", finalizou. 

Sobre o caso de Zeus, em 2018, a Polícia Civil informou que "que o proprietário do animal morto dispensou as providências cabíveis, não compareceu à delegacia e não representou pela ameaça. Assim, o procedimento foi arquivado".

Em nota o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) também se manifestou sobre o caso e disse que o fato já está sendo apurado e que a Polícia Militar será informada para comparecimento ao local.

Trabalhadores da região divergem em relação ao comportamento do animal.

O caso de Sansão repercutiu entre funcionários que trabalham em empresas próximas ao local que o cachorro ficava. "O cachorro é dócil, quando abria o portão, ele saía, mas nunca avançou em ninguém. Quem não fica revoltado com um ser humano que faz isso com um cachorro. Cortar as patas do cão é revoltante. Tudo se resolve na conversa,  não tinha motivo para ele fazer isso, tem que ter justiça", afirmou o auxiliar administrativo Luiz Fernando Vitorino, de 20 anos.

Por outro lado, o supervisor Luciano dos Reis, de 35 anos, que trabalha com Júlio César, afirmou que constantemente Sansão dava trabalho. "Se tornou um caso recorrente o cão pular o muro e atacar os cachorros do Júlio. Eu contesto que ele seja um cão dócil, já passei em frente à fabrica e ele latia muito. Se não tivesse o portão, ele avançaria. O dono está errado de não manter o cachorro de forma correta preso", opinou. 

Repercussão nas redes sociais

A família que cuida de Sansão gravou um vídeo após encontrar o cão ferido. As imagens repercutiram nas redes sociais. A apresentadora Luísa Mell e o deputado estadual de São Paulo, delegado Bruno Lima, que lutam pelas causas animais, compartilharam a situação de Sansão e se colocaram à disposição da família.

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