Em todos os campi

Cefet-MG aprova ensino remoto e alunos se preocupam com acesso e qualidade

Resolução prevê que os estudantes que não puderem ou não quiserem aderir à modalidade podem trancar a matrícula

Por Rafaela Mansur
Publicado em 03 de julho de 2020 | 16:31
 
 
 
normal

O Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet-MG) aprovou a implementação de ensino remoto emergencial, em caráter temporário, para os cursos de nível médio, graduação e pós-graduação. A resolução, do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe) do Cefet, prevê que os alunos que não puderem ou não quiserem aderir à modalidade podem trancar a matrícula.

A decisão, que contempla 17 mil estudantes de todos os 11 campi, foi alvo de protestos nas redes sociais. Os discentes se preocupam com aqueles que não têm condições e estrutura em casa para acompanhar as aulas remotamente e com prejuízos para a qualidade do ensino.

Assinada pelo presidente do Cepe, Flávio Antônio dos Santos, a resolução considera a "impossibilidade de retomada das aulas presenciais regulares a curto ou a médio prazos", devido à pandemia do coronavírus, e uma portaria do Ministério da Educação, que autoriza a substituição das disciplinas presenciais por atividades letivas que utilizem recursos digitais, tecnologias de informação e comunicação ou outros meios, até 31 de dezembro de 2020.

O Cepe define o ensino remoto emergencial como "um conjunto de estratégias didático-pedagógicas, mediadas ou não por tecnologias digitais", com a finalidade principal de "minimizar os impactos das medidas de isolamento social para o enfrentamento à pandemia sobre os processos de aprendizagem, preservando os vínculos intelectuais e emocionais dos estudantes com os demais membros da comunidade escolar". Segundo a resolução, a modalidade será adotada com medidas de diagnóstico, planejamento, execução, monitoramento e avaliação.

O texto diz, ainda, que o processo de organização do ensino remoto deve ter como diretriz a oferta de condições pedagógicas, de infraestrutura e apoio psicossocial aos alunos em situação de vulnerabilidade socioeconômica ou com necessidades especiais e aos servidores que precisarem. Antes da implantação do regime remoto, os servidores devem ser qualificados para utilizar as ferramentas e metodologias necessárias.

Além disso, a resolução garante aos estudantes "o direito de não adesão ou participação" nas atividades do ensino remoto, "por meio do trancamento de matrícula, parcial ou total, a qualquer momento, sem quaisquer prejuízos no que se refere a contagem de prazos para integralização do curso". A implementação da modalidade deve considerar, ainda, a priorização de atendimento aos alunos em final de curso e a definição de cargas horárias semanais compatíveis e razoáveis com o ensino remoto, de modo a não sobrecarregar discentes e docentes.

A resolução não detalha como essas diretrizes serão aplicadas, diz apenas que o planejamento será realizado por uma comissão geral e acompanhado por comissões locais em cada campus. A reportagem pediu mais informações ao Cefet-MG, mas ainda não obteve resposta.

O representante titular dos alunos do ensino técnico no Cepe e presidente do Grêmio Estudantil da unidade Varginha do Cefet-MG, João Guidugli, votou contra o ensino remoto. Ele acredita que o retorno das aulas dessa forma será prejudicial e pode contribuir para a precarização do ensino.

"É excludente em si, ao ponto do projeto do Cefet-MG afirmar que quem não puder participar tranque a matrícula. Acreditamos na educação como libertadora, gratuita, pública e universal. Falar de ensino remoto é tratar como privada, sectária e individual, já eliminando aqueles que não tem acesso ao ensino", afirma Guidugli. "Fora os problemas econômicos e sociais dos alunos, neste momento vivemos um agravamento de problemas relacionados à saúde física e mental. Não podemos ignorar isso e acreditar que estamos em um novo normal", completa.

O diretor de comunicação da Federação Nacional dos Estudantes em Ensino Técnico e estudante do Cefet-MG, Arthur Quadra, diz que o ensino remoto não substitui o presencial e preocupa pelos problemas já identificados em outras modalidades parecidas, como acúmulo de tarefas, instabilidade dos ambientes virtuais e falta de contato entre estudantes, professores e instituição de ensino. "Isso deixa todos angustiados. O mais importante agora, que o projeto foi aprovado, é que nenhum passo do planejamento seja dado antes do perfilamento socioeconômico e psicossocial dos estudantes", diz.

O estudante do curso de meio ambiente do Cefet-MG, João Victor Costa, 18, não tem computador em casa e fica preocupado com a queda na qualidade do ensino com as aulas remotas. "Eu acho que a melhor forma de retomada seria aceitar que a pandemia existe, que as pessoas estão sofrendo e não têm estrutura para o ensino remoto, e retomar as aulas normalmente, quando a pandemia passar", pontua.

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!