Políticas públicas

Censo da prefeitura vai avaliar o tamanho da população de rua em BH

Estudo que começa a ser produzido nesta semana em parceria com a UFMG vai tentar quantificar o número de pessoas que vivem nas ruas da capital; CadÚnico aponta que são mais de 11 mil pessoas

Por Pedro Nascimento
Publicado em 18 de outubro de 2022 | 12:15
 
 
 
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A prefeitura de Belo Horizonte (PBH) começa a levantar a partir desta quarta-feira (19) o número relativo à quantidade de pessoas que vivem nas ruas da cidade. O novo Censo da população de rua é realizado em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e a expectativa é quantificar algo em torno de 4 a 9 mil pessoas que estão nessa situação e quais as demandas específicas desse público.
 
O último Censo deste tipo foi produzido pela prefeitura em 2013 e identificou 1.827 pessoas em situação de rua - dados considerados ultrapassados hoje em dia. Somente neste ano, segundo o Projeto Polos de Cidadania, da UFMG, a estimativa é que esse número seria de mais de 11 mil pessoas sem teto na cidade, de acordo com dados do CadÚnico. Números que colocam Belo Horizonte atrás somente de São Paulo e o Rio de Janeiro como as cidades com a maior população de rua no país.
 
Segundo o prefeito Fuad Noman (PSD), saber quem são essas pessoas e quais os problemas elas enfrentam é necessário para que o poder público tenha embasamento para atacar o problema, considerado por ele como uma prioridade.
 
“Quem são essas pessoas? Quais são as demandas? Porque está na rua? É uma pessoa que tem doença mental e saiu de casa? Que grupo é esse? Então são políticas públicas específicas que vamos ter que trabalhar”, disse o prefeito, que completou. “Tem pessoas que saíram porque na pandemia perderam o emprego e a moradia, e essa é uma outra política. O programa ‘Estamos Juntos’ vai criar oportunidades para essa pessoa e fazer uma, vou chamar de readaptação, ao mercado de trabalho”, disse Fuad.
 
O programa citado pelo prefeito, chamado ‘Estamos Juntos’, é uma das propostas do executivo para atacar o problema da falta de emprego para a população de rua. O projeto começa a ser implementado a partir de janeiro do ano que vem e vai atuar em diferentes etapas, com a proposta de oferecer vagas e capacitação para as pessoas que estão nos abrigos da cidade e que estiveram recentemente no mercado de trabalho. O investimento será de R$ 3 milhões
 

Sobre o levantamento

De acordo com o professor e coordenador do Núcleo de Pesquisa em Vulnerabilidade e Saúde (Naves) da UFMG, Frederico Garcia, serão mais de 300 pessoas envolvidas no trabalho de entrevistar e quantificar os moradores de rua em Belo Horizonte. O levantamento começa a ser realizado na quarta-feira (19) nas regiões Centro-Sul e Leste, e está programado para terminar na sexta-feira (19), com uma repescagem em outras áreas da cidade.
 
“A coleta acontece nesses próximos três dias e vamos fazer um esforço de entregar uma prévia desses dados em até 20 dias para que a prefeitura possa divulgar um perfil básico. Ao longo dos próximos meses vamos construir e analisar esses dados e isso vai virar um livro que depois será amplamente divulgado pela prefeitura”, detalha o professor.
 
As coletas de dados serão feitas em cerca de 1.900 pontos da cidade onde esses moradores de rua se concentram, segundo um levantamento da prefeitura. Para o prefeito Fuad Noman, esse deverá ser apenas o início de um processo para tentar solucionar o problema dos moradores de rua que vivem na cidade.
 
“Nós estamos dando um grande início a um grande processo para vencer a questão da população de rua, que não é resolvida da noite para o dia. São belo-horizontinos ou cidadãos mineiros, brasileiros e estrangeiros que estão no nosso terreno e nós temos que tratá-los com dignidade. Não vamos abrir mão do respeito, mas vamos buscar um caminho para solução”, finalizou.
 

Falta onde morar

A aumento da população de rua em Belo Horizonte é o resultado de uma série de fatores, e entre eles está a falta de moradias populares e a escasses de políticas que resolvam esse problema. Segundo o prefeito Fuad Noman, a falta de apoio do governo federal para o tratamento dessa questão é algo 'grave' e que deve ser criticado.
 
"É uma questão gravíssima e depende de duas coisas: primeiro, financiamento do governo federal. Lamentavelmente, não temos recursos por parte do governo para construir casas populares. Também precisamos de terrenos para construir. Estamos mapeando e tentando encontrar parcerias com entidades privadas”, detalhou Fuad, que alegou não ter dinheiro em caixa para a construção de moradias populares.
 
Segundo a prefeitura, na capital existem 2 mil vagas para acolhimento da população de rua em abrigos em 20 unidades de proteção social. Além disso, o poder público destaca que o bolsa moradia - uma bolsa paga para bancar o aluguel de quem não tem condições - foi ampliado, chegando neste ano a 1.140 vagas.
 

Dignidade

Em sua terceira passagem pela rua, o catador Bruce Billy da Costa, de 39 anos, ainda não se acostumou com a frieza que é tratado pelas autoridades e pela população. Na sua maloca, instalada no Complexo da Lagoinha, no Centro de Belo Horizonte, o homem vê com bons olhos a ação da prefeitura e pede mais respeito para quem vive na rua.
 
"O jeito mais fácil de identificar um morador de rua é pelo olhar. É um olhar de quem sofre. Sente falta de uma família, de uma boa conversa, de um carinho. A gente sente muita falta dessas coisas. Todos nós somos seres humanos e o que a gente pede é só um pouco de dignidade", desabafa.
 
Matéria atualizada às 15h38

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