Um tsunami de barro, minério e rejeitos “engoliu” em, aproximadamente, 15 segundos, veículos, máquinas, trem e encobriu toda a barragem I da Mina de Córrego do Feijão. Uma semana após a tragédia em Brumadinho, imagens de uma câmera fixa no alto do local mostram o exato momento em que a barragem da Vale se rompeu.
De acordo com porta-voz do Corpo de Bombeiros, Pedro Aihara, a lama chegou a atingir 80 km por hora após rompimento. No oitavo dia após o rompimento, o número de mortes chegou a 115. Ainda há 248 desaparecidas. “A velocidade atingida variou entre 70 e 80 quilômetros por hora. Essa velocidade muda em cada ponto. Quando a lama passa por elementos como árvores ou carros, por exemplo, esses obstáculos tiram a velocidade”, diagnosticou.
Nas imagens, é possível ver a área estática até o momento que a lama começa a destruir tudo que está na frente. O relógio da câmera marcava 12h28 e 31 segundos. No vídeo é possível ver uma estrutura da Vale, veículos e alguns funcionários. Um carro branco e uma máquina tentam escapar, mas logo são cercados pelo “mar de lama”.
De acordo com o professor do o Instituto de Engenharia Mecânica da Universidade Federal de Itajubá, Carlos Barreira, o rompimento pode ser comparado a um atropelamento de um caminhão de 30 toneladas. “É morte instantânea. As pessoas escutaram o barulho de um avião caindo e não tiveram tempo de correr. É como se fosse uma bala perdida. Tudo muito rápido”, avaliou o especialista.
Por meio de nota, a Vale informou que as imagens foram entregues às autoridades no dia seguinte a tragédia e não divulgadas à imprensa em respeito à família das vítimas e para não atrapalhar as investigações.
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Pelas imagens, dá para imaginar o que pode ter provocado o rompimento da barragem? São várias hipóteses, é preciso investigar. Existe a teoria que a Vale poderia estar injetando água no processo de reaproveitamento do minério ainda contido no rejeito. Pelas imagens, provavelmente aconteceu um processo de liquefação, que o maior acúmulo de água na estrutura. O que pode ter acontecido é ter entrado água nos rejeitos por diversos outros motivos, até falta de drenagem eficaz. O que chama atenção é que as instalações administrativas da empresa estão muito perto da barragem.
Na avaliação do senhor, houve negligência no monitoramento da barragem?Poderia ter sido evitado? Uma barragem tem que ser impermeável. A drenagem tem que ser permanente mesmo se ela estiver desativada. A de Brumadinho estava inativa desde 2015. Não podemos falar que era o caso de lá, só as investigações dirão, mas talvez não houve um acompanhamento e drenagem adequada. Era preciso estruturas impermeáveis no centro e envolta dela para conter qualquer quantidade de água.