Além da queda de faturamento dos comerciantes devido à pandemia do novo coronavírus, principalmente daqueles que, como em Belo Horizonte, foram obrigados a baixar as portas por prestarem serviços não essenciais, alguns lojistas têm sofrido com a criminalidade. Arrombamentos, furtos e destruição de equipamentos são algumas das queixas.
Segundo Henrique Gomes, de 36 anos, gerente de uma loja de tecidos localizada na rua Padre Pedro Pinto, em Venda Nova, na capital mineira, o estabelecimento já foi arrombado três vezes em 17 dias. "Tudo aconteceu em razão dessa pandemia. Na primeira vez, a loja ainda estava sendo aberta. Durante a madrugada, escavaram uma parede dupla e furtaram nosso fundo de caixa, alguns produtos e um forno micro-ondas. Foi um prejuízo de aproximadamente R$ 2.500", conta.
"Na segunda vez, que foi no dia 1º de abril, o alarme tocou, também durante a madrugada. Eu e o meu sogro, que é o dono da loja, fomos lá, e constatamos que ela foi arrombada de novo. O roubo foi tão feio que, através das imagens das câmeras de segurança, o ladrão fumou crack dentro da loja. Foi um prejuízo mais ou menos parecido com o primeiro roubo", disse o gerente.
"Na terceira vez, no último dia 17, eu cheguei pela manhã e constatei que a porta tinha sido arrombada. Nesse, o prejuízo foi de aproximadamente R$ 5.000. Ou seja, aí já foram uns R$ 10 mil embora", relatou. A vítima afirmou que fez boletim de ocorrência na Polícia Militar em todas as ocasiões.
De acordo com Gomes, desde que começaram os casos de coronavírus em BH, seu faturamento caiu. "A gente vem trabalhando esses dias todos,
veio o decreto, e tivemos que fechar. Agora, só entregas. Além de sofrer com o vírus em si, vemos o nosso faturamento cair cerca de 80%", diz.
Pampulha
Outro estabelecimento que sofreu prejuízo foi um restaurante localizado na avenida Otacílio Negrão de Lima, na orla da lagoa da Pampulha. Criminosos entraram no local na madrugada de 11 de abril e deixaram um rastro de destruição.
"Isso aconteceu no primeiro fim de semana depois que a prefeitura fechou a orla da lagoa. Durante a madrugada, entraram no restaurante, mas não levaram nada de muito valor. Furtaram três tablets, mas o custo maior foi com a manutenção. O prejuízo foi em torno de R$ 3.000 no total", contou a proprietária Mariana Batista, de 34 anos.
"Nós somos totalmente a favor do isolamento, mas a gente pede que reforcem a segurança", afirmou a empresária, que viu seu faturamento cair aproximadamente 90% desde o início da pandemia da Covid-19 no país.
Ela ainda disse que, após a repercussão de uma postagem sua nas redes sociais, recebeu um inspetor da Guarda Municipal para conversar sobre o ocorrido e prestar apoio, como a criação de um grupo no WhatsApp para a troca de informações. Desde então, segundo Mariana, o número de crimes de que ela ouve falar na região tem diminuído.
Policiamento
Segundo o major Flávio Santiago, porta-voz da Polícia Militar em Minas Gerais, não houve aumento de crimes durante a pandemia, pelo contrário, eles diminuíram. "Com o coronavírus, é claro que você tem menos pessoas nas ruas, você tem menos o crime de assaltar pessoas. Mas a gente já vinha com redução do crime, e isso continua. Não teve nenhum crime que teve acréscimo nesse período", disse.
Ainda de acordo com o militar, a corporação teve um aumento em seu efetivo nesse período. "Nós não temos diminuição de efetivo. Temos o suporte das forças acadêmicas do Batalhão Metrópole (policiais do administrativo). Temos uma redução de todas as modalidades criminosas. É claro que uma ou outra situação pode ter acontecido com pontuliadade, mas a gente checa", afirmou. Só de cadetes, há um reforço de mil novos militares.
Além disso, ele deu dicas aos comerciantes sobre como se precaver durante o isolamento social. "O ideal é investir em mecanismos de um bom fechamento e cercamento do comércio. E, dentro das possibilidades, investimento em tecnologia também, para que possa favorecer o monitoramento a distância. E sempre que ocorrer alguma situação, ligar para a PM. Nós não estamos em isolamento social. Estamos na linha de frente, com máscaras, mesmo com riscos, mas é a nossa função", concluiu.
Determinação
Em decreto publicado no dia 8 de abril, o prefeito da capital, Alexandre Kalil (PSD), determinou por prazo indeterminado o fechamento de todos os estabelecimentos considerados não essenciais da cidade.
Segundo o texto, estão liberados para abrir apenas: serviços de saúde; farmácias; laboratórios; clínicas; hospitais; óticas; supermercados; hipermercados; padarias; sacolões; mercearias; hortifrútis; armazéns; açougues; postos de combustíveis; lojas de materiais de construção civil; agências bancárias; lotéricas e correios, incluindo aquelas em funcionamento no interior de shopping centers, centros de comércio e galerias de lojas. Eles só poderão funcionar, porém, se forem “adotadas as medidas estabelecidas pelas autoridades de saúde de prevenção ao contágio e contenção da propagação de infecção viral relativa à Covid-19”. Além disso, deverão funcionar com “medidas de restrição e controle de público e clientes”.