Após cerca de 40 dias fechados, grupos de comércios não essenciais de Pedro Leopoldo, na região metropolitana de Belo Horizonte, voltaram a funcionar nesta segunda-feira (4). O movimento surpreendeu os lojistas, que relataram boas vendas e altas expectativas para a semana, por causa do Dia das Mães. A prefeitura passou a adotar um modelo de isolamento intermitente: os estabelecimentos vão ficar abertos por três semanas, até ‪24 de maio‬, e fechados por uma, entre 25 e ‪31 de maio‬, para avaliação dos resultados. O município intensificou a fiscalização e garante que, se a estratégia não funcionar, medidas mais duras de prevenção ao coronavírus podem ser implantadas na cidade. 

A loja de bolsas e calçados que Vanessa Marques da Silva gerencia e supervisiona em Pedro Leopoldo reabriu com uma promoção para atrair os clientes: todos os produtos custam, no máximo, R$ 69,99. "O movimento começou bem, seguindo todas as regras. Por ser o primeiro dia, está nos surpreendendo. Estamos disponibilizando álcool em gel para todos os clientes e, para não haver aglomeração dentro da loja, estamos deixando três clientes entrarem por vez”, conta Vanessa. A loja em que ela trabalha chegou a ser arrombada durante o fechamento. 

De acordo com o gerente de uma loja de itens diversos, como artigos de decoração, João Gabriel Souza, “as pessoas estão enchendo o carrinho”. “Acho que vai ser uma grande semana para o comércio em Pedro Leopoldo. Eu achei essa medida de isolamento intermitente estratégica, porque estão olhando a saúde e a economia”, diz. A loja disponibiliza álcool em gel e controla a entrada de clientes. “Neste tempo fechado, tivemos muito prejuízo, fizemos desligamentos e estávamos com atraso no pagamento de fornecedores e aluguel. É um prejuízo ainda incalculável”, pontua. 

A proprietária de uma loja de roupas na cidade, Ana Paula Rodrigues, diz que a expectativa de vendas durante a semana é positiva. Por causa da suspensão das atividades por mais de um mês, ela precisou demitir alguns funcionários e suspender o contrato de outros. “Seguindo as normas direitinho, não tem razão para o comércio ficar fechado. Todos já estão adaptados ao uso de máscara, estamos disponibilizando álcool em gel para os clientes e separando por um tempo as peças que as pessoas experimentarem. Agora é correr atrás do prejuízo e colocar nas mãos de Deus”, afirma. 

A vendedora de outra loja de roupas da cidade, Amanda dos Santos, diz que tem medo de a contaminação crescer na cidade com a reabertura do comércio. “O movimento está bom, toda hora entra gente aqui, e dá medo, achei que seria mais fraco. Acho que o número de casos pode aumentar, tem muitas pessoas na rua”, pontua. 

De acordo com o decreto municipal, os comerciantes autorizados a abrir as lojas devem adotar cuidados como controle do fluxo de pessoas, distanciamento mínimo de dois metros e disponibilização de álcool em gel. Estabelecimentos como casas de shows, boates, shoppings e academias devem permanecer fechados. Bares, restaurantes e lanchonetes podem funcionar no esquema de delivery e pague e leve. 

Lilian Ferreira, 37, que está desempregada, aproveitou a reabertura do comércio para comprar uma calça. “Por um lado é bom, porque a economia precisa crescer. Infelizmente, essa doença pegou todo mundo de surpresa, mas fazendo a prevenção correta, usando máscara, acho que dá para voltar aos poucos”, avalia. 

A cabeleireira Raquel Siqueira, 26, acredita que a flexibilização é necessária. Ela saiu de casa para comprar calçados nesta segunda-feira. “Desde que todos tomem os devidos cuidados, é importante. Os comerciantes precisam pagar as contas, e nós precisamos dos produtos”, diz.

Com o início do isolamento intermitente, a fiscalização foi intensificada na cidade. O trabalho é realizado por guardas civis municipais e policiais militares, em parceria com a prefeitura. Os estabelecimentos que descumprirem as normas estão sujeitos a advertência, multa, interdição parcial, notificação e cassação de alvará.

De acordo com o secretário municipal de Saúde, Fabrício Simões, o isolamento intermitente pode ser revogado caso as medidas não funcionem e impactem os serviços de saúde. Ele ressalta que a recomendação de ficar em casa permanece. 

“Esse modelo de isolamento intermitente foi adotado considerando alguns dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) e a situação atual do município e do Estado. Foi feita uma classificação de risco, e estamos liberando o comércio considerado de baixo risco. Esse comércio vai ser monitorado com indicadores sanitários não só do município, mas regionais. Por exemplo, Pedro Leopoldo depende se Belo Horizonte para leitos de terapia intensiva, e os dados de BH serão utilizados nesse monitoramento”, explica.

“Esse modelo vai permitir que a gente, na quarta semana, pare para fazer uma avaliação dos indicadores. A ideia é prolongar essa estratégia, se der certo. Se não funcionar, e isso pode ser no primeiro ou no segundo dia, podemos retroceder com medidas mais duras”, esclarece. 

Atualmente, Pedro Leopoldo tem um caso confirmado de coronavírus e um óbito suspeito em investigação. Há ainda 238 casos suspeitos da doença na cidade.