Diagnóstico confirmado

Coronavírus: Como é viver em isolamento e com os sintomas da doença?

Entre os sintomas mais comuns estão febre, tosse, coriza e dor de garganta, mas há pacientes que relatam dores no corpo e perda de paladar e olfato

Por Thaís Mota
Publicado em 25 de março de 2020 | 03:00
 
 
 
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Além da dificuldade imposta pelo isolamento social, os pacientes testados positivos para o novo coronavírus têm de lidar também com os sintomas provocados pela doença e com o receio de terem infectado outras pessoas até receberem o diagnóstico. 

É o caso do vereador de Belo Horizonte, Gabriel Azevedo (sem partido), de 34 anos,que teve o resultado de seu exame positivo no último dia 17. "Estou isolado há oito dias. Sozinho. Não moro com ninguém. Nunca fiquei tanto tempo sem contato social. Essa é uma parte difícil. A solidão dói", contou.

Gabriel disse ainda que poucos dias antes do teste que, realizou por precaução pois estava assintomático, mas tinha estado com pessoas que testaram positivo, tinha levado o pai de 79 anos para morar com ele no Centro da capital. No entanto, após o diagnóstico de coronavírus, os planos foram alterados e o pai voltou ao seu apartamento onde também está sozinho.

"A sensação de ter contaminado alguém querido é muito ruim. Eu chorei muito pensando nisso. Ele fez outro exame no dia 19 de março. E no dia 23 de março o resultado saiu negativo. Sinal que não o contaminei. Sei que não seria culpa minha. Ninguém quer contaminar ninguém. Todavia, alivia. Ter pessoas idosas na família, e tenho quatro, é uma das maiores preocupações nisso tudo".

Em relação aos sintomas, Gabriel conta que não teve falta de ar como tem sido relatado por muitas pessoas que tiveram a doença. No entanto, por aproximadamente cinco dias teve febre alta, dor e tosse, além de coriza, diarreia e dor na garganta. "Há uma falta de apetite e de disposição", completou.

Nesse período em casa, apesar dos desconfortos da doença, ele diz que tem tentado manter uma rotina de trabalho e também tem acompanhado as notícias sobre a pandemia no Brasil e no mundo. "Mantenho contato com os demais vereadores num grupo de WhatsApp e há uma comissão criada para o tema da qual participo. Além da vida pública, há ainda as outras funções que desempenho profissionalmente e tento manter essa rotina remotamente".

Isolamento a dois

Testado positivo para coronavírus logo que retornou de férias de Nova York, o apresentador de TV, João Henrique Eugênio, de 28 anos, teve sintomas mais fortes da doença. Ele conta que começou a se sentir mal ainda durante a viagem e chegou a procurar atendimento médico nos Estados Unidos, mas a suspeita de coronavírus foi descartada. 

Eugênio saiu do país no dia 10 de março, quando a situação da doença poe lá ainda não tinha atingido níveis preocupantes como agora. Hoje, a Organização Mundial da Saúde (OMS) já vê os Estados Unidos como possível novo epicentro de coronavírus e o estado de Nova York concentra o maior número de casos da doença em território americano. Até segunda-feira (23), já eram 20.875, um aumento de 38% em relação ao dia anterior.

Ainda no exterior, ele sentiu forte de dor de garganta, diagnosticada como sendo uma inflamação provocada por vírus. Ele então foi medicado e retornou ao Brasil. Durante a viagem sentiu algum mal-estar, mas, inicialmente atribuiu ao cansaço de longas horas de voos e escalas. Porém, ao retornar a Belo Horizonte, o desconforto não passou e ele decidiu ir a um hospital.

"Eu fiz o teste, mas o resultado só saiu após sete dias. De toda forma, pelos sintomas que eu descrevi, que naquele momento eram febre, dor no corpo e tosse, o médico já me colocou em isolamento por sete dias. E, após sair meu resultado positivo, ele me mandou ficar mais uma semana em casa, totalizando 14 dias", contou.

Eugênio viajou com o namorado Thiago Romano, de 38 anos, cujo exame resultou em "indetectado" para a presença do novo coronavírus. Porém, atualmente, ambos apresentam os mesmos sintomas e estão juntos em isolamento no apartamento de um deles no Sion, região centro-sul da capital. 

Além de febre, tosse, nariz congestionado e dor de garganta, Eugênio também relatou falta de ar, dores de cabeça semelhantes às descritas em casos de sinusites e perda do olfato e do paladar. "Não sinto cheiro nem gosto de nada, e eu tenho um programa de gastronomia, então adoro cozinhar, mas agora estou cozinhando no escuro e tenho que ficar perguntando ao Thiago se precisa mais sal ou não". 

Desde o diagnóstico, ele tem sido acompanhado por um médico da Secretaria Municipal de Saúde de BH que liga para saber a evolução do quadro. Também procurou seu plano de saúde que, atualmente, tem oferecido acompanhamento aos pacientes de maneira remota. A princípio, o isolamento do casal termina nos próximos dias, mas a orientação dos médicos que os acompanham é que permaneçam em casa se ainda apresentarem qualquer sintoma. 

O casal cumpre a quarentena na casa de Thiago, que mora sozinho. No entanto, logo que chegou de viagem o apresentador de TV esteve com os pais e agora teme que também tenha contaminado a família. "Meu pai e minha irmã já apresentam alguns sintomas mas não conseguiram fazer o exame ainda. Já minha mãe, que foi com quem mais tive contato, ainda não apresentou nada e talvez seja assintomática".

Há 12 dias sem sair de casa, ele conta que o isolamento é difícil, mas no começo foi ainda pior. "Agora talvez eu já esteja me acostumando, mas os primeiros sete dias foram muito ruins, acho que também porque não sabíamos o resultado do exame". Ele acrescenta ainda que é ruim depender de outras pessoas para tudo "Já chegamos e fomos para o isolamento e estamos contando com ajuda para as compras porque não tínhamos nada em casa. As compras são colocadas no elevador e a gente pega aqui em cima, pra não ter contato com ninguém".

Orientações 

Segundo o Ministério da Saúde, os principais sintomas do coronavírus são febre ou pelo menos um sinal ou sintoma respiratório (tosse, dificuldade para respirar, produção de escarro, congestão nasal ou conjuntival, dificuldade para deglutir, dor de garganta, coriza, entre outros).

Nestes casos, a orientação do médico infectologista Carlos Starling, que integra o Comitê de Enfrentamento à Epidemia do Covid-19 em Belo Horizonte, é que as pessoas fiquem em casa e tomem os mesmos cuidados que tomariam em uma gripe normal. 

"A recomendação é tomar bastante líquido, fazer repouso e pode tomar algum anti térmico à base de dipirona ou paracetamol, pode fazer gargarejo com água morna, sal e limão ou usar pastilhas para eventual desconforto na garganta. Mas, o mais importante é ficar atento à dificuldade de respirar e também à febre alta e que não passa porque, nesses casos, é preciso procurar atendimento médico", alertou.

Outro cuidado reforçado pelo infectologista é a realização do auto isolamento dentro de casa, para evitar de transmitir a doença, seja ela uma gripe ou o coronavírus. “Especialmente, se o paciente mora ou convive com idosos ou pessoas diabéticas ou hipertensas, que formam o grupo de risco da Covid-19”.

Starling orientou ainda que, caso haja necessidade de auxílio médico, a população deve ir à Unidade Básica de Saúde (UBS) mais próxima de sua residência, ou, se o caso for mais grave, o paciente pode procurar uma Unidade de Pronto-Atendimento (UPA). Caso haja necessidade, os próprios profissionais de saúde farão o encaminhamento até um hospital.

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